“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
holehorror.at.gmail.com

27.11.09

Questões de Semãntica

Ouvi (SIC) José Sócrates em declarações para a televisão chocado com as propostas dos partidos da oposição para “aumentar a despesa” referindo-se às votações hoje na AR. Até disse que a oposição era “desleal” naquele seu jeito self-righteous de repudiar tudo e todos os que não estão em sintonia consigo e lhe atrapalham o optimismo. O Primeiro-ministro acha que tem jeito para brincar com as palavras, mas a semântica saiu-lhe, mais uma vez, toda errada.

É que “aumentar a despesa” tem pouco a ver, quer política quer financeiramente, com “diminuir a receita”, sobretudo uma receita construída com base num cenário fantasioso e pensado para uma célere diminuição do deficit (que noutro abuso semântico chamarão “recuperação económica”) que a UE exige, bem como o clima de permanentemente eleitoralismo em que o país se encontra com a perspectiva de eleições antecipadas que teima em pairar. Os partidos da oposição não quiseram “aumentar a despesa”, nem foi isso que foi votado. Recusaram-se sim a sancionar um “conforto” da receita aumentando a sobrecarga fiscal para os contribuintes e empresas cada vez mais estrangulados.

Este volte-face hoje no parlamento em que o governo esteve sempre isolado, irá obrigar o governo, o Primeiro-ministro, Ministro Teixeira dos Santos e restantes responsáveis a encarar a realidade que têm procurado não ver, tão iludidos que estão com o país do optimismo em que os contribuintes podem sempre ser um pouco mais espremidos para pagarem os erros de uma má governação e de uma política orçamental despesista feita a pensar em eleições (nas que foram e nas que hão-de vir). Mas controlar a despesa é muito mais “chato” e impopular do que aumentar a carga fiscal, não é?

Là-bas, Je Ne Sais Pas Où... 2



Félix Duban (1797-1870)
Hôtel Galliera, projet de décoration pour un salon de musique
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Eu, que não percebo nada de Direito, pergunto-me qual destas fugas ao segredo de justiça é mais grave: o aviso aos suspeitos do caso Face Oculta que estavam a ser escutados, ou a divulgação de uma (pequeníssima, ao que se diz) parte dessas mesmas escutas?

Adenda: Tem toda a razão. Aqui.
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26.11.09

Là-bas, Je Ne Sais Pas Où...

Là-bas, je ne sais pas où...

(...)
Nunca voltarei porque nunca se volta.
O lugar a que se volta é sempre outro,
A gare a que se volta é outra
Já não está a mesma gente, nem a mesma luz, nem a mesma filosofia.
(...)

Álvaro de Campos, Poesias

A Queda do Muro de Berlim e os Anos 80 (uma visão)

A propósito da comemoração dos vinte anos da Queda do Muro de Berlim, relembrei a década de oitenta, agora que a distância o permite fazer melhor, e imagens sucederam-se com aquela boldness e brilho tão típicos desses anos. A Queda do Muro de Berlim foi o mais entusiasmante, eufórico e simbólico momento político que vivi. Nesse período, em que vivia fora de Portugal, a sensação de “não retorno” era de tal forma poderosa que sabíamos que o mundo, tal como o conhecíamos, tinha acabado, abrindo o caminho para um outro, aquele que hoje conhecemos. Se a década de setenta passou por mim, a década de oitenta foi já vivida e com a intensidade própria de quem agora tem “uma vida” para viver.

A primeira imagem que me surge quando penso nos anos 80 é a de cor, muita cor. Os anos 80 foram coloridos. Para nós em Portugal esse “colorir” tem ainda mais significado pois coincide com a abertura do mercado nacional a produtos e lojas estrangeiras e com o nível de vida dos portugueses a melhorar de forma visível. Um dos exemplos desse “colorir” foi a chegada das lojas Benetton às nossas cidades e das suas camisolas a inundarem as nossas ruas. Até então elas só enfeitavam as cidades estrangeiras que visitávamos, tanto que ter uma camisolas Benetton era (quase um objectivo de viajem) um sinal de modernidade e de cosmopolitismo. A adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia, foi um passo decisivo na abertura do país à Europa, ao mundo, e claro ao consumismo. Outra face dessa “cor” foi o despontar dos "shoppings" e do universo dos hipermercados (a abertura do primeiro Continente foi em 1985). A escolha, a abundância e o consumismo são agora realidades e depressa se tornam hábitos, num país que viveu a aforrar e fechado sobre si durante décadas. Tudo isto acontece ao som de Rui Veloso que revoluciona a música portuguesa, trazendo à ribalta novos talentos que aprendemos a não ter vergonha de gostar.

Portugal na CEE era um desejo nacional, um objectivo político que ao realizar-se a 1 de Janeiro de 1986 se torna motivo de orgulho de todos os portugueses que, finalmente, passam a ter a sensação de que Portugal afinal conta. Cavaco Silva é eleito Primeiro-ministro e o país transforma-se de forma nunca vista.
(Continua)
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25.11.09

Amanhecer 19

Outro Amanhecer. Este é de hoje. Afinal, que culpa tenho eu que o mundo seja um local bonito, e que o sol nasça e se ponha todos os dias?
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Para que não se perca o sentido das proporções e a noção das coisas. E como se usa dizer: não poderia ter sido melhor dito. Aqui.
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24.11.09

Francisco José Viegas diz tudo neste post (e links). Só não percebi essa subtileza política que é a palavra “confronto”. Parece-me, (comme d’habitude), bom trabalho concertado: um alisa o terreno (ainda iremos ver os indispensáveis e modernos truques de comunicação e marketing político, inventando palavras, anunciando, contornando promessas e instituindo inverdades) para o outro depois poder passar com a carroça. Nós, ao vê-los passar, seremos obrigados a atirar uma ainda maior quantidade das nossas moedas de ouro para que a carroça se encha cada vez mais e eles possam “redistribuir” toda a nossa riqueza conforme decidirem.

Nada que surpreenda. Manuela Ferreira Leite, que olhava para o país sem fantasia nem delírio, parece que tinha um discurso “pela negativa” e desajustado, assim o povo, os comentadores e demais politólogos decretaram e assim se votou com nojo de tanto negativismo e “bota-abaixismo”. Agora que não se queixem do optimismo.

Entardecer 12

Hoje
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22.11.09

Face Oculta da Verdade

O arquivamento das oito certidões extraídas do processo Face Oculta, contrariando as decisões dos magistrado de Aveiro e Coimbra (que presumivelmente carecem todos bom senso e capacidade de avaliação), com conversas entre Armando Vara e José Sócrates, é o desfecho esperado de um processo, que tal como todos os outros, nunca conhece soluções. As conversas entre JS e AV pouco interessariam se eles fossem cidadãos comuns sem responsabilidades politicas e de Estado, como é o caso. Um é o Primeiro-ministro de Portugal e o outro é um amigo seu que, tal como ele, subiu na vida pública e ocupou cargos de relevo politico, nomeadamente o último, à custa de militâncias politicas, e não de um curriculum profissional sólido. Assim sendo o teor das escutas é relevante politicamente e não pode ser ignorado uma vez que demonstra uma ilegítima interferência do governo na esfera privada e uma tentativa de controle da comunicação social. Os habituais “senãos” processuais em que qualquer investigação em Portugal encalha não pode deixar de frustrar o cidadão que gostava, mas já nem ousa esperar, de, por uma vez, saber onde pára a verdade.

No nosso pais, há crimes, mas não há criminosos. Prova-se o abuso de crianças na Casa Pia, mas ninguém (à excepção de Carlos Silvino) os cometeu. Há tráfego de influências, (visíveis em casos pouco claros de adjudicações directas, interferências na comunicação sócial através de estranhas coincidências, etc) mas ninguém influência ninguém nem coisa nenhuma. Há corrupção, (operações financeiras ilícitas, abuso de confiança, lavagem de dinheiro, enriquecimento rápidos e inexplicáveis), mas nunca se encontram corruptos. A verdade acaba sempre perdida de tal forma se embrulha e escamoteia, se enreda em demoras e complexidades processuais. A verdade perde-se da nossa vista e no meio das demoras e complexidades até nos esquecemos do que realmente está em causa.

Talvez porque, lamentavelmente, a verdade é o que menos interessa: às pessoas em causa, (que mais parecem decidir como se estivessem num concurso de popularidade, e não em consciência): ao Procurador-geral da República, aos magistrados que podem ver as suas carreiras congelas (caso Rui Teixeira) por se envolverem com figuras do poder, e a muitos políticos e gestores/empresários de diversos sectores que vivem da promiscuidade entre empresas, influências e poder. Chegamos, enquanto país e percepção colectiva, a um ponto em que se acha normal e natural e não merecedor de esclarecimentos que o Primeiro-ministro tenha as conversas que teve com Armando Vara (e falo só do que conheço, que desconhecemos o teor de todas as outras, mas a amostra basta para acabar com a inocência). Acha-se normal que o Primeiro-ministro passe a vida envolvido em processos de legalidade duvidosa.

Tanto é assim que os portugueses continuaram a votar nele. Eu, que não votei em José Sócrates, continuo a lamentar a escolha prioritária dos eleitores na qual não me revejo como há muito não me acontecia. Continuo, infelizmente, a confirmar a pouca exigência esperada perante quem ocupa em Portugal cargos de Estado.

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18.11.09

Entardecer 11

Hoje
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Se dúvida houvesse sobre a intencional, gradual, mas bem visível tabloidização do Público, elas dissipar-se-iam com a primeira página de hoje. O grafismo da edição impressa de hoje tem pouco que ver com a do jornal de referência que o Público pretende ser, pois o jornal de hoje já quase parece um prospecto publicitário do Continente. Mais um esforçozinho e fica tal e qual.
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15.11.09

Coisas que se podem Fazer ao Domingo 43

Sandro Chia
The Idleness of Sisyphus
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Das Escutas


Nos últimos dias tenho-me lembrado frequentemente da série The Wire (ainda não vi todas as temporadas), onde, tal como o nome indica, grande parte da investigação feita e da prova encontrada tem por base escutas. Desde o processo inicial de as requerer e de conseguir uma autorização para as fazer, até aos dilemas finais de “o que fazer com tudo o que se escutou”, nada escapa ao espectador. O grande problema das escutas é que revelam sempre muito mais do que aquilo que os investigadores pretendem e muito mais do que aquilo que a justiça quer e/ou precisa. É como se ao querer provar algo, se encontrassem pedaços de outras histórias (crimes) tantas vezes piores do que aquela que inicialmente se pretendeu investigar.

Começam por investigar um problema de droga, e sem saber como deparam-se, por exemplo, com ilegalidades no financiamento de campanhas politicas. O problema seguinte é decidir se se opta por limitar a investigação aos crimes inicialmente sob suspeição ou se se começa a seguir o rasto do dinheiro abrindo provavelmente investigações sobre corrupção, tráfego de influências, etc. Com tantas pontas soltas e tantos caminhos apontados, os investigadores, o Ministério Público e os tribunais ficam perante dilemas que preferiam não ter, e casos que preferiam ignorar. Casos mais complexos e que mexem demasiado nos interesses instalados em que todas as partes acabam por se encostar. Castigar uns crimes violentos, expor a droga apreendida numa mostra de competência, é sempre bem visto e dá mostras à sociedade de que a polícia de investigação funciona. Mas sempre evitar investigações posteriores das novas pistas reveladas quando podem por em causa ou fragilizar o "sistema" e incomodar quem investiga ou quem acusa.

Destruir escutas, não seguir o rasto do dinheiro, arquivar processos por falta de prova, são sempre soluções que permitem evitar grandes sobressaltos políticos (quer no mundo politico quer no económico e financeiro) e que permitem grande tranquilidade ao Ministério Público e aos “so called” serviços de justiça.

Claro que qualquer semelhança entre o descrito, inspirado no The Wire, e o caso Face Oculta, o caso Freeport, o caso Casa Pia ou tantos outros que conhecemos, é mera coincidência.
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12.11.09

Do Fascínio

Hoje na rádio já ouvi falar em “alegadas conversas” quando se referiam às conversas entre José Sócrates e Armando Vara que foram escutadas no âmbito do processo Face Oculta” e que sempre foram "conversas" sem o indispensável "alegadas" . (Que seria deste país sem alegados?). Não, não são as escutas que são “alegadas escutas” (uma vez que há o problema de serem ou não válidas do ponto de vista jurídico) são as conversas, aquelas que existiram mesmo, pois foram escutadas, que são “alegadas”. Estes mecanismos comunicacionais (e não só) de distanciação do real fascinam-me.
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11.11.09

Amanhecer 18

Hoje
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Não é a questão jurídica de se se devem ou não deve considerar nulas as escutas telefónicas entre José Sócrates e Armando Vara que me interessa. A questão politicamente relevante é ter um Primeiro-ministro a quem passa pela cabeça falar e considerar interferir numa questão que é estritamente do âmbito do mundo das empresas privadas. Esta conversa vinda a lume, e fazendo fé no que a comunicação social nos diz, só confirma a já conhecida tendência dos nossos actuais detentores de cargos públicos, em particular de José Sócrates, para usar a sua influência e o seu poder interferindo de forma pouco legítima, e de acordo com as suas conveniências circunstanciais, na esfera das empresas privadas condicionando-as. Uma sociedade só é politicamente saudável e economicamente viável quando o mundo privado está impermeável às pressões politicas. Independentemente do resultado jurídico ou processual do caso das escutas no âmbito do processo “Face Oculta” (que tanto se tem debatido na comunicação social), a questão política mantém-se e dela pouco se fala apesar de estar (devida ou indevidamente, não sei, nem me interessa) a nu na comunicação social. A contenção e a não-interferência dos órgãos de soberania perante matérias do foro privado deveria ser uma segunda natureza para qualquer pessoa que ocupe um desses cargos. E não é. Como se vê este caso do conteúdo dos telefonemas escutados, esta é também uma forma de asfixia democrática, uma expressão ultimamente vetada pela onda comunicacional, às más lembranças e à má fama apesar de se manter actual, infelizmente.
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6.11.09

Há dois dias
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Mais Abaixo

De cada vez que se publica (divulga) um estudo internacional, Portugal está cada vez “mais abaixo”. Hoje está mais abaixo na taxa de investimento estrangeiro. Há semanas anunciou-se estar 14 lugares “mais abaixo” no índice de liberdade de imprensa, posteriormente também ficou “mais abaixo” no índice que mede as disparidades entre os sexos. Prevê-se que fique também “mais abaixo” na taxa de crescimento económico cuja média europeia para 2010 será de 0,7%. Só com a previsão do deficit a crescer podendo atingir os 8% em 2010, se contraria, como se isso fosse consolo pois é da pior maneira possível, a tendência “mais abaixo”. José Sócrates continua a bater no pessimismo e no bota-abaixismo, mas parece que ele é o grande responsável por estes números cada vez “mais abaixo” que afundam inexoravelmente o país em áreas tão diversas e díspares. É uma realidade “bota-abaixista” do país, aquela que José Sócrates construiu, se recusa a ver e quer continuar a construir. Os portugueses continuaram a votar nele, o suficiente para fazer um governo, por isso não se podem queixar.

Perante esta fatalidade nacional fala-se de casamento entre pessoas do mesmo sexo, de avaliação de professores, de TGV, em suma: o que o país merece.

Ontem, Miguel Sousa Tavares na TVI pôs o dedo na ferida elogiando a intervenção da líder da oposição, sobre o deficit e a insustentabilidade económica do país. Ao contrário do que a televisão (nomeadamente a SICe a TVI) mostram – Paulo Portas - quando em voz off falam de oposição, MST sabe que é Manuela Ferreira Leite e o "seu" PSD com quase o triplo da votação do CDS-PP, a líder da oposição. Essa estranha e persistente atracção (ou má-fé?) da comunicação social por Paulo Portas em detrimento e contra MFL, de tão óbvia, já cansa. Mas, voltando a MST, ele indignou-se perante a indiferença do executivo face à situação económica e financeira do país e à resposta, que ficou por dar, quando o Primeiro-ministro foi interpelado por MFL. José Sócrates continua a não dar respostas. Como sempre.

Também o comentário de MST ontem teve um outro momento de destaque quando falou sobre a corrupção em Portugal e a descreveu não tanto como corrupção de grande dimensão, mas sim como um enraizado e tentacular tráfego de influência e permanente promiscuidade entre o Estado e as empresas participadas ou não pelo Estado. Todos fazem favores a todos, todos “dão um jeito” a todos, todos beneficiam da complacência de todos e da longa e generosa mão estatal através de lugares dados, concursos ganhos, subsídios atribuídos, etc. Mal mesmo fica quem, longe desses “esquemas”, paga imposto, desconta para uma segurança social sem saber se terá retorno um dia, nunca recebe subsídio e nunca mereceu (nem deveria, note-se), ao contrário de tantos outros ali mesmo ao lado, um átomo de atenção do estado.
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2.11.09

São Rosas, Senhor... 8

Andy Warhol
Untitled from Flowers
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Ainda estou sem perceber de que posts mais gostei nestas últimas semanas, particularmente inspiradas, digo eu, dA Natureza do Mal. Se deste, ou deste, ou deste, ou deste, ou de um dos outros.
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A propósito de editorias de jornais – ou outras publicações - serem ou não assinados, Eduardo Pitta lembra aqui alguns casos de publicações estrangeiras nomeadamente o Economist em que os editoriais não são assinados. No entanto esquecece de referir que a linha editorial do Economist, (e de tantas outras publicações sobretudo anglo-saxónicas) é “crystal clear”: liberdade, liberdade individual, direito de escolha, mercado aberto livre e concorrencial, impostos reduzidos, e que o Economist, onde também não existem artigos assinados, toma sempre uma posição, também ela “crystal clear” e devidamente explicada e justificada em momentos que considere relevantes: eleições no Reino Unido ou nos EUA, para dar exemplos políticos. Não existem “estados de alma” editoriais, mas opções claras sem a conversa de chacha que o editorial do Público ontem nos impingiu e que fala em coisas vagas e que servem tudo e todos de acordo com a necessidade do momento. Senão que é que é isso de “queremos interrogar o mundo. Daremos expressão a todos os pontos de vista, mas afirmaremos os nossos”?
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1.11.09

Coisas que se Podem Fazer ao Domingo 42

Emile-Antoine Bourdelle (1831-1929)
Héraklès tue les oiseaux du lac Stymphale


Matar aves de formas bizarras.
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Ídolos de Nada

Sinto-me sempre um pouco constrangida quando vejo programas tipo Ídolos (SIC; hoje à noite) que geram ondas de entusiasmo e que lançam novos talentos a quem prometem um futuro radioso. De facto, revelam apenas a nossa pequenez. A pequenez mental e a pequenez do nosso mercado e da nossa capacidade de “aproveitar” algum real talento que venha a ser relevado. Portugal é assim: pequeno. E nos locais pequenos não cabem todos. Nem chega a ser má-vontade, é quase uma questão física: não há espaço para todos. Dizem que nos EUA e noutros países, nomeadamente em Espanha alguns, senão todos, dos 12 finalistas destes concursos têm uma carreira de sucesso assegurada, há exemplos de muitos que hoje são mundialmente conhecidos: Leona Lewis, David Bisbal ou Jennifer Hudson que até já conta com um Oscar. Aqui nada disso acontece: com excepção da Luciana Abreu, que de cantora passou a ser actriz, nomeadamente a Floribela, também foi (ainda é?) sex-symbol, namorada ou não de algum futebolista, e não-sei-que-mais, não me lembro (serei eu distraída?) de nenhum finalista, nem sequer de um vencedor desses concursos tipo Ídolos ou Operação Triunfo que tenha mesmo triunfado e construído uma carreira com alguma visibilidade e credibilidade, apesar de mostrarem talento. Os concursos podem fazer audiências, mas não fazem nem triunfos nem ídolos de coisa nenhuma. O seu objectivo é uma mentira que os milhares de jovens que acorrem aos castings não querem, ou não sabem, perceber.

Depois há sempre aquele momento penoso em que tantos concorrentes fazem figura de parvos (começam cedo) cantando sem saberem o que isso é. Será que a vontade de ter esses 15 minutos (neste caso segundos) de fama se sobrepõe a qualquer tipo de bom senso e a um julgamento minimamente racional da parte dos concorrentes e de quem os incentiva a ir “tentar a sorte”?
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Para além da suposta percepção pública de um excesso de peso ideológico no jornal (o quê?), temos também,

os editoriais, (que) a partir de hoje, deixarão de ser assinados. Os editoriais expressarão o pensamento desta direcção e deste jornal sobre o mundo que procuramos descrever, compreender e analisar página a página. (...) Há 20 anos, quando nascemos, foi decidido que os editoriais seriam assinados com base em duas ideias: seriam mais acutilantes e comprometeriam apenas o seu autor. Hoje sabemos que essa ideia original se tornou utópica e que um editorial compromete todo o jornal - é a cara do jornal - e não pode, por isso, ser veículo da opinião de uma só pessoa.

Desconfio sempre quando se substitui a liberdade e a responsabilidade individual por um colectivo amorfo (que outra coisa pode ser o “pensamento de um jornal como instituição”? Seria bom defini-lo já) que nunca se sabe bem o que é nem quem é, mas onde fermenta sempre um caldinho morno que alimentará quem for preciso alimentar aqui e ali. Domage.

E que dizer desta conversa de chacha: Não queremos doutrinar nem vender receitas. Queremos interrogar o mundo. Daremos expressão a todos os pontos de vista, mas afirmaremos os nossos? Julguei que o Jornal Público cujos leitores são os mais exigentes, tivesse uma já maturidade que dispensasse este tipo de conversa típica da pós-adolescência (sem desprimor para a dita). Enganei-me.
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