“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
holehorror.at.gmail.com

30.5.10

Coisas que se podem Fazer ao Domingo 51



Mudar de Blogue. Agora estou aqui: Os Tempos e as Vontades



26.5.10

Breve História de um Magalhães

Com o entusiasmo e urgência de quem quer uma caderneta de cromos do mundial, pede um Magalhães. Os argumentos contra são enumerados, são claros, são imbatíveis, são inflexíveis. Segue-se uma crise quase existencial que se ignora estoicamente. Um dia vem o argumento a favor, último e arrasador: a professora perguntou se já todos tínhamos o Magalhães porque mais tarde vamos usá-lo, e já todos (um todos que carrega o peso do mundo) têm, menos eu – dito com a raiva própria das grandes vítimas da injustiça. Semanas depois chega o Magalhães. Desfaz-se o pacote e liga-se o computador com o entusiasmo de sempre. Explora-se o seu potencial (tão limitado, não é?) e jogam-se os jogos, que fáceis demais, depressa se esgotam. Poucas semanas depois, menos do que as semanas que demora a esquecer a caderneta de cromos, o Magalhães dorme sono profundo num canto esquecido, quem sabe à espera que a professora o chame. Já passaram quase dois anos. Houve eleições, crise, mudança de prioridades, mudança de Ministra de Educação. A professora nunca mais falou do Magalhães, nunca o pediu, nunca o utilizou. Ainda bem.

24.5.10

La Chartreuse de Parme

La politique dans une oeuvre littéraire, c’est un coup de pistolet au milieu d’un concert, quelque chose de grossier et auquel pourtant il n’est pas possible de refuser son attention.

Nous allons parler de fort vilaines choses, et que, pour plus d’une raison, nous voudrions taire; mais nous sommes forces d’en venir à des évènements qui sont de notre domaine, puisqu’ils ont pour théâtre le coeur des personnages.

(...) De tout ceci, on peut tirer cette morale, que l'homme qui approche la cour compromet son bonheur, s'il est heureux, et dans tous les cas, fait dépendre son avenir des intrigues d'une femme de chambre.

Stendhal, La Chartreuse de Parme

18.5.10

Plataforma Contra a Obesidade 59

William Bailey (1930)
Mercatale Still Life

Um Governo Que Não Governa

Em tempos difíceis como os que atravessamos, esperava-se alguma “gravitas” por parte de quem nos governa, juntamente com algum sentido de estado. Esperava-se que o peso da responsabilidade pela incapacidade de ter políticas que impedissem o pais de chegar ao estado de pré-abismo que chegou tocasse de uma forma ou de outra o Primeiro-ministro e ele sentisse a urgência de repensar o país. Esperava-se que, juntamente com o seu governo, fizessem alguma política, estudassem e propusessem reformas estruturais que a médio e longo prazo permitissem ao país sentir uma diminuição real do peso financeiro do estado e sentir redobrada eficiência dos serviços públicos. Esperava-se que pensassem para além do imediato “como sair deste sufoco já”, (UE/Alemanha exige) e que resolvem com a medida mais fácil que é o aumento de todos os impostos e criação de novos. Esperava-se que percebessem o que se está a passar com a crescente perda de independência e poder de decisão dos governos nacionais para a UE/Alemanha. Esperava-se que o governo percebesse que com estas medidas fáceis de aumento de carga fiscal é cada vez menos atraente ser empreendedor e criar riqueza, e que a classe média está a ficar cada vez mais pobre. Esperava-se que o corte de custos do Estado não fosse inteiramente suportado pelos contribuintes. O país espera e precisa de soluções que o permitam ser económica e financeiramente viável.

Para isso o governo na pessoa do Primeiro-ministro tem que governar, coisa que não faz há mais de um ano quando o país político entrou em época eleitoral. A irresponsabilidade, leveza e vazio que o caracterizam continuam, e ao contrário de governar, o Primeiro-ministro mantém a sua agenda de habituais sessões de propaganda, cada vez mais patéticas e falsas (esta última em “espanhol técnico” para nossa vergonha). Continua o seu discurso sobre energias alternativas, novas tecnologias, tecnologias de informação, numa infantilização do seu cargo que cada vez mais custa ver. Sobretudo porque pouco sobrou das tantas “medidas” reformistas (como ela lhes chamava) do seu primeiro mandato. A sua credibilidade está ferida, como pessoa e como Primeiro-ministro. Os acumular de casos passados, os seus amigos, a sua família e os cada vez mais numerosos casos políticos de “inverdades”, manipulação de informação (este é o mais recente) contradições, avanços e recuos, e desmentidos (um exemplo recente aqui) tornam difícil a tarefa de disfarçar a sua fragilidade, e o custo de o manter como Primeiro-minitro é cada vez mais evidente. Portugal precisa de quem o governe e não apenas de quem reaja, e mal.


16.5.10

Bento XVI em Portugal 5

A fotografia que faltava:

Helicóptero de Bento XVI a sobrevoar o Cristo-Rei (12/05/10)

Confesso que, depois de ver isto e de ler os elogios de Mário Soares ao actual líder do PSD, senti mais do que nunca a falta (ou as saudades políticas, se é que isso existe) de Manuela Ferreira Leite, do seu ar seco e do seu estilo nada “perdoa-me”. Ela nunca seria elogiada assim por Mário Soares.

15.5.10

Bento XVI em Portugal 4

Porto

Mas, se esta certeza (“Eu estarei sempre convosco até ao fim do mundo” (Mt 28, 20)» (Bento XVI, Enc. Caritas in veritate, 78)) nos consola e tranquiliza, não nos dispensa de ir ao encontro dos outros. Temos de vencer a tentação de nos limitarmos ao que ainda temos, ou julgamos ter, de nosso e seguro: seria morrer a prazo, enquanto presença de Igreja no mundo, que aliás só pode ser missionária, no movimento expansivo do Espírito. Desde as suas origens, o povo cristão advertiu com clareza a importância de comunicar a Boa Nova de Jesus a quantos ainda não a conheciam. Nestes últimos anos, alterou-se o quadro antropológico, cultural, social e religioso da humanidade; hoje a Igreja é chamada a enfrentar desafios novos e está pronta a dialogar com culturas e religiões diversas, procurando construir juntamente com cada pessoa de boa vontade a pacífica convivência dos povos. (Aqui)

Bento XVI em Portugal 3

Porto

Vaidade e Orgulho

Nos dias que passaram, a minha prioridade noticiosa foi, clara e inequivocamente, acompanhar tanto quanto possível a visita do Papa Bento XVI e a sua mensagem, através das várias visitas, encontros, homilias e discursos. Queria que o mundo e o seu ruído tivessem parado por uns dias não só para aumentar a disponibilidade mental como para dar mais espaço interior a essa viagem pelas faces do catolicismo que cada dia nos eram dadas ver. Não pude escapar totalmente pois a semana que passou foi fértil em importantíssimas decisões políticas para combater “a crise” e em jogos comunicacionais diversos. Tempo haverá, infelizmente, para os digerir e sobre eles me insurgir e desabafar.

A rápida passagem de Bento XVI no Porto comoveu-me. Porque o Porto estava lá, estava como nós sabemos que ele é: a chuva miudinha, a neblina sobre as pontes e o rio, o cinzento, as fachadas de pedra dos edifícios, as gentes que sabem acolher como ninguém (assim queiram), as varandas engalanadas (a da Câmara Municipal estava particularmente bela) e cheias de pessoas símbolo de uma vida que vem “de dentro”, a estrutura para o altar de linhas sóbrias, os painéis de madeira no fundo, bem como o belíssimo altar e cadeiras de madeira, frutos de trabalho de artesãos do norte dando uma nota do conforto burguês bem nortenho num dia em que o tempo não se fez clemente. A eucaristia teve uma dimensão de intimidade e de interioridade que raramente acontece em missas campais, mas reparei que todos os detalhes litúrgicos foram cuidados (evangelho declamado, coros de altíssima qualidade, paramentos...) o que contribuiu para a solenidade do momento, num ambiente de simplicidade.

Confesso que na emoção e vaidade (um pecado, dizem) portuense do momento me perguntei se o Papa repararia na qualidade daquele trabalho que o norte lhe oferecia. Depressa tive a resposta: no momento, a seguir à eucaristia, que o papa dedicou (visto na televisão em directo) a cumprimentar o jovem sacerdote (?) dono de uma voz excelente e que cantou o evangelho, e depois ao ler que o Papa pedira a cadeira em que descansara depois da missa no Porto. Razões para a vaidade e orgulho.

12.5.10

Porque é que José Sócrates não segue, por uma vez, aquele líder europeu que tanto o inspira? Zapatero já anunciou de forma clara as suas medidas de corte da despesa pública. Mas, com a suave conivência de um PSD que se revela no seu oco esplendor político, o caminho mais fácil será o trilhado: a subida dos impostos e uma dose de optimismo. Perante números satisfatórios referentes ao crescimento económico do primeiro trimestre, a proclama-se Portugal como campeão do crescimento.

Bento XVI em Portugal 2

Imagem daqui

10.5.10

Entardecer 15

Ontem

Ontem adormecemos nauseados com isto, não pelo acontecimento em si, mas pelas horas sem fim nas televisões nomeadamente nos canais informativos, que reduziram a informação a multidões a celebrar o título e opiniões dos populares (um vício do jornalismo primário que nos é fornecido pelas tvs). Um apontamento de dez minutos não chegava?

Hoje acordamos nauseados com isto. E, novamente, as promessas que se quebram, sem honra nem pudor, o que se disse ontem que se desdiz hoje e que amanhã também já será diferente, o ónus sempre do lado do contribuinte, o não percebermos uma política de contenção da despesa do estado, o sem rumo em que vivemos governados por gente desonesta e incompetente.

9.5.10

Bento XVI em Portugal


“A verdadeira missão da Igreja: ‘esta não deve falar primeiramente de si mesma, mas de Deus’”. (pág. 74)

O livro de Aura Miguel, bem organizado em torno de uma estrutura simples e eficaz, parece quase um guia (o essencial sobre...) sobre Bento XVI que nos conduz de forma eficiente e rápida, mas nunca ligeira, quer através do pensamento e preocupações teológicas e pastorais de Ratzinger/BentoXVI (o texto está recheado de citações suas de textos, intervenções e homilias vários e ao longo dos tempos), quer através da sua ligação a Portugal, quer dando-nos a conhecer o lado humano do actual Papa. Um trabalho que, apesar da aparente simplicidade e do pequeno número de páginas, é exaustivo, útil e de fácil leitura. Da vaticanista Aura Miguel.

8.5.10

Sobrevalorizado


Sentia-me um ser extra terrestre por não ter querido ver Inglourious Basterds quando esteve nos cinemas. O desejo de voltar a ser “normal” e a insistência de alguns levaram a melhor e por isso vi o filme recentemente (DVD) e já depois de toda a gente o ter visto e de saber todas as opiniões possíveis, que eram, por acaso quase unânimes: fabuloso, um hino (homenagem) ao cinema, inteligente, etc, etc. Quem sou eu para contradizer tanta unanimidade e sapiência? No entanto, confesso humildemente que o filme não me entusiasmou nem me tocou especialmente. Muito menos me deixou em êxtase ou deslumbrada.

Não apreciei o tema: um pelotão criado à margem da legalidade e da prática bélica aceitável constituído por marginais (ou quase) que se “vinga de nazis” de forma vândala, cruel e inaceitável. É demasiado próximo de uma má realidade para ser boa ficção. O tirar de escalpes ou o “tatuar” de testas não só vem na linha desta lei da selva que serve de pretexto para o filme, como é uma opção estética importante para Quentin Tarantino. O cineasta, mais uma vez aposta na provocação e em chocar o espectador com o seu rigor formal, que é, impossível negar, impecável. Só não é do meu agrado. Não gosto nem da ideia de tirar escalpes nem de ver escalpes, e muito menos do seu “trademark” que é o sangue a esguichar de cada vez que há uma agressão que envolta o mínimo contacto físico. Cenários totalmente salpicados de sangue ao menor pretexto, por muito válida que seja a opção de chocar, simplesmente não me interessam e confesso ver neles uma infantilidade que me faz tédio. O que diria Freud desta obsessão de Tarantino? A perversidade que poderia existir no filme fica em segundo plano, tal o impacto dos efeitos especiais que me lembram desenhos animados e que contrasta, por exemplo, com a intensa e desconfortável perversidade num muito bom filme que vi há meses, Laço Branco de Michael Haneke e que é de uma crueldade surda e de um rigor estético deslumbrante.


Os diálogos de Inglourious Basterds são interessantes, as piscadelas de olho a outros filmes que fizeram história são divertidas apesar de por vezes demasiado óbvias (a tal infantilidade), mas esses aspectos não “fazem” um filme. Não vislumbrei um humor digno de nota entre sangue a esguichar (com Tarantino o sangue nunca pinga, nem escorre, nem jorra; esguicha sempre), linguagem de séc.XXI, coisas várias que explodem e diálogos espertos. Aliás, se pensar em humor ainda me rio com A Serious Man (que já vi há algum tempo) dos irmãos Cohen, que do primeiro ao último minuto desafia o espectador pelo exasperante e incómodo humor do filme.


Sobra em Inglourious Basterds o cuidado e rigor formal e uma interpretação de Christoph Waltz merecedora do Óscar que ganhou. A partir de Pulp Fiction, Quentin Tarantino passou a cineasta sobrevalorizado.

6.5.10

Queen Victoria
Hoje bem cedo

Irreflectidamente


Há muitas maneiras de ser irreflectido. Conheço sobretudo quem, irreflectidamente, diga a verdade, quando esta é inconveniente. Há quem seja “sincero” e diga mais do que o que deve, ou simplesmente fale demais aborrecendo o outro com confissões e desabafos escusados. Outros, irreflectidamente, cortam rapidamente uma conversa com um “vai aqui ou acolá” ou um “vai-te fazer isto ou aquilo”, dependendo do tipo de calão de que normalmente fazem uso e insultando mais ou menos o interlocutor. Pôr-se em fuga também pode ser algo que se faz irreflectidamente, como ontem na Holanda, quando uma multidão fugiu de algo que não passou de um falso alarme. Há muitas formas de ser “irreflectido”, mas agora deparo-me com uma forma de expressar essa irreflexão que desconhecia e que é, nem mais nem menos, “tomar posse”. Parece que há quem, "irreflectidamente", “tome posse” de objectos que não lhe pertencem. Como diria o povo: se fosse pobre era ladrão, assim, como é político “toma posse”.

Ouvi na televisão Ricardo Rodrigues, mais uma face do Socratismo (*), em conferência de imprensa, declarar-se vítima de “violência psicológica insuportável”. Está visto que ser entrevistado – e provavelmente confrontar-se com a realidade e a verdade, mesmo passada, é demasiada pressão para RR, homem frágil e de sensibilidade delicada que, no entanto, “irreflectidamente” “toma posse” de objectos que não são seus. A natureza humana no seu melhor. Para seu bem, sugeria que deixasse a política, nomeadamente uma certa Comissão de Inquérito onde se interrogam pessoas de forma intensiva e onde factos complexos se tentam apurar e se dedicasse a um trabalho mais rotineiro e em que a exposição pública fosse menor: por exemplo um lugar administrativo num escritório bem longe dos olhares e pressão psicológica dos demais.

(*) As faces do Socratismo. Dever-se-ia fazer, um dia, a história das faces do Socratismo: começando por José Sócrates ele mesmo, passando entre outros pelo tio, o primo, os professores da Universidade Independente, os clientes dos projectos das casas, Armando Vara, Rui Pedro Soares, etc, e acabando em Pedro Silva Pereira.

2.5.10

Coisas que se podem Fazer ao Domingo 49

Yakshi Holding a Crowned Child with a Visiting Parrot
(India, West Bengal - Séc I AC)


Andar com o filho ao colo.

30.4.10

Apesar de alguma dissidência, os portugueses gostam de teatrinho. Os brandos e amáveis costumes, sempre.


Aqui, notícias actuais da pedofilia; daquela de que é difícil falar. Daquela sobre a qual as opiniões não se fazem rápidas, nem os julgamentos definitivos. Daquela de que, maioritariamente não se sabe e que acontece do outro lado das portas fechadas. Daquela que deixa sempre os vizinhos incrédulos. Daquela de que ninguém pede perdão.

O Mundo Encantado de José Sócrates

"Capital especulativo", "especuladores", "especulação", "especulação monetária do euro", "o mercado dos especuladores", "especulação de que estamos a ser alvo", "ataque especulativo à dívida portuguesa", foram, entre outras as palavras e expressões que ontem encheram as televisões. No mundo encantado de José Sócrates estes são “maus” e os malvados (há aqui e aqui uma boa definição e um exemplo de especulador) que vêm de fora e querem atacar o nosso país e o povo trabalhador, investidor, ordeiro, cumpridor, que nunca conheceu tanta prosperidade, desenvolvimento económico, justiça fiscal e esforçado equilíbrio financeiro como agora com o grande líder a guiar os nossos destinos. “Estes maus” querem atacar as justas políticas de investimento do governo que trará ainda mais crescimento económico e um ainda maior bem-estar social. Mas o governo e o povo mantém-se firmes nas nossas convicções e opções de investimento e de desenvolvimento económico. No mundo encantado de José Sócrates haverá mais distribuição de Magalhães, mais comboios de alta velocidade, mais aeroportos e quem ousar questionar e discordar desse rumo está, a pactuar com as já identificadas forças do mal na construção do descrédito do país.

29.4.10

Crónica Feminina 3


Esta formalização do acordo para a subconcessão Pinhal Interior mostra o quão útil foi, também ontem, aquele teatrinho entre José Sócrates e Passos Coelho, que culminou, para êxtase de comentadores e opinion-makers, com o Primeiro-ministro e o líder da oposição, lado a lado, a conjugar verbos na primeira pessoa do plural. Passo Coelho pôs-se a jeito para um dia, que não tardará, ser como o marido enganado: o último a saber.

Entretanto ficámos sem oposição, Paulo Portas compreenderá isso.

28.4.10

Ainda está para vir alguém que me explique como é que um “liberal” se queixa do “ataque especulativo” que “desde sexta-feira (…) está a pôr em causa a nossa soberania nacional”. Liberalismos destes estalam tão facilmente como o verniz cultural de José Sócrates. É o que temos.


Mais notícias sobre a estupidez humana da qual, desenganem-se os inocentes, não temos o exclusivo: censurar Tintin.

26.4.10

Dando Excessivamente Sobre o Mar 52

Pierre-Henri de Valenciennes (1750–1819)
The Banks of the Rance, Brittany

Conversas de Café e Brainstorming

Depois da “espontaneidade” saída de uma conversa de de três jovens juristas que não querem provocar mas somente sensibilizar, soubemos agora de mais espontaneidade no seu melhor, saída de um “brainstorming”. Parece que o Papa se está a tornar num alvo por parte das sensibilidades das causas fracturantes, e . Cá, um país maioritariamente católico, sobra anti-clericalismo, às vezes até misturado com devoções várias, que hoje se sente aconchegado e que nunca perde oportunidade de se mostrar na sua faceta mais primária, radical e pouco tolerante. Lá, onde o catolicismo é minoritário e o islamismo corre sérios riscos de ser maioritário, perante a lenta dissolução de uma Church of England que consegue ser tudo e o seu contrário, há um anti-papismo secular que as ditas sensibilidades das causas fracturantes descobrem no seu esplendor. Não é em vão que anualmente se celebra com fogo de artifício a derrota do catolicismo e morte de Guy Fawkes.

Uma coisa é certa: as conversas de café que nos anos 60 e 70 propiciaram tanta produção intelectual (não discuto a qualidade da dita) conhecem há muito uma decadência que está bem patente no resultado: distribuir preservativos antes/depois das missas do Papa. Se não fosse patético, dava vontade de rir. O brainstorming, um sucedâneo das ditas conversas de café mas em salas de reunião com toque yuppie e glamour à anos 80 e que produzia sobretudo soluções “corporate” ou “marketing”, (para usar inglês técnico), já conheceu também melhores dias. Estas brilhantes e originais ideias, (ver primeiro e últimos parágrafos), saídas de uma sala de reunião do Foreign Office, já o obrigaram a pedir desculpa ao Vaticano. Nem dá para rir, tal o nível de infantilidade e imbecilidade (com patrocínio governamental).

Razão tem o Bispo de Chester:

22.4.10

Espuma dos Dias que Foram 33

Alentejo

Depois de uma manhã atribulada, o PS ameaça com uma birra tipo assim, eu não brinco. As leituras políticas vão sendo feitas. Aguardam-se os próximos capítulos.


Uma Irritação

Ao passar os olhos pela página inicial do Público Online vi na secção “vídeos” um vídeo com o “O Escocês que detesta a Islândia”. Só de olhar pareceu-me uma coisa sem graça e banal, nada merecedora de qualquer tipo de atenção. Perguntei-me até se não haveria um vídeo mais apelativo para destaque. No entanto a curiosidade foi mais forte e fui espreitar o vídeo do dito escocês na levíssima esperança de encontrar algo que justificasse o dito destaque. São 19 segundos da mais pura banalidade, em que se ouve um homem com ar de hooligan e sotaque escocês gritar duas vezes “I Hate Iceland”. É tudo. Ao fim de quase uma semana de interrupção de ligações aéreas este é o vídeo em destaque no Público porque,


O que me irritou foi o facto de eu ter pensado que, mesmo que remotamente, pudesse haver algo de interessante ou até divertido no vídeo...

19.4.10

O Caos 3

Fotografia daqui

Um outro dia de críticas. Na Grã-Bretanha repete-se Dunquerque. E, de repente percebemos uma outra face da globalização. As rosas não saem do Quénia, as flores não chegam aos EUA, e em plena época de casamentos também não há diamantes para anéis de noivado. A fruta tropical e o mozzarella também ficam em terra. Apesar das ostras que deveriam vir da Islândia (que agora só produz e exporta com sucesso cinzas vulcânicas) sobra tempo para ler e passear no parque àqueles que foram ali, a correr, a uma reunião ou conferência e se viram obrigados a ficar por lá e, mais importante, a serem, por uma vez, viajantes. Como diz o popular Alain de Botton:



18.4.10

O Caos 2

As empresas, as organizações, os países não são amigas do caos. Já se perdeu demasiado dinheiro e não se sabe quando se parará de perder. As pressões dos governos e das companhias aéreas são muitas para acabar com as restrições de voo no espaço aéreo europeu. Os sinais de descontentamento começam e não vão ficar por aqui.


Espuma dos Dias que Foram 32

Alentejo

Da Mansidão

O Primeiro-ministro continua o seu percurso de optimismo em visitas e inaugurações relacionadas com as suas áreas favoritas de governação e de onde dificilmente descola: tecnologias de ponta, empresas modernas em equipamento e exportadoras de sucesso (nada contra o sucesso e a exportação, antes pelo contrário, note-se), energias renováveis, e turismo. O país para ele resume-se a estes cenários. No seu mundo ficcional não cabe o “desagradável”. Não há crise, não há falências nem novos desempregados cada dia que passa, não há famílias em dificuldade, não há filas de espera para consultas médicas, não há insucesso escolar, não há défice, não há excesso de peso fiscal, não há mercados financeiros desconfiados, nada disso. Para ele Portugal é um país promissor onde as circunstâncias são favoráveis ao crescimento, inovação e sucesso. Esta ideia é normalmente ilustrada com um leque variado de gadgets considerados “Made in Portugal” e essenciais a um modo de vida actual e moderno. Até aqui, nada de novo, nós já sabemos que o nosso Primeiro-ministro vive no seu mundo e nós no nosso.

O problema começa pela ausência de oposição. O PSD embrulhou-se numa vontade de revisão constitucional (nada contra também) e parece ter resumido a sua oposição ao PS e a este governo nesta proposta. A actual direcção que criticou duramente a direcção de Manuela Ferreira Leite por não “fazer oposição” tem-se pautado pela mansidão. O PSD não se destacou no debate parlamentar da semana passada, e a comunicação social reduziu-o ao episódio “pé no chinelo” que ficará nos anais da história parlamentar como “manso é a tua tia, pá!” (já agora: as expressões faciais do Primeiro-ministro nem precisam da intervenção da equipa de “Lie to Me” para serem “lidas” e conclusivas). O PSD passou despercebido e senti falta da secura e acutilância desprendida, que a comunicação social adorava desprezar, de Manuela Ferreira Leite, a quem o tempo se encarregou de ir dando razão, face a José. Mas o estado de graça de PPC não permite críticas, e o silêncio sobre o PSD impera.

16.4.10

O Caos

Fotografia daqui.
(Outras fotografias aqui.)

A Natureza põe e dispõe. A nós o caos.



Ontem tive muito mais sorte do que Cavaco Silva. Ele ouviu estas declarações (certeiras e justas, mas tão incómodas) do presidente Checo até ao fim, não pode escapar, fazer de conta ou assobiar. Esboçou um sorriso e usou da sua melhor diplomacia na resposta, até distraiu os interlocutores lembrando a Irlanda. Eu, igualmente envergonhada, pude mudar de canal, Cavaco Silva não.

E ao mudar parei uns breves momentos na BBC World News onde estava a decorrer o primeiro debate entre os três candidatos a Primeiro-ministro do Reino Unido, num modelo do tipo “Question Time”. Gordon Brown era o mais crispado, David Cameron o mais confiante e Nick Clegg o mais eloquente e agressivo. Ouvi-os sobre a educação. Discutiam Educação; o discurso de Cameron e Clegg era claro: mais disciplina na escola, reforço da autoridade do professor, (um deles referiu que hoje na escola há a situação de os professores serem tratados como crianças e os alunos como adultos), centrar a actividade do professor no ensino, programas lectivos simples e claros, liberdade das escolas e, no fim, um reparo acerca da necessidade do regresso uma maior independência (face ao Estado e aos governos, claro) das instituições avaliadoras. Brown, que nunca rejeitou estas ideias, mas adoptou uma posição mais defensiva, viu-se obrigado a focar o seu discurso na necessidade de a escola servir toda a população. Como eu gostava de ouvir estes tópicos na boca dos nossos candidatos a Primeiro-ministro.


Là-bas, Je Ne Sais Pas Où... 7

Edgar Degas
Bookshelves

14.4.10

Filipe Nunes Vicente escreveu hoje este post de leitura obrigatória. É, no entanto um texto escrito “de fora” e não “de dentro” (da Igeja Católica, claro). Nota-se, entre outras coisas que decorrem da leitura, num aspecto mais formal: o modo como FNV nomeia o Papa (uma escolha nada inocente): Ratzinger e não Bento XVI. Nota-se também em duas ou três afirmações que, apesar de fazerem sentido no contexto de uma leitura mais atenta do texto, podem ser consideradas imprecisas ou polémicas. A mais óbvia é o facto de afirmar que João Paulo II foi “Papa inofensivo”, afirmação sobre a qual não me detenho, mas a principal para mim, porque pode ser geradora de um “mal-entendido” numa leitura mais rápida do texto, é a de que Ratzinger tem desprezo “pela liberdade como valor universal”. FNV teve o cuidado de não dizer só “liberdade”, mas sim "liberdade como valor universal".

S. Paulo, por exemplo, fala muito na liberdade na Epístola aos Gálatas “foi para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gal. 5, 1), ou “Irmãos, de facto foi apara a liberdade que fostes chamados” (Gal. 5, 13) e enfatiza a importância da liberdade no cristianismo. De acordo com o Catecismo da Igreja, Cristo ressuscitado libertou-nos do pecado para que sejamos livres. Deus quer-nos livres, e porque somos livres podemos escolher entre o bem e o mal. Faria algum sentido o perdão de Deus (expresso através do sacramento da confissão) sem liberdade? A liberdade é-nos dada por Deus e ela torna-nos responsáveis. O Papa não despreza a liberdade.

Parece-me por isso importante não confundir a liberdade que nos é dada por Deus, da “liberdade universal” que o Papa despreza, de acordo com FNV. Quando era nova lembro-me de me explicarem que a liberdade andava sempre de mãos dadas com a responsabilidade, coisa que impedia um alívio mais imediato que vem associado à ideia de uma liberdade como uma mera possibilidade de escolher e optar. Ora escolhe-se e opta-se em função dos valores sociais dominantes que, esses sim, serão objecto de desprezo por parte do Papa Bento XVI. Presumo que seja a este desprezo que FNV se refere.


Resumindo os ditos valores: a cultura da experimentação, a tentação equalizadora, o politicamente aceitável, a soberba intelectual (o dito aparelho universitário), as ideias estreitas, banais e fáceis, o folclore e o excesso de ruído comunicacional (o aparelho mediático). Eu acrescentaria o imediatismo, o facilitismo, a aparência, o sucesso.

Em Flor 26


Os Estudos

Lembro-me, quando do caso Casa Pia, de ouvir psicólogos, psiquiatras e outros estudiosos desta condição humana que todos partilhamos explicarem que o perfil tipo do pedófilo era o de uma pessoa “normal”, com uma vida “normal” – incluindo a familiar, mas numa situação de proximidade da vítima. Depois falou-se do facto de os números – com base nos casos conhecidos pela justiça - apontarem para o facto de que os abusos sexuais terem lugar em casa e serem praticados por pessoas próximas das vítimas, (padrastos, pais, irmãos, tios, primos, vizinhos, etc). Agora que a Igreja assumiu os crimes de pedofilia do seu clero, e que se dispõe a abertamente condenar quem os comete, a deixar que a justiça seja feita acabando com a prática, profundamente injusta e pouco saudável do ponto de vista social e da própria instituição, de não-cooperação com a justiça e de encobrimento, a ânsia de definir o perfil do “pedófilo tipo” recomeçou.

Os anti-papistas de sempre depressa encontraram estudos que estabelecem a ligação entre a pedofilia e o celibato, e agora o Cardeal Bertone com idade e condição suficientes para conhecer as virtudes do silêncio (vulgo “estar calado”), menciona os estudos que ligam a pedofilia à homossexualidade. Confesso que ouvi o Cardeal e pareceu-me perceber um desprendimento estranho ao fazer esta afirmação, como se a homossexualidade não existisse no seio da Igreja Católica. Enfim. A virtude do silêncio é rara e preciosa e nós, cardeal Bertone incluído, somos meros humanos mortais (e pecadores para a Igreja), normalmente cheios de opiniões que tornam difícil, ou quase impossível, resistir à tentação de “dizer coisas” (*). As coisas são ditas e, sem surpresas, percebemos que a maioria do que é dito (vindo também de cardeais e clero) não tem ponta de interesse, e o que vale a pena ser ouvido (vindo também de cardeais ou do clero) se perca no ruído de irrelevâncias ou puras imbecilidades que fazem o grosso do que se diz.

Parece, também, que os estudos são como as sondagens. Encontramos sempre um que dá jeito citar e que serve os propósitos do argumento que previamente se estabeleceu como válido. Há estudos para tudo e que provam isso e aquilo bem como o seu contrário. Eu já não percebo se o pedófilo é tendencialmente uma pessoa “normal”, se é um celibatário ou se é um homossexual, e acredito que para uma vítima de repetidos abusos sexuais (seja da Casa Pia ou da Igreja Católica) a normalidade, o celibato ou a homossexualidade do seu abusador sejam factores sem nenhuma importância. Importante é que se faça justiça e, já agora, que se acalme a ânsia de apontar o dedo sob protecção de “estudos”, que não é mais do que uma faceta desta imperfeita e intolerante condição humana que partilhamos.

(*) É por ser difícil “estar calado” que existem blogues onde escrevemos, maioritariamente, as nossas irrelevâncias. A vantagem do blogue é que só lá (cá) entra quem quer ler essas ditas irrelevâncias. Outra vantagem é serem silenciosos e virtuais.

13.4.10

Por um lado a UE duvida que as medidas do PEC sejam suficientes para a desejada (e acordada) redução do défice; por outro lado Portugal vai participar no “esforço” da zona Euro na ajuda à Grécia. Já que decidem tanto por nós, digam também, por favor, o que devemos pensar, porque assim sem ajuda (do Estado, claro), fica um pouco complicado.

12.4.10

Espuma dos Dias que Foram 31

Alentejo

Paisagem Urbana

De repente deixamos de ver na cidade as mulheres, independentemente dos factores circunstanciais como serem altas ou baixas, gordas ou magras, velhas ou novas, a parecerem que vão, ou que acabam de vir, de lições de equitação e passamos a vê-las, tal como no ano passado, em cai-cai. Dantes eram os umbigos e barriga à mostra, agora são os cai-cai, a praga estética urbana dos dias quentes. Acho particularmente interessante aquela parte em que as mães – em cai-cai, claro, vão buscar os filhos à escola. Se os filhos forem jovens adolescentes ou usam cai-cai também ou, se forem do sexo masculino, terão as calças a cair com os boxers à vista e havaianas nos pés. Nunca percebi porque é que, com uns códigos de moda tão eclécticos como os actuais, nas ruas das nossas cidades estes códigos se transformam em dois ou três chavões “fashion” desprovidos de imaginação, e normalmente pindéricos, mas que todos, num ímpeto uniformizador bizarro, parecem ansiosos por adoptar.

11.4.10

Um Deslumbramento

O país político, e sobretudo a comunicação social, está deslumbrado com Pedro Passos Coelho, um verdadeiro líder e construtor de unidade. Ouvi-o brevemente na sexta-feira no discurso inaugural: parecia um aluno bem comportado, muito asseado e com a lição esmeradamente estudada. Um orgulho para os demais, estou certa. Como nenhum músculo meu mexeu ao ouvi-lo, mudei de canal. Mas parece que se esperam grandes feitos e obras dele, e as sondagens, até aqui renitentes para com o PSD, parece que até já se mexem. E isto sem ainda ter tido tempo de fazer os ditos feitos e obras que todos esperam, mas já arrastando consigo os slogans da mudança e da unidade. Como será quando fizer? Tanta eficiência, tanta eficácia, tanto deslumbre. Eu esperarei sentada, se não se importam.

5.4.10

Segunda-Feira de Páscoa

Ícone Russo (séc. XVIII)
The Pantocrator


4.4.10

Domingo de Páscoa


Na verdade ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos.
Jo 20, 9

2.4.10

Sexta-Feira Santa

Ícone Russo (séc XVI)
Crucificação

1.4.10

Quinta-Feira Santa

Ícone Russo (séc XIX)
A Última Ceia


30.3.10

Charles De Gaulle

Tejo
(Vale a pena clicar para aumentar)

Em trinta segundos, o tempo de uma busca no Google francês pois vi que o porta-aviões tinha bandeira francesa, fiquei a saber tratar-se do porta-aviões nuclear Charles de Gaulle que ficará por cá (na foz do Tejo) até sexta-feira. Mais um porta-aviões que fotografo.


29.3.10

Olha que chatice... Queriam fotos, sorrisos, conversa de chacha e beijinhos, não era?

28.3.10

Coisas que se podem Fazer ao Domingo 48

Auguste Rodin (1840-1917)
Study for the Naked Balzac


Onde estava eu com a cabeça?

O PSD de Pedro Passos Coelho Não Faz a Diferença

Pedro Passos Coelho ganhou de forma inequívoca a corrida a líder do PSD. Os militantes do PSD não deixaram dúvidas sobre quem preferiram. Alguns dentro do partido farão as suas leituras e encontrarão as devidas explicações. Duvido, no entanto, que esta vitória corresponda ao desejo daquela que é a maioria do eleitorado tradicional do PSD e que não vê uma diferença substancial e clara entre José Sócrates e Pedro Passos Coelho. Fica a sensação de que a vontade dos militantes não é a vontade daqueles que, não sendo filiados em partido algum, constituem o eleitorado tradicional e mais ou menos fixo do PSD, e fica a sensação de que os militantes do PSD se fecharam no partido em vez de se abrirem para o país. Será interessante verificar se estou ou não certa, mas este possível desfasamento deveria ser motivo de atenção (e eventualmente preocupação) para PPC .

A maioria do eleitorado PSD, está farto de José Sócrates, dos seus equívocos, inverdades, conhecimentos informais, curriculum, da sua falta de consistência, dos seus anúncios de medidas bandeira do optimismo, do seu marketing político, das suas frases feitas. A maioria do eleitorado do PSD não gosta do “socialismo”, seja ele ideológico ou só nominal, histórico ou Terceira Via, genuíno ou "caviar", e quer uma alternativa política não socialista e credível para o desenvolvimento - eu sei que esta palavra está carregada de “optimismo” e talvez fosse mais realista falar em “evitar o colapso” – do país. A maioria do eleitorado do PSD sabe que isso só se faz com reformas estruturais e, ao contrário do eleitorado socialista, deseja, quer, anseia por essas reformas. Os socialistas evitam-nas e não querem nem sabem fazê-las. Como será, na prática Pedro Passos Coelho diferente de José Sócrates? A maioria do eleitorado do PSD não gosta de clientelismo, da promiscuidade entre o estado e as empresas privadas. Os socialistas, em José Sócrates, arranjaram o expoente máximo da promiscuidade entre o estado e o sector privado. Estará Pedro Passos Coelho ao abrigo desse clientelismo?

Ao ser eleito pelos militantes do PSD, PPC terá que fazer mais, melhor e diferente: terá que falar para fora do partido se quiser também ser eleito Primeiro-ministro, e terá que demonstrar através de uma forma consistente e séria de fazer política - e descolando dos exageros de "imagem" de que abusa o actual Primeiro-ministro, que é capaz dessa mudança de que fez título de livro, e de que é, não só uma alternativa credível ao socialismo e a José Sócrates, como também uma alternativa sólida a Paulo Portas, em quem tantos eleitores tradicionais do PSD já dizem que votarão. Não acredito que seja com PPC que o PSD fará a diferença.


27.3.10

Velas 21

Hoje

Manuela Ferreira Leite

Faço minhas estas palavras de André Abrantes Amaral no Insurgente,


E até digo mais. Havemos de sentir a falta da sua forma pouco complacente de fazer política, da sua insistência em não se deixar maquilhar pelo marketing político, e da sua frontalidade pouco simpática, mas certeira. Entramos numa nova era em que a imagem impera sobre a substância, em que as ideias se moldam conforme as causas que se decidem abraçar, e os discursos se fabricam de acordo com o efeito que se pretenda causar e que tenha sido previamente estabelecido. Nem sempre estive de acordo com ela, mas mereceu a minha consideração e respeito.

E até digo ainda mais. Estamos perante uma nova fase na política portuguesa. José Sócrates, Pedro Passos Coelho, Paulo Portas, Francisco Louçã, são políticos feitos do mesmo barro. Sobra Jerónimo de Sousa, um último reduto de franqueza, o único líder que ainda consegue ser razoavelmente genuino e igual a si próprio. Todos os outros parecem sub-produtos embora, para ser justa, deva mencionar que José Sócrates se destaca pela falta de qualidade intrínseca, pelo excesso de plasticidade formal, e pela constância da inconsistência política.

26.3.10

Dando Excessivamente Sobre o Mar 51

William Trost Richards (1833–1905)
Purgatory Cliff

24.3.10

Bingo!

Hoje fiz um telefonema a pedir assistência técnica. Depois de expor o meu problema, a senhora que me atendeu perguntou com o profissionalismo e segurança de quem sabe como resolver as questões e de quem não tem medo de palavras esdrúxulas: “quer que fáçamos a assistência em casa?”, reprimi o meu instinto de explicar os conjuntivos à senhora - estes fáçamos e estes póssamos, que ameaçam espalhar-se desapiedadamente, são mesmo duros de ouvir, e nem o corrector ortográfico gosta deles - e disse que sim. Com a acrescida segurança de quem repete vezes sem conta estas frases e por isso está em território familiar, ela conclui: “há-dem contactá-la para marcar o dia e a hora”. Claramente eu estava em território hostil, balbuciei um obrigada (nesta altura já não me passava pela cabeça explicar-lhe a conjugação do verbo haver), desliguei. Um momento depois pensei afinal na minha sorte: estatisticamente falando, deve ser raro ouvir estas duas preciosidades em menos de dez segundos.

Para além da falta de vergonha que parece ter contagiado todos os membros deste executivo, estas frases

que se atiram ao ar (como o barro que se atira à parede a ver se cola) têm sempre um ar comicieiro e são a face desse optimismo ficcional que nos tentam vender há década e meia. Esta gente não é séria e querem que acreditemos que ao fim deste tempo todo ainda não perceberam o que se passa.


23.3.10

Pudera! Os “mais ricos” não só descontam mais para o IRS porque ganham mais, como descontam num escalão superior, isto é, por cada euro ganho pagam mais IRS do que os que descontam num escalão inferior. Isto é mesmo conversa mole para encher chouriços e ludibriar os eleitores. Nunca o Ministro das Finanças, ou o Primeiro-ministro sempre pronto a encher a boca, e desgastar a nossa tolerância, com afirmações do género “os mais ricos é que pagam a crise”, explicaram de forma inequívoca o conceito de “mais ricos”. Gostava de saber a partir de que vencimento as pessoas passam a ser consideradas por este governo, e para efeitos de “pagar a crise”, “mais ricas”. Afirmações como esta - engendradas nos “think tanks” comunicacionais - populistas, pouco rigorosas (mentirosas tantas vezes), e feitas com o intuito de atirar areia para os olhos, são a marca deste governo. Era tão bom que não fossem também marca de futuros governos.

21.3.10

Em Flor 25


Pesadelo


Perante este pedaço de retórica política, em que se sente a densidade do pensamento (gosto especialmente da parte em que diz usar a sua inteligência emocional), o latejar de uma ideia, a clareza de conceitos, o emergir de uma visão, a ousadia de um combate politico, a sede de justiça, a maturidade democrática e o profundo respeito pela liberdade, envolvidos na mais aprimorada linguagem, sou impelida a ler o que se segue.

Patético. O problema começa quando acordar e perceber que as opções políticas poderão ficar resumidas a José Sócrates ou a Passos Coelho, como num mau guião de ficção plástica. Toda uma outra dimensão de fazer política se abre para a qual não sei se estou preparada.

19.3.10

Piet Mondrian (1872-1944)
Composition in Brown and Grey


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