“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
holehorror.at.gmail.com

17.8.07

Ir de Férias...

... até Setembro.

Combate ao Sedentarismo 34

16.8.07

Postal Ilustrado 11

Azares

Nas últimas semanas fui duas vezes ao cinema. De nenhuma das vezes escolhi o filme que fui ver, uma situação que por si só já considero como um mau prenúncio. Tal como temia não gostei de nenhum dos filmes, tendo o primeiro sido muito pior do que o último. O primeiro foi Nem Contigo...Nem Sem Ti uma comédia romântica, so they say, que dá vontade de chorar de tão má que é. Tudo naquele filme é mau, a produção é pirosa, a realização paupérrima, a história é um patético cliché que custa a acreditar – e a ficção tem que ser credível - as personagens são confrangedoras e nunca convincentes, a interpretação pobre, os cenários muito maus tal como a roupa e a maquilhagem e até Michelle Pfeiffer estava uma sombra do que é. O que ela fazia ali naquele filme permanece um mistério. Nunca devia ter visto aquele filme; tanto mau gosto e falta de qualidade juntos fazem mal.

O segundo filme, visto recentemente é Ratatui, o último filme de animação da Disney Pixar. O filme nunca nos transporta como a saga The Incredibles, nem nos embala como À Procura de Nemo só para falar em produções da Disney. Para além de dois ou três gags poderosos o filme nunca consegue passar de uma inócua banalidade que nem aquece nem arrefece. O mundo da gastronomia restaurantes, competição, estrelas, críticos, por exemplo, nunca é objecto de um olhar verdadeiramente mordaz e a história acaba bem demais num embalo de igualdade e moralidade que condiz com os olhinhos tristes do rato que os violinos sabem sempre acompanhar. Depois, claro, há o problema de ver ratos e ratos e ratos durante todo o filme, e se o protagonista é girinho e limpinho, o mundo dos ratos está longe de fascinar (Por Água Abaixo, comentado aqui, foi excepção e foi um dos filmes de animação que mais gostei de ver).

15.8.07

Dando Excessivamente sobre o Mar 9

Scène de plage (La Tour-de-Peilz), 1874
Gustave Courbet

14.8.07

Igualdade

Nada como uma ida ao Ikea para levar com um banho de igualdade. Lá somos todos iguais perante os Kroken (um suporte magnético para facas), os Snar (uns individuais, mas falta a bolinha no “a”) ou uns Ikea Stockholm (umas mantas). Todos fazemos o mesmo percurso, todos nos demoramos a ver as mesmas coisas, todos compramos o mesmo (enfim, quase), todos fazemos uma estimativa de quantos sacos de papel vamos precisar para os pagarmos. Ali não interessa idade, sexo, raça, apelido, o Ikea é de todos e para todos e lá o dinheiro não tem cheiro e é igual e vale o mesmo nas mãos de seja de quem for. O Ikea é talvez um dos locais onde eu me sinto mais igual, e não estou segura de gostar muito dessa sensação. A ironia é que o que as ideologias, os regimes, as utopias, os políticos têm demorado séculos a tentar, sem grande ou mesmo nenhum sucesso, pois tudo a que chegam tem sido à força e não passa de uma vaga aproximação, o consumismo consegue fazer: no Ikea somos todos iguais.

13.8.07

Luz















Invariavelmente antes do feriado do dia 15 de Agosto, aparecem no céu os primeiros sinais de um Outono que estará para chegar. É a luz que, ao amanhecer e anoitecer, fica mais suave, menos branca e mais amarelada. Na praia a luz é menos crua e olha-se melhor para o mar, no campo os verdes começam a encontrar outras cores. É um dos períodos do ano de que mais gosto, o fim do Verão.

Formar e Criar Novos Públicos

Os nossos governantes da área da Cultura têm justificado muitas das suas polémicas decisões (por exemplo a crise no S. Carlos) pela imperativa necessidade de formar e criar novos públicos e de fazer de Portugal um país de turismo cultural. Já aqui disse o que pensava sobre o assunto, mas confesso que perante a realização de um evento culturalmente tão significativo como o 1º Festival de Música Popular Portuguesa que teve lugar este fim de semana passado em Ponte de Lima, fico com medo que a criação de novos públicos e o querer fazer de Portugal um país de turismo cultural não sejam, tal como eu pensava, meros chavões políticos ou tretas sem nexo. Afinal eles sabiam do que falavam.

12.8.07

Plataforma contra a Obesidade 17

Pieter Claesz
Still Life with Drinking Vessels, 1649

Dos Barulhos e Ruídos

Cada vez gosto menos de barulho e de ruídos e cada vez convivo melhor com o silêncio. Sou incapaz de ligar uma televisão para sentir o barulho ou a companhia e não ponho CDs a tocar para ter música de fundo. A moda dos leitores de MP3 ou ipods passa-me ao lado porque não consigo pensar em que ocasiões posso querer música e não a ter, e não gosto de ter coisas (phones) nos ouvidos, porque caiem, porque se desajustam, porque ao se desajustarem fazem ruído. Creio que só no carro a conduzir é que me distrai a dita música de fundo. Dito isto, gosto muito de música e muitas vezes a ouço, mas não para ter um ruído ou um barulho de fundo, ouço para realmente a usufruir e muitas vezes ouvi-la impede-me uma concentração ideal noutras tarefas. Gosto do barulho do vento nas folhas das árvores, do barulho do mar, do barulho dos trovões, já o chilrear dos passarinhos de manhã nem sempre é bem vindo! Irritam-me os CDs de música relaxante que acabam invariavelmente por me cansar e me dão vontade de silêncio, ou então de uma sinfonia que tome conta de mim, de uma ária que me lembre que canto mal, ou de uma música que faça dançar. O barulho do trânsito é uma maldição dos tempos modernos, e músicas de fundo (ou bem à frente) são poluição.

Há uns anos fui arrastada por uns amigos, estávamos na Áustria, para ir ver um Grande Prémio de Fórmula 1. Ver um grande prémio não estava na lista de coisas que gostaria de fazer, mas acabei por ceder e fui. Cansada de tanto andar sob um calor de verão, cansada da multidão, cansada da confusão, cansada do barulho, cansada de pensar que ainda ia ter que esperar muito até me ir embora, nada me restava senão encher-me de paciência. Começou a corrida e finalmente começam os carros a passar à nossa frente. O que era um ruído insuportável tornou-se, à medida que os carros se aproximavam, num ruído de motor fortíssimo, certamente inesperado e único, e muito excitante, tal a potência que lembra e a vibração que se sente mesmo em nós. Naquele dia fiquei fascinada com o barulho dos motores dos carros de Fórmula 1, que ainda hoje lembro como um dos mais belos ruídos.

Há outro ruído quase ensurdecedor que também me encanta, este encantamento certamente com raízes mais profundas, talvez inscrito no código genético e afirmador de pertença. Falo dos Zés-Pereiras dos seus bombos e tambores em ritmo crescente. Presença obrigatória nas festas e romarias do Minho, eles animam muitas vezes Largos e Praças chamando a atenção de todos e mostrando a sua destreza e força, e despoletam memórias de uma infância muito vivida no Alto Minho, nomeadamente, mas não só, em Viana do Castelo, uma cidade que vivia sempre em festa. Quem passar pelo pelo Alto Minho no verão dificilmente escapa a uma romaria ou festa, e provavelmente cruzar-se-á com os Zés-Pereiras, seu som e ritmo.

Coisas que se podem fazer ao Domingo 9

Corneille VAN CLÈVE, 1645 - 1732
Polyphème assis sur son rocher - 1681



Espreitar o mar que bate nas rochas

10.8.07

Combate ao Sedentarismo 33

Licença de Uso & Porte de Crianças

(título roubado aqui)

A ideia é interessante e apelativa, pois qualquer pessoa minimamente atenta elabora, com base na experiência de um mero “andar por aí”, uma longa lista de negligencia parental: crianças tarde nas noites de verão bocejando em locais onde os Pais “tomam um copo”, recém nascidos invariavelmente pouco agasalhados em hipermercados por baixo de excesso de luz de neons e de ar condicionado, pais e crianças aos gritos uns com os outros em pé de igualdade, crianças sujas, crianças no mar a tiritar de frio, são alguns dos exemplos mais notórios. O problema é complexo e não se esgota na questão da negligência. Passa pelos sensíveis conceitos quer de autoridade quer de disciplina que foram tão maltratados, questionados e por fim negligenciados ao longo das últimas décadas, o que acabou por se reflectir também na forma como se é hoje Pai e Mãe. As referências tradicionais desmoronaram-se, a ideia de um Pater Familias desapareceu, mas multiplicaram-se as escolas psicológicas especializadas na vida intra-uterina, na primeira infância, na puberdade, na juventude, abundam os gurus da pediatria, da psicologia da aprendizagem, da pedo-psiquiatria, da terapia psicológica, da pedagogia, da psiquiatria da juventude, da psicologia terapêutica da família, enfim um mundo infinito de abordagens alternativas para “ajudar” a educar. Limitei-me a referir disciplinas aceites do ponto de vista das ciências médicas e humanas, mas há alternativas para todos os gostos, carteiras e para quem queira procurar. Com tanta abordagem diferente à missão de educar os filhos, missão essa que até há pouco (em termos absolutos da história do mundo) parecia simples, não admira que os pais hoje se sintam absolutamente perdidos, e tenham dificuldade em reclamar para si a autoridade o poder de decisão, a liberdade. Muitos deles nem sabem que o podem fazer, ou melhor, que o devem fazer, por isso adoptam uma postura que propicia a negligência.

Claro que a Licença de Uso & Porte de Crianças parece ser uma ideia feliz, resta saber quem é que a atribui. Uma entidade Estatal? Entidades privadas a competir entre si? Comité de Sábios? Sábios de quê? Funcionários Públicos? Psicólogos? Psiquiatras? Pediatras? Pais experientes? Avós? Professores? Padres? Um pouco de tudo? Ah, o mundo que nos espera se formos por aí...

8.8.07

Dando Excessivamente sobre o Mar 8

Claude Monet,
"Cliff Walk at Pourville", 1882
(clicar para ver melhor)

Não sou apreciadora do estilo de Joe Berardo, já aqui o disse, mas é sempre refrescante ouvir alguém dizer em voz alta e de uma forma clara e isenta de metáforas e outras ajudas retóricas, aquilo que disse ontem à noite na SIC em entrevista a Mário Crespo. Juntando às palavras de Berardo o espectáculo da novela BCP, o maior banco privado português, nos últimos tempos ficamos com a sensação, de que também o Banco é um espelho do país. Perde muito tempo em manobras e a acautelar interesses de grupos e pouco a criar riqueza.

6.8.07

What Goes Around

(...)
What goes around, goes around, goes around
Comes all the way back around
What goes around, goes around, goes around
Comes all the way back around
What goes around, goes around, goes around
Comes all the way back around
What goes around, goes around, goes around
Comes all the way back around
(...)

Justin Timberlake

Plataforma contra a Obesidade 16

Paul Cezanne
Nature Morte avec Pommes
(clicar para ver melhor)

5.8.07

Ida e Volta

Ontem fiz mais de 900km numa viagem de ida e vinda que me levou ao topo noroeste do país. Comecei às 6h30m da manhã e na auto-estrada do norte, pouco depois de deixar Lisboa para trás fiquei deslumbrada com o sol a nascer por cima do Tejo. Uma enorme bola pouco nítida, pois o ar estava enevoado e de um leve cinza que contrastava com a cor salmão do sol e do rio que espelhava luz. O meu olhar demorava-se nesse amanhecer.

Ouvia na rádio as notícias de um acidente em Coimbra que tinha ocorrido durante a noite e que condicionava ainda a circulação de norte para sul. Pensei naqueles que faziam a viagem em direcção ao Sul, nomeadamente ao Algarve e que pensavam que sair cedo os ajudaria a fazer melhor a viagem. Antes das 8h, quando passei pelo local do acidente, a estrada ainda não estava “limpa” segundo as informações que ouvia, pude ver a bicha de carros que já existia. Eu creio que é impensável e inadmissível manter a circulação de uma auto-estrada condicionada por tanto tempo - ouvi à noite num telejornal falar em 18 horas – e que roça os limites do absurdo e é totalmente inaceitável. Limpar a via não demora tanto, nem que o material derramada fosse altamente tóxico. Ao longo das horas que passavam ouvi referências a 10km de bicha. Será que não há ninguém responsável por isto?

A chegada ao norte, agora mais facilitada por não se passar por Viana do Castelo, trouxe consigo o ar fresco e limpo e o cheiro de maresia depressa invadiu o carro, enquanto o olhar se demorava na costa, nas gentes nas praias, na Foz do Minho e nos múltiplos tons de verde brilhante que enchem a paisagem.

Mais tarde, e já de regresso, uma rápida passagem e um breve passeio pelo Porto confirmou aquilo que tenho visto ultimamente e que estava pouco habituada, uma cidade cheia de turistas, a pé, em autocarros de dois andares abertos em cima, nas esplanadas, na Foz, na marginal, na Ribeira. Verão ou inverno o que é um facto é que o Porto se enche de turistas.

Coisas que se podem fazer ao Domingo 8

"Aphrodite au Pilier"
Séc. I - II AD (?)
(Clicar para ver melhor)


Perder a cabeça.


3.8.07

Uma Diva


Vi poucos filmes de Michelangelo Antonioni porque os achava muito chatos. Preferi sempre o neo-realismo, e mesmo Fellini nas suas diferentes incarnações bem como as comédias, Tótó, e mesmo a dupla Marcello Mastroianni e Sophia Loren. Mas lembro-me que os seus filmes tinham belas imagens, mulheres (e homens também) bonitas e bem vestidas, apesar de deprimidas e pouco felizes.

O seu maior legado sempre me pareceu ter sido Monica Vitti.



2.8.07

Dando Excessivamente sobre o Mar 7

Gustave Courbet
Le bord de mer à Palavas
(Clicar para ver melhor)

Véu Islâmico 7

A propósito desta notícia que tanta polémica tem gerado.

Que se perceba a suprema ironia que é o "Véu Islâmico" ter chegado a Portugal (nesta forma tão mediática, aliás a mais mediática até hoje), não na cabeça de uma mulher Islâmica mas sim na cabeça de uma Portuguesa não islâmica, tanto quanto sei.

Que se perceba a leviandade e ligeireza de quem parece não perceber que os gestos são importantes e que os símbolos têm tantas vezes vida própria.

Que se perceba que não há pior zelo que o zelo do convertido.

1.8.07

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