Diz-se aqui, a propósito do aniversário (octogésimo) da morte de D. H. Lawrence (a Serpente Emplumada, por exemplo, marcou a minha forma de ver e sentir o México) que "de qualquer modo, lady Chatterley, hoje, está no poder". Que ela está, está. Mas se é no poder eu já não sei - pensei com os meus botões ontem, logo depois de ler o post. Lembrei até a violência doméstica e no que ela “dá” em poder a todas as lady Chatterleys que eventualmente estejam ou sejam cada mulher. O Francisco José Viegas é um optimista, ou melhor, um ficcionista.
Ainda ontem, mas ao fim do dia, enchi o tanque do carro na Galp e paguei mostrando o meu cartão “Fast Woman” (um nome que poderia ser, neste nosso mundo acelerado, um ersatz de Lady Chatterley). Tenho destes cartões que esqueço de converter em bens - que muitas vezes não preciso, por isso ainda bem – e que até hoje só serviram (o da BP, não o da Galp) para comprar bilhetes para o Rock in Rio, (onde nunca fui, note-se). Voltando ao pagamento: perguntaram-se se queria comprar um chocolate que dava pontos extra para o cartão. Não obrigada. Ofereceram-me o jornal i, sim obrigada; e o senhor da caixa perguntou-me se queria a Happy. Não obrigada. Mas é oferta, insistiu. Oferta? Sim, para as senhoras que gastem acima de um determinado montante. Embora cabendo nas duas categorias, recusei novamente porque sei como é a Happy, sei que mesmo que a abra não a lerei, e tenho pouca vontade de trazer tralha para casa. Mas esta é a última e a senhora vai gostar, insistiu o senhor da caixa enquanto me passava a Happy para as mãos.
Cheguei a casa e olhei para a capa. Entre outros assuntos a abordar no interior da revista, são anunciados estes dois interessantes temas: “SEXO: Inquérito revela o que elas querem” e ao lado, “QUER SER INFIEL? Site propõe-se a arranjar-lhe um amante”. Pensei novamente na lady Chatterley de Francisco José Viegas e na ilusão de que ela, hoje, está no poder. Não está, a realidade é outra: tem muitas vezes mais a ver com trabalho árduo e pensões alimentares para filhos que nunca são pagas a horas, quando o são. Não se deixe enganar pelas Happys e Cosmopolitans que se publicam e que enchem de ideias chatterleyanas raparigas e mulheres da cidade e do subúrbio.