“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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4.11.08

In Bruges


Não sei bem porquê, talvez seguindo um qualquer cheiro, vi-me sentada numa sala de cinema em frente a In Bruges. Não conhecia o realizador, Martin McDonagh, não sou fã de Colin Farrell (antes pelo contrário), não me lembrava de Brendon Gleeson e Ralph Fiennes não é motivo suficiente para me fazer ver um filme. Nunca tinha lido nada sobre o filme nem visto referência nenhuma. Aliás, dez segundos antes de decidir vê-lo nem sabia que existia. Mas vi e saí agradavelmente surpreendida desta história insólita e estranhissimamente divertida, num lugar tão inesperado quanto insólito mas muitíssimo bem explorado. Num filme em que o ritmo é um andante, a cidade de Bruges (ou melhor, de “fucking Bruges”) funciona como um cenário magnífico, explorando o seu lado turístico e histórico que permite que ela tome conta de grandes planos visuais de efeito dramático - às vezes até pensei em Peter Greenaway - e serve como uma luva a cada pedacinho deste enredo em que o humor negro se mistura com algum fatalismo, muito pragmatismo, e também uma boa medida de contemplação (Ken deslumbrado perante as maravilhas de Bruges), nervosismo (o iniciado Ray cujo primeiro trabalho corre mal) os pudores morais que levam ao desfecho final. O humor é negro mas bem afinado, os diálogos são bons e as interpretações são de excelente nível destacando, por uma vez, Colin Farrell. Enquanto espectadores nunca estamos inteiramente confortáveis, mas não é isso que esperamos de um bom filme?

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