“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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20.11.08

Sair de Cena 2

Por vezes olho intrigada para uma determinada personagem do xadrez da actualidade e só consigo perguntar-me porquê: porque é que foi o que foi, porque é que é o que é. Tem sido recentemente o caso com o Governador do Banco de Portugal (BP) Victor Constâncio (VC), uma figura desconfortável. Nunca mostrou, desde a célebre auditoria às contas do país após os governos PSD e ao número de 6,... a que chegou para o deficit e tão diferente do que era então afirmado pelos ministros do anterior governo, uma verdadeira isenção e desprendimento político: a sua camisola do PS e o seu interesse foram sempre bem patentes no exercício do seu cargo. Portugal agora tem o Euro e as políticas monetária e cambial já não são atributos do BP, as suas atribuições e competências diminuíram drasticamente e libertaram (infere-se) recursos afectos a essas áreas, por isso esperava-se que o banco exercesse as suas funções de supervisão com redobrada competência e eficácia. Não foi o caso. A um enorme escândalo (BCP) segue-se outro de dimensões ainda por perceber (BPN); isto sem me referir às dificuldades e falhas de supervisão que a actual crise internacional veio detectar de forma generalizada nos diferentes países. Também não falo da polémica venda de ouro - concentro-me só nas evidentes e chocantes lacunas de supervisão do BP e creio que estas são suficientes para deixar qualquer pessoa num cargo de maior responsabilidade desconfortável, mas o que me espanta é que não deixa. VC continua com o mesmo ar apregoando que dorme descansado de noite e se nunca agiu de má-fé não tem razão para perder o sono, mas tem razão suficiente para repensar o seu cargo e a pertinência em o manter. A questão não é de má-fé, é simplesmente a de não cumprimento eficaz das suas funções; de incompetência, seja por desleixo, por preguiça, por inércia, ou por outro motivo qualquer.

O Banco de Portugal não fez o que deveria fazer, não esteve onde deveria ter estado, e alguém deve responder por isso. Ao constatar este facto percebe-se que uma época da história do BP acaba agora e uma nova era se abre. Constâncio pertence ao passado e ele já não é mais do que uma sombra: é isso que nós de fora vemos. Muitos pedem a sua demissão, e eu pergunto-me porque é que ele próprio não põe o seu cargo à disposição. Porque é que é sempre tão difícil perceber a mudança, perceber que o hoje já é outra coisa, porque é tão difícil sair de cena.

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