“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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16.2.10

Oportunidade Desperdiçada

Já passou quase uma semana sobre a entrega desta petição na Assembleia da República. Vi uma breve reportagem na televisão do acontecimento que contou com apenas umas poucas dezenas de pessoas, apesar dos apelos nos blogues. Olhando para trás tenho de concordar com o que escreveu, no dia seguinte, João Távora aqui no Corta-Fitas:

Independentemente de considerar que iniciativa de ontem Todos Pela Liberdade cumpriu o seu desígnio, a fraca mobilização das pessoas para a rua confirmou aquilo que sempre afirmei sobre os limites da influencia dos blogues no mundo real. Não desmerecendo as suas obvias virtualidades, principalmente na democratização da escrita em geral e da opinião em particular; esta plataforma em termos imediatos funciona para um circuito fechado, em grande parte constituído pelos próprios intervenientes. É de forma indirecta que o que dela transpira chega ao país real. Devagar, mas chega; coisa que lhe retira competência para per si mobilizar acções de rua. Estas para serem bem sucedidas, necessitam de, além doutras ferramentas comunicacionais complementares, recursos logísticos e financeiros apenas acessíveis às instituições bem implantadas, sindicatos ou partidos. Claro está que uns autocarros, umas bifanas e umas cervejas serão sempre um selo de garantia para o sucesso.

Ter razão (no sentido de acreditar que) não basta. Ter razão e ter vontade pode inebriar, mas continua a ser manifestamente insuficiente. Uma boa ideia que faz disparar o entusiasmo (e ainda bem) é apenas, e na melhor das hipóteses, um bom começo. Um pouco, realismo, sentido das proporções e humildade são sempre úteis para todos e em todas as circunstâncias. T-shirts brancas só aumentam o folclore, e tiram dignidade e força à boa ideia.

Dito isto tiro duas conclusões. A primeira é que no “mundo real” a mobilização ainda está nas mãos de poucos: estruturas partidárias, sindicatos, e claro, a Igreja Católica (que não sei como o João Távora se esqueceu de mencionar). A segunda é que, lamentavelmente, e contra a minha vontade, não posso impedir-me de pensar que, do ponto de vista político, a petição (que assinei, repito) e respectivo gesto simbólico, a manifestação para a sua entrega na Assembleia da República, foram – to say the least - uma oportunidade desperdiçada.

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