“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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28.3.10

O PSD de Pedro Passos Coelho Não Faz a Diferença

Pedro Passos Coelho ganhou de forma inequívoca a corrida a líder do PSD. Os militantes do PSD não deixaram dúvidas sobre quem preferiram. Alguns dentro do partido farão as suas leituras e encontrarão as devidas explicações. Duvido, no entanto, que esta vitória corresponda ao desejo daquela que é a maioria do eleitorado tradicional do PSD e que não vê uma diferença substancial e clara entre José Sócrates e Pedro Passos Coelho. Fica a sensação de que a vontade dos militantes não é a vontade daqueles que, não sendo filiados em partido algum, constituem o eleitorado tradicional e mais ou menos fixo do PSD, e fica a sensação de que os militantes do PSD se fecharam no partido em vez de se abrirem para o país. Será interessante verificar se estou ou não certa, mas este possível desfasamento deveria ser motivo de atenção (e eventualmente preocupação) para PPC .

A maioria do eleitorado PSD, está farto de José Sócrates, dos seus equívocos, inverdades, conhecimentos informais, curriculum, da sua falta de consistência, dos seus anúncios de medidas bandeira do optimismo, do seu marketing político, das suas frases feitas. A maioria do eleitorado do PSD não gosta do “socialismo”, seja ele ideológico ou só nominal, histórico ou Terceira Via, genuíno ou "caviar", e quer uma alternativa política não socialista e credível para o desenvolvimento - eu sei que esta palavra está carregada de “optimismo” e talvez fosse mais realista falar em “evitar o colapso” – do país. A maioria do eleitorado do PSD sabe que isso só se faz com reformas estruturais e, ao contrário do eleitorado socialista, deseja, quer, anseia por essas reformas. Os socialistas evitam-nas e não querem nem sabem fazê-las. Como será, na prática Pedro Passos Coelho diferente de José Sócrates? A maioria do eleitorado do PSD não gosta de clientelismo, da promiscuidade entre o estado e as empresas privadas. Os socialistas, em José Sócrates, arranjaram o expoente máximo da promiscuidade entre o estado e o sector privado. Estará Pedro Passos Coelho ao abrigo desse clientelismo?

Ao ser eleito pelos militantes do PSD, PPC terá que fazer mais, melhor e diferente: terá que falar para fora do partido se quiser também ser eleito Primeiro-ministro, e terá que demonstrar através de uma forma consistente e séria de fazer política - e descolando dos exageros de "imagem" de que abusa o actual Primeiro-ministro, que é capaz dessa mudança de que fez título de livro, e de que é, não só uma alternativa credível ao socialismo e a José Sócrates, como também uma alternativa sólida a Paulo Portas, em quem tantos eleitores tradicionais do PSD já dizem que votarão. Não acredito que seja com PPC que o PSD fará a diferença.


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