When did you last go for a walk under the starry sky? You have lost a leg, I know, and ambulating is no fun; but after a certain age we have all lost a leg, more or less. Your missing leg is just a sign or symbol or symptom, I can never remember which is which, of growing old, old and uninteresting. So what is the point of complaining? Hark!
J. M. Coetzee, Slow Man
Muito do que é este romance está condensado neste breve excerto. Tal como Disgrace, este é um romance de perda. Mas ao contrário de Disgrace a perda aqui tem uma dimensão bem física: a perda de uma perna num acidente que serve de ponto de partida para outras abordagens da perda relacionadas com a degradação física e com o envelhecimento. Nunca se entra num universo escuro, denso ou dramático, pois o romance inesperadamente leva-nos para uma narrativa suave e alegórica, com personagens inusitadas mas humanas e simpáticas e é sempre pautado por um olhar atento, um humor subtil misturado com alguma condescendência e mesmo ternura em relação às fragilidades humanas ou à própria condição de ser quem se é, como se é, onde se é. Ao longo do romance o conceito de “care” e de “love” (“to care” e “to love”) são objecto de reflexão tentando perceber onde um acaba e começa o outro, e se se sobrepõem ou não e em que circunstâncias, e nesse aspecto olha-se, nos capítulos iniciais, para o cuidado hospitalar: médicos, enfermeiros, assistentes sociais, com alguma reserva e distância, uma vez que quem trata é jovem (em contraste com o paciente, que já não o é) e não ama: trata. Também o ser jovem versus o envelhecer é objecto de múltiplas reflexões ao longo do romance, como demonstrei nos excertos seleccionados anteriormente. Sem a intensidade existencial e política, e que é também revelada numa escrita agreste e seca de Disgrace, Slow Man é, no entanto um romance mais lento mas certamente inesperado e inteligente e que é, mais uma vez e à maneira de Coetzee escrito sem palavras a mais, descrições enfadonhas, explicações demoradas, num estilo simples de frases curtas.