“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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7.10.09

Ver Portugal

Há muito que tento não olhar para tentar conseguir nada ver. Este retrato (que refere FJV aqui), é o retrato de um Portugal desleixado, inculto, incapaz de preservar o seu património físico e da memória histórica. O Alentejo tem a sorte de uma paisagem limpa, onde se vê o horizonte. Que retrato faríamos se caminhássemos mais para norte? Por exemplo para o litoral norte, o Alto Minho, que conheço bem, os olhos já não se perdem na paisagem; esbarram sempre num ou noutro mamarracho que o excesso de construção e o gosto discutível impuseram paulatinamente e de forma inexorável impuseram. Na ânsia de modernização e de melhoria de nível de vida das populações, deitou-se fora o menino com a água do banho. As casas de azulejos por fora, ou de tectos múltiplos e sobrepostos, construídas em qualquer local e as churrascarias à beira da estrada surgiram na altura mascaradas de sucesso mostrando quão depressa o dinheiro tinha sido ganho, não são hoje mais do que uma evidência desse Portugal em desleixo, da falta de cultura, de brio e da óbvia decadência dessa ilusão da riqueza. As cidades e as grandes vilas da província prolongam-se hoje ao longo das estradas nacionais sem que nos apercebamos onde começa uma e acaba a outra e sem nunca termos um pedaço limpo de horizonte para respirar, para ver Portugal.

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