Li na Ipsilon as escolhas em estilo “Best of” de 2008 que estão reproduzidas no blogue Da Literatura. Creio que ninguém resiste a estas listas em que se resume tematicamente o passar de um ano. Como quem fecha um capítulo antes de virar a página para o próximo. Há os resumos dos principais acontecimentos políticos nacionais e internacionais, dos momentos culturais importantes, dos avanços tecnológicos e científicos, dos ilustres que morreram, dos filmes e dos livros que saíram, etc. Ficamos sempre surpreendidos com a quantidade de acontecimentos que cabem num ano e estranhamos o passar tão rápido do tempo tudo parece ter acontecido entre ontem e o mês passado.
Voltando à lista das escolhas de livros da Ípsilon. Não li nem metade dos livros referenciados, embora esteja a ler um e já estejam dois na calha de leituras próximas, mas apesar desta confissão fico espantada por ter visto a “Trilogia do Cairo” de Naguib Mahfouz em décima oitava posição ora, para mim, esta obra mereceria um lugar de topo numa lista dos melhores romances do século XX. Pergunto-me quem é que a terá lido mesmo e que critérios usam para classificar as obras. Bem sei que se trata de um romance já “velho”, isto é, dos finais dos anos cinquenta do século passado e que nunca mereceu nenhum tipo de curiosidade ou entusiasmo português apesar do Nobel atribuído ao autor em 1988 e das excelentes críticas internacionais, mas finalmente é traduzido e editado em Portugal e é recebido com indiferença reverencial, (só assim se explica o lugar na lista) mais do que com aplauso e gosto. A Triologia do Cairo, que li faz muito tempo numa tradução em Inglês, não corresponde aos cânones das obras modernas pois é daqueles romances inteligentes e de grande fôlego, uma enorme saga familiar que se estende por várias décadas que nos remete para escritores clássicos tais como Dickens, Tolstoi ou Flaubert e não para autores contemporâneos nem tão pouco para romances abstractos e “sem história”. É uma obra riquíssima, com histórias – aliás várias histórias dentro da história – e muita História, que retrata uma família, uma cidade, um país em constante mudança política, e os seus costumes, religião, modos de vida e desejos das personagens ao longo desses anos. Tem uma grande panóplia de personagens riquíssimas e psicologicamente densas, que agem numa teia às vezes mais visível do que outras e um pathos muito próprio. É uma obra muito gratificante e que dá um prazer imenso ler, desafiando e desaquietando o leitor, sobretudo o leitor ocidental, mas de uma grande sensibilidade e momentos de verdadeiro lirismo.
Confesso a minha perplexidade perante estas listas que se subjugam a critérios de “moda” e “conveniência” incompreensíveis para leigos que gostam de ler e de bons romances.
Voltando à lista das escolhas de livros da Ípsilon. Não li nem metade dos livros referenciados, embora esteja a ler um e já estejam dois na calha de leituras próximas, mas apesar desta confissão fico espantada por ter visto a “Trilogia do Cairo” de Naguib Mahfouz em décima oitava posição ora, para mim, esta obra mereceria um lugar de topo numa lista dos melhores romances do século XX. Pergunto-me quem é que a terá lido mesmo e que critérios usam para classificar as obras. Bem sei que se trata de um romance já “velho”, isto é, dos finais dos anos cinquenta do século passado e que nunca mereceu nenhum tipo de curiosidade ou entusiasmo português apesar do Nobel atribuído ao autor em 1988 e das excelentes críticas internacionais, mas finalmente é traduzido e editado em Portugal e é recebido com indiferença reverencial, (só assim se explica o lugar na lista) mais do que com aplauso e gosto. A Triologia do Cairo, que li faz muito tempo numa tradução em Inglês, não corresponde aos cânones das obras modernas pois é daqueles romances inteligentes e de grande fôlego, uma enorme saga familiar que se estende por várias décadas que nos remete para escritores clássicos tais como Dickens, Tolstoi ou Flaubert e não para autores contemporâneos nem tão pouco para romances abstractos e “sem história”. É uma obra riquíssima, com histórias – aliás várias histórias dentro da história – e muita História, que retrata uma família, uma cidade, um país em constante mudança política, e os seus costumes, religião, modos de vida e desejos das personagens ao longo desses anos. Tem uma grande panóplia de personagens riquíssimas e psicologicamente densas, que agem numa teia às vezes mais visível do que outras e um pathos muito próprio. É uma obra muito gratificante e que dá um prazer imenso ler, desafiando e desaquietando o leitor, sobretudo o leitor ocidental, mas de uma grande sensibilidade e momentos de verdadeiro lirismo.
Confesso a minha perplexidade perante estas listas que se subjugam a critérios de “moda” e “conveniência” incompreensíveis para leigos que gostam de ler e de bons romances.