Entre as autoridades que “palitam os dentes” (e são a imagem da Autoridade no país), e as “comissões interdisciplinares”, o “bullying” entra para a agenda mediática. Por um lado uma velha tradição do: se apanhares, bate com mais força, aguenta, não faças queixinhas e aprende a ser homem (há também uma versão feminina mais insistente no “aguenta”) pois é assim que se forja o carácter; e por outro lado a nova postura proteccionistas dos pais de filhos hiper desejados e planeados, “ai Jesus, que fizeram mal ao meu menino” e que leva os ditos pais dos ditos filhos hiper desejados, planeados, e agora tiranos, à escola em tom de ameaça ao mínimo desagrado ou empurrão que aconteça à criança que é, de tanto ser desejada e caprichada, incapaz de gerir a contrariedade e que entra logo em “descompensação”. Uma coisa é certa: hoje ser escola é difícil: não há tempo para olhar para os alunos com a atenção merecida quer na sala de aula quer no recreio, onde ninguém vê com olhos de ver. Na sala de aula o professor tem pouca autoridade e muita burocracia; no recreio, onde depressa vêm à tona os comportamentos mais problemáticos há escassez de pessoal qualificado a tomar conta das crianças. Este “tomar conta” deveria pressupor um olhar atento, um detectar de padrões comportamentais diferentes, uma intervenção mais clara, firme e segura no caso de confirmação desses padrões de comportamentos violentos e abusivos. Na escola fecham-se os olhos, ninguém do lado dos adultos tem essa vontade de firmeza e segurança: todos temem as consequências – em burocracia e em contestação pelos pares e pelos pais - de “contrariar” os alunos, de denunciar violências, de impor uma disciplina firme, mas justa. Ninguém já deve saber o que isso é, pois os teóricos da pedagogia e da psicologia que é dada à força aos professores encontram sempre uma explicação e justificação desculpabilizantes para a violência de uns e de outros, fica de fora a vítima que vê desvalorizada uma queixa real. Venham então as comissões multidisciplinares, serão um bom pretexto para criar mais um organismo público: um “Observatório” para violência nas escolas. Se não fosse trágico, apetecia rir. O bullying é só mais uma face da enorme violência e indigência do quotidiano do mundo em que estamos, e em que também o respeito que o outro merece é secundarizado face a proveitos e satisfações mais imediatos.
“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
holehorror.at.gmail.com
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11.3.10
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