“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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6.5.10

Irreflectidamente


Há muitas maneiras de ser irreflectido. Conheço sobretudo quem, irreflectidamente, diga a verdade, quando esta é inconveniente. Há quem seja “sincero” e diga mais do que o que deve, ou simplesmente fale demais aborrecendo o outro com confissões e desabafos escusados. Outros, irreflectidamente, cortam rapidamente uma conversa com um “vai aqui ou acolá” ou um “vai-te fazer isto ou aquilo”, dependendo do tipo de calão de que normalmente fazem uso e insultando mais ou menos o interlocutor. Pôr-se em fuga também pode ser algo que se faz irreflectidamente, como ontem na Holanda, quando uma multidão fugiu de algo que não passou de um falso alarme. Há muitas formas de ser “irreflectido”, mas agora deparo-me com uma forma de expressar essa irreflexão que desconhecia e que é, nem mais nem menos, “tomar posse”. Parece que há quem, "irreflectidamente", “tome posse” de objectos que não lhe pertencem. Como diria o povo: se fosse pobre era ladrão, assim, como é político “toma posse”.

Ouvi na televisão Ricardo Rodrigues, mais uma face do Socratismo (*), em conferência de imprensa, declarar-se vítima de “violência psicológica insuportável”. Está visto que ser entrevistado – e provavelmente confrontar-se com a realidade e a verdade, mesmo passada, é demasiada pressão para RR, homem frágil e de sensibilidade delicada que, no entanto, “irreflectidamente” “toma posse” de objectos que não são seus. A natureza humana no seu melhor. Para seu bem, sugeria que deixasse a política, nomeadamente uma certa Comissão de Inquérito onde se interrogam pessoas de forma intensiva e onde factos complexos se tentam apurar e se dedicasse a um trabalho mais rotineiro e em que a exposição pública fosse menor: por exemplo um lugar administrativo num escritório bem longe dos olhares e pressão psicológica dos demais.

(*) As faces do Socratismo. Dever-se-ia fazer, um dia, a história das faces do Socratismo: começando por José Sócrates ele mesmo, passando entre outros pelo tio, o primo, os professores da Universidade Independente, os clientes dos projectos das casas, Armando Vara, Rui Pedro Soares, etc, e acabando em Pedro Silva Pereira.

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