Sendo o BCP um a instituição privada, é com dificuldade que olho para esta situação actual tão promiscua com os partidos políticos do chamado “centrão” a envolverem-se e a opinarem numa luta pela influência e poder pouco dignas de sociedades desenvolvidas e com uma sociedade civil sólida. Questiono a intervenção do Banco de Portugal e da CMVM reunindo accionistas, “avisando”, “sugerindo”, insinuando perigos como sendo detentora de uma qualquer superioridade informativa pouco condigna de mercados transparentes e de regimes em que a separação de poderes é escrupulosamente respeitada. O tom moral é absolutamente insuportável e impensável também nas sociedades com uma economia realmente desenvolvida. Sendo o BCP uma instituição privada não há lugar nem a paternalismos, nem a accionistas atentos e obrigados que acatam avisos, ameaças, e de imediato se colocam numa situação reverencial perante os símbolos do regime. Se há matéria judicial, que se se avancem com inquéritos e processos, (parece que deveriam já ter avançado há muito e que, mais uma vez, se chega tarde), mas lançar suspeitas sobre todos e tudo de um determinado período é facilitismo levado ao absurdo e à irresponsabilidade, numa névoa cinzenta em que tudo em Portugal mergulha, para que mais tarde a culpa possa sempre morrer solteira, como em tantos outros inquéritos e julgamentos.
Entre uma rabanada, um presente que se desembrulha, um cântico de Natal estafado e as luzes do presépio, continua lenta e firme a saga BCP cada vez mais embrulhada e requentada, cada vez mais igual ao país que somos. Ficaram aqui umas notas sobre o que mais choca nos recentes desenvolvimentos da saga e que parecem ser aceites, comentados e dissecados com tanta naturalidade.