O Primeiro-ministro continua o seu percurso de optimismo em visitas e inaugurações relacionadas com as suas áreas favoritas de governação e de onde dificilmente descola: tecnologias de ponta, empresas modernas em equipamento e exportadoras de sucesso (nada contra o sucesso e a exportação, antes pelo contrário, note-se), energias renováveis, e turismo. O país para ele resume-se a estes cenários. No seu mundo ficcional não cabe o “desagradável”. Não há crise, não há falências nem novos desempregados cada dia que passa, não há famílias em dificuldade, não há filas de espera para consultas médicas, não há insucesso escolar, não há défice, não há excesso de peso fiscal, não há mercados financeiros desconfiados, nada disso. Para ele Portugal é um país promissor onde as circunstâncias são favoráveis ao crescimento, inovação e sucesso. Esta ideia é normalmente ilustrada com um leque variado de gadgets considerados “Made in Portugal” e essenciais a um modo de vida actual e moderno. Até aqui, nada de novo, nós já sabemos que o nosso Primeiro-ministro vive no seu mundo e nós no nosso.
O problema começa pela ausência de oposição. O PSD embrulhou-se numa vontade de revisão constitucional (nada contra também) e parece ter resumido a sua oposição ao PS e a este governo nesta proposta. A actual direcção que criticou duramente a direcção de Manuela Ferreira Leite por não “fazer oposição” tem-se pautado pela mansidão. O PSD não se destacou no debate parlamentar da semana passada, e a comunicação social reduziu-o ao episódio “pé no chinelo” que ficará nos anais da história parlamentar como “manso é a tua tia, pá!” (já agora: as expressões faciais do Primeiro-ministro nem precisam da intervenção da equipa de “Lie to Me” para serem “lidas” e conclusivas). O PSD passou despercebido e senti falta da secura e acutilância desprendida, que a comunicação social adorava desprezar, de Manuela Ferreira Leite, a quem o tempo se encarregou de ir dando razão, face a José. Mas o estado de graça de PPC não permite críticas, e o silêncio sobre o PSD impera.