Na recente disputa da liderança do PSD alguns dos vocábulos mais usados eram populismo, elitismo, bases do partido e “PSD Profundo”. Dividiu-se o partido em dois campos: o campo que ganhou de Luis Filipe Menezes, populista e do "PSD Profundo", e o campo perdedor de Marques Mendes, que entretanto saiu de cena (e bem) deixando o campo opositor, elitista (e sulista) com outros rostos que nós já conhecemos, entre os quais destaco Rui Rio por ser um clássico opositor de Menezes. Desde que o conceito de “PSD Profundo” faz parte do discurso partidário actual que eu me pergunto exactamente o que é que isso quer dizer. Excluo o PSD “não profundo”, isto é, aquele que é visível aos não PSDs. Hoje segui aqui e aqui uma troca de ideias que originou esta reflexão. Não sou militante de nenhum partido, e se a vida política e o governo do país me interessam, a vida partidária deixa-me razoavelmente indiferente, por isso desde já confesso a minha ignorância sobre ela. Mas como eu, haverá muitos portugueses que na hora de votar, no partido A ou B, não hesitam e que no entanto nunca atravessaram qualquer sede de partido, nunca foram a nenhum comício, nem a qualquer sessão de esclarecimento. Talvez parte da minha ignorância seja decorrente de uma natural desconfiança por “estruturas”, que se formam e que se mantêm para exercício do poder e influência de forma pouco visível e escrutinada. (Este tema poderia ser objecto de um outro texto, quem sabe um dia?).
Assim, eu pergunto-me qual é esse rosto do "PSD Profundo" de que tanto se fala? (poderia ser o PS Profundo, mas como a actualidade aponta na direcção do PSD tomo-o como exemplo). São os cidadãos anónimos e eleitores que nas eleições nacionais dão maiorias governativas – a Cavaco Silva e agora a José Sócrates, e que elegem os Presidentes de Câmaras? São gentes absolutamente desconhecidas desses mesmos eleitores sem partido, que com inicial entusiasmo se dedicaram ao trabalho partidário e à luta política, que sem se darem conta investiram nisso a sua vida e que passados anos trabalham e se esgrimem com afã para manterem a sua influência, ou o que resta dela, e o seu poder no único mundo que conhecem? Presumo que naquilo a que se chama influência e poder local e autárquico. Ou será o “PSD Profundo” uma imagem de um Portugal Profundo? Daquele feito de consumismo, reality shows, fins de semana e pontes de chinelo no pé, marisqueiras, peregrinações e debates sobre Madeleine McCann, que raramente está satisfeito com o que quer que seja, mas que raramente questiona e se questiona, ou é verdadeiramente subversivo (piercings, palavrões são normalidade). Qualquer uma das hipóteses (que por serem por mim colocadas – e por isso susceptíveis de padecerem de preconceito) me parece má, mas eu tento perceber melhor o que poderá ser esse “PSD Profundo” que parece ser tão decisivo e importante para Portugal por determinar os destinos do principal partido da oposição, e não consigo. Por falha e ignorância minha, admito, mas haverá uma outra imagem do “PSD Profundo” que nós, cidadãos e eleitores sem filiação partidária nem participação política activa, desconheçamos?