“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
holehorror.at.gmail.com

30.9.09


A guerra com o governo está comprada pelo Presidente da República, e não me parece que tome decisões políticas pensando num segundo mandato, e que tal perspectiva o condicione. Agirá sempre em função do que ele considere (bem ou mal) o superior interesse da nação. Cavaco Silva não é Mário Soares nem Jorge Sampaio.

Adenda: O discurso do PR bem dissecado aqui. A ler também esta nota e mais esta.


Parece que o Governo Francês tomou juízo. Isto de haver cidadãos acima da lei só porque são "conhecidos", fazem filmes, são intelectuais (normalmente de esquerda, pois com os de direita há geralmente menos complacência) ou são "amigos" é um pouco escandaloso em estados de direito.

Espuma dos Dias que Foram 26

29.9.09

Manuela Ferreira Leite e o PSD

Estou certa que após as eleições autárquicas Manuela Ferreira Leite porá o seu lugar de líder do PSD à disposição do partido. Ela sabe que foi derrotada nas legislativas e acredito que ela tem o mérito de não precisar que ninguém lhe lembre esse facto.

Não sou filiada no PSD, nem sou dada a grandes fidelidades institucionais, mas sei que só o PSD pode construir uma alternativa governativa a José Sócrates e ao PS. Por isso não é Manuela Ferreira Leite, com todo o mérito que teve, tem e terá, e respeito que me merece, que será a imagem da construção dessa alternativa. O que ela representa, sim, e isso é um inegável mérito seu: o facto de ser credível, ser igual a si própria, recusar transfigurar-se no que não é, não prometer o que não pode e evitar sistematicamente seguir o script da comunicação social ou responder às suas expectativas. Esta forma, às vezes desajeitada e com erros, concedo, teve sempre “má imprensa” e deu sempre aso a críticas e notas negativas dos comentadores e dessa nova casta (pseudo)-científica e independente (?) a que chamam politólogos. Eles confundem verborreia com facilidade de comunicação, exultam a “coerência narrativa” (palavras caras a Ricardo Costa) esquecendo o debate político e de ideias, confundem discurso populista e simplismo com simplicidade e clareza de intenções e ideias.

Não gosto da política que se fabrica para “ter boa imprensa”, a política dos comícios com música de “criar ambiente” tanto ao gosto do PS, de cenários e de chavões tipo “política pela positiva”. Às vezes gostava que a imprensa desconstruísse esses chavões tentando perceber o que são realmente e o vazio que encerram. Não gosto de políticos excessivamente flexíveis sempre prontos a moldarem-se às ocasiões e às expectativas, definidas pelas agências de comunicação, e esquecendo o essencial da sua política e o supremo interesse do país. O PSD de Pedro Passos Coelho ou de Luís Filipe Meneses não me interessa absolutamente nada, mas como acredito que só nele (PSD) se encontra uma alternativa a JS, espero que encontre um outro líder que, como Manuela Ferreira Leite, seja sério, credível e competente. Não faltarão seguramente candidatos que o sejam e que espelhem melhor a necessidade de renovação do partido que a própria MFL, e antes dela Marques Mendes, se propuseram fazer.

Pior do que ser um político medíocre é ser medíocre, e quando isso acontece não há agência de comunicação ou meios tecnológicos que, por muito que façam e tentem, consigam colmatar esse vazio da mediocridade. Um dia todos veremos que o rei vai nu.
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28.9.09

São Rosas, Senhor... 6

Andy Warhol
Untitled from Flowers
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27.9.09

Venceu “o Sócrates”. Venceu o Senhor Engenheiro. Venceu o optimismo de pacotilha, a política feita de belos cenários, músicas que enchem o coração, e frases pensadas, ensaiadas e repetidas ad nauseam. Venceu “ter-se boa imagem”. Venceu o parecer em vez do ser. Venceram as máquinas partidárias que fizeram ganhar ou perder as eleições. Venceram as agências de comunicação. Venceu a relação difícil com a verdade. Venceu o discurso político grau zero. Venceu o marxismo, leninismo e afins.

Venceu mais um tabu de Cavaco Silva.

Que país de treta.

Coisas que se Podem Fazer ao Domingo 41


Segurar um edifício.
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25.9.09

Ouço comentadores na RTPN - que passou em directo largos momentos do comício de encerramento do PS, incluindo compassos de espera de José Sócrates à saída - a falar de um “outro José Sócrates” que surgiu e aparece desde a derrota das europeias a fazer um trabalho de (re)construção. Menos arrogante, menos "animal feroz". Os comentadores falam nisso como que a louvar essa "mudança", uma inteligente táctica do actual Primeiro-ministro. Ora para mim, é precisamente o contrário: é porque José Sócrates se pode oldar de uma ou outra maneira, de um ou outro estilo, é por causa dessa flexibilidade de “ser”, que eu não o quero mais para Primeiro-ministro. Há também, como é óbvio e como ao longo dos tempos tenho aqui escrito, o problema das suas políticas, ou melhor das suas medidas casuísticas, da sua falta de visão política que se esgota na enunciação do optimismo e determinação - mas tão mau ou pior do que a política que faz, é essa falta de verdade em conseguir ser aquilo que é, essa necessidade constante de ser "outro" conforme as circunstâncias e conforme o guião que especialistas de comunicação preparam para ele.

Tudo o que Manuela Ferreira Leite não é, nem representa.
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Dando Excessivamnte Sobre o Mar 48

Paul Signac (1863-1935)
Setting Sun
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24.9.09

Juntos, Quê?

Estávamos à conversa sobre o facto de tudo ter significado (meaning) quando passámos pelo último cartaz “Avançar Portugal”´do PS em versão gigante (que se pode ver aqui). Olhámos o cartaz e perguntei o que é que um político de braço esticado lhe fazia lembrar. Hitler, foi a resposta imediata. Lembrei também Mussolini, Lenine e Kim Ill Sung retratados em conhecidas estátuas sempre com um braço à frente - porque nada é inocente nunca, muito menos em campanhas profissionais pensadas ao milímetro, e que gestos e palavras nos remetem para significados que cada um encontra na memória, ou por associação de ideias, seja como for que não sou psicóloga. A imagem de ditador que pode surgir é imediatamente suavizada pelo sorriso e pelo polegar "fixe" e optimista, reforçando o sentido da determinação e autoridade em detrimento da repressão. A fotografia feita para apanhar José Sócrates levemente de lado dá um registo de informalidade e “glamour”. Resumindo a fotografia tentar dar-nos informação sobre tudo aquilo que José Sócrates pensa que é, e tudo o que ele quer que pensemos que é. Não me lembro de ter algum dia visto cartazes tão cuidados como estes do PS.

Depois vem a parte afectivo-colectiva e pirosa do cartaz. O verde e o vermelho a lembrar a bandeira nacional, com José Sócrates no meio, qual esfera armilar. A essência do “ser” português, o Portugal que se confunde com ele, o Portugal no centro da sua decisão, e José Sócrates no centro da nossa vida, o “rei-sol”, a nossa identidade, a salvação. Quanta presunção num só cartaz!

Finalmente a mentira: o sempre presente “nós” do “Juntos Conseguimos” que simplesmente não existe, e pelo qual ele tem desprezo, por muitas criancinhas e velhinhas que beije na campanha. José Sócrates sempre esteve só na decisão, nas rédeas do poder, e no seu pedestal, e o seu horizonte quer visual quer político, de decisões e projectos, deve ter pouco mais de 50cm de diâmetro o que o tem tornado cego para a realidade do “nós” dos portugueses. Ele só perceberá, (que a vida é cruel por muito optimismo que se ingira em cápsulas ou mantras) o quão só está quando perder eleições.

O "conseguimos" um intemporal modo verbal (passado e presente que se projecta para o futuro), é todo um programa. Ao certo o que é que "conseguimos" nestes últimos 4 anos? O que é que ao certo "conseguimos" hoje e nos próximos 4? Estas são as perguntas certas a fazer. Pois conseguir nos próximos 4 anos o que "conseguimos" neste últimos é uma perspectiva nada animadora. Se respondêssemos seriamente a estas questões, José Sócrates nunca deveria ganhar as eleições do próximo Domingo.
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21.9.09

Caro Gabriel Silva, trata-se de uma dessas afirmações que não dizem nada. O que interessa é saber se é melhor que vença o PS ou que vença o PSD, mesmo que não mereça (este "mereça" é todo um programa). Enquanto se espera a perfeição ou El Rei D. Sebastião o país vai-se afundando cada vez mais em dívida e a liberdade vai encolhendo até se revelar mais um conceito de plástico. Agora é escolher.
(Em comentário ao post do Blasfémias)



Para além do que se diz aqui e aqui, seria interessante saber se para além da “alegada” “agenda política oculta do Público” existe uma agenda política “oculta” do Provedor do Público. Agora os esforços do Público devem concentrar-se em saber quem é que disponibilizou os emails internos do Público ao DN e ao Expresso, porque sendo o jornal Público o outro dos alvos a “abater” de José Sócrates - uma vez que a TVI já foi - criar no jornal um clima de trabalho onde impera a suspeição, divisão e desconforto é uma boa forma de começar. Só não vê quem não quer.
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20.9.09

A Espuma dos Sias que Foram 26

Alegado

Alegado(a)(os)(as) é uma palavra sem a qual seria impensável viver no nosso país. Há meses que “alegado” entrou de rompante no nosso vocabulário. O “alegado” é um ersatz da verdade, que em democracia é normalmente apurada pela investigação e pela justiça, verdade essa que , ninguém realmente procura ou quer, pois tem sido sistematicamente substituída por “alegados” qualquer coisa, que inundam os meios de comunicação social, e o pathos colectivo. São “alegados” os faxes, os e-mails, as pressões, as conversas, as acusações, as intenções, os negócios, etc.

Parece que vivemos de “alegado” em “alegado” e que a comunicação social a um ritmo constante alimenta os seus leitores e ouvintes de novos casos onde abundam os “alegados” que fazem os casos dos quais eles, e nós, vivemos. Este período de campanha eleitoral tem sido especialmente fértil em casos concentrando-se pouco no debate sobre o essencial: José Sócrates governou bem nos últimos quatro anos ou governou mal? Porque é que não governou bem, o que fez mal, o que não fez. Se governou bem o que é que fez. O país está melhor? Os portugueses estão melhores? Queremos ou não queremos que ele seja o próximo Primeiro-ministro? Estas matérias estão sistematicamente ausentes das primeiras páginas dos jornais, e do debate público, nomeadamente televisivo porque os casos e os respectivos “alegados” enchem a campanha. Já foi assim após os debates televisivos entre os líderes partidários em que os comentadores se concentravam sobretudo em aspectos formais ou no caso e nos “alegados” do dia. Mas como o país está anestesiado e habituado a seguir um caso e respectivos “alegados” após o outro, já nem estranha a ausência de um verdadeiro debate político, nem o reivindica
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18.9.09

Ontem na Quadratura do Círculo, António Costa afirmou saber de onde ressurgem as notícias (já antigas) da compra de votos no PSD de Lisboa, e afirmou peremptoriamente que elas tinham origem dentro do próprio PSD. José Pacheco Pereira anuiu com um acenar de cabeça, e essa afirmação deu origem a uma intervenção de António Lobo Xavier sobre o PSD, destacando o facto de dentro do PSD haver uma intensa, feroz e fratricida campanha contra Manuela Ferreira Leite, ao ponto de um determinado sector do PSD, conhecido e com rosto, preferir a vitória do PS de José Sócrates à vitória de MFL. ALX foi muito claro e os outros presentes não só não protestaram como estiveram de acordo. Nada que não se soubesse ou percebesse pela marcação cerrada feita a MFL e pela constante má-fé com que ela é olhada, seus actos dissecados e suas palavras criticadas e objecto de interpretações criativas. Mas agora que tudo foi dito, explicado e afirmado nomeadamente por pessoas que representam sectores e interesses diversos do espectro político nacional, parece que já não sobram dúvidas a ninguém.

Por isso creio que vale a pena repetir alto e em bom som, e - parafraseando Paulo Portas na sua frase fetiche desta campanha – falando claro e em bom português:

NINGUÉM ESTÁ MAIS INTERESSADO NUMA DERROTA DE MANUELA FERREIRA LEITE – E NA CONSEQUENTE VITÓRIA DE JOSÉ SÓCRATES - DO QUE UM CERTO SECTOR DO PSD.

Aguardo os desmentidos na comunicação social.
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Amanhecer 16

Há uns dias
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17.9.09

Erros Políticos e Casos Mediáticos

No Delito de Opinião, Pedro Correia faz um exercício em que enuncia os dez maiores erros de Manuela Ferreira Leite e os dez maiores erros de José Sócrates, mas eu creio que tal exercício se revela faccioso uma vez que coloca os supostos erros de MFL ao mesmo nível dos erros de JS. Isso não é, nem pode ser visto assim. José Sócrates, para o bem e para o mal, (muito mais para o mal do que para o bem, na minha opinião) é o Primeiro-ministro do país e compete-lhe governar e tem que ser responsabilizado pelo resultado da sua governação. Os erros que Pedro Correia lhe aponta e cujo enunciado não discordo em termos genéricos (embora faltem alguns importantes como a sua complicada relação com a verdade) são por vezes abordados de uma forma mais superficial e casual (TVI e Público) não expondo, por exemplo, a sua política de controle (cartão do cidadão, chip do carro), possíveis escutas, controle da RTP e influência nítida noutros órgãos de informação, pressões sobre a justiça; nem expondo a sua política de anúncios e medidas diários e encenações coreografadas, a abundância legislativa de qualidade duvidosa, entre outros casos. São omissões que me parecem importantes, pois definem um estilo de política e uma forma de ser político.

Manuela Ferreira Leite, não tem, nem pode ter, o mesmo curriculum de “erros”, eles não têm o mesmo peso e resultado dos erros de JS. Não são comparáveis sequer e listá-los como iguais parece-me uma forma de distorcer a realidade e absolver a responsabilidade de José Sócrates enquanto Primeiro-ministro. MFL apresenta-se como alternativa a Sócrates. Os seus erros listados por Pedro Correia, e com os quais não concordo (com excepção do erro nº 3, e parcialmente com o nº8), não são erros políticos, nem de política com excepção do caso nº2, que é uma opção da líder. Ao contrário dos erros de José Sócrates - estes são "casos", presunções e ilações tiradas por comentadores e opinadores, e não factos políticos. Nem sequer são enunciados erros sobre as políticas propostas no programa de governo, ou falhas - específicas -do mesmo. Só se apontam “casos” em vez de políticas. Confundir, num óbvio lapso IRC com IRS não pode ser encarado como um erro político, só um preconceito contra MFL pode explicar que se olhe para esse lapso como um erro e que possa ser comparado com os erros de José Sócrates.

Eu sei que a comunicação social se ocupa mais dos “casos” do que da política, e vive dos “casos”, para os quais tem sempre apontado um microfone e virada uma câmara, e que são mais mediáticos e fáceis e menos incómodos e "difíceis" do que a política. Assim, e nas televisões, rádios e jornais vemos sucederem-se “casos” uns atrás dos outros. Todos parecem querer esquecer o que realmente está em causa, como diz João Gonçalves, e que o que vamos julgar é o governo de José Sócrates, olhando para o país e vendo que está pior hoje do que há quatro anos atrás. O voto vai sobretudo dizer se queremos mais do mesmo. Como se costuma dizer, em democracia são sobretudo os governos que perdem, e não as oposições que ganham. Por isso, e por muito que a comunicação social queira com a sua intolerância, impaciência e má fé face a MFL, não são as suas supostas (ou não) gaffes, lapsos, comentários menos felizes, casos (alegados ou não) ou até um raciocino imediatamente toldado por uma sintaxe incompreensível, mas que deu luta e teve graça, sem tentar ser engraçada, na entrevista dos Gatos Fedorentos, que vão a votos. José Sócrates e o que ele fez em quatro anos de governo é que sim.
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15.9.09

Dias de Verão 15

Pierre Bonnard (1867-1947)
Earthly Paradise
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13.9.09

A Problemática das Marquises

Logo nos primeiros momentos do debate de ontem, Manuela Ferreira Leite marcou pontos, distanciando-se do seu rival José Sócrates ao expor de forma ousada e frontal a sua “credibilidade” de uma vida construída com trabalho, quer académica quer profissionalmente. Houve quem lhe levasse a mal tal exposição (preferiam certamente vê-la a dizer que chora a ver filmes românticos no programa “como nunca os viu" da SIC). Houve quem o considerasse falta de delicadeza, coisa que não se entende, pois ela tem todo o direito de se orgulhar do seu percurso académico e profissional. Que culpa tem ela de não ter assinado projectos de marquises ,nem de ter tirado uma licenciatura a um Domingo ,nem tão pouco de ter feito uma cadeira universitária de Inglês Técnico por fax? É isto que melindra os comentadores e opinadores, porque há um pacto de silêncio sobre o percurso do Primeiro-ministro e lembrá-lo desagrada a José Sócrates. So what? Mas porque teria MFL que se calar e pactuar com esse silêncio? Não só fez bem, como se demarcou de um certo estilo de “ser” que ela não "é". Mostrou frontalidade e coragem, valores pouco usuais neste país de consensos, paninhos quentes e amiguismos. Mas a sua frontalidade não ficou por aqui.

Ao longo do debate MFL marcou pontos trazendo a política para a mesa e deixando de lado a propaganda, a demagogia e as frases decoradas tão do agrado de JS. Foi assim na análise que fez da economia portuguesa antes da crise internacional ousando dizer que esta só foi boa para JS que se serve dela para esconder as suas más políticas económicas e justificar os maus indicadores económicos nacionais. Foi assim ou lembrar a recusa de José Sócrates em ver a crise económica internacional e reconhecê-la tarde. Foi assim ao recusar falar de casos da justiça, mesmo em seu benefício. Foi assim com a crítica que fez a JS de não ter falado toda a verdade sobre as pensões, a desvalorização das ditas até 50%. Foi assim sobre a pressão espanhola no caso do TGV, apesar de ter sido um pouco confusa a formulá-lo. Foi assim sobre a política económica da ajuda e do subsídio em vez de uma política de promoção da riqueza, que lhe valeu um momento genuino e politicamente incorrecto, e por isso tão criticado quando menciona o caso da criança que mata os pais para se dizer orfã, perante o ar escandalizado e reprovador de José Sócrates, o guru do politicamente correcto. MFL não é fotogénica, nem tem talento retórico para embasbacar os simples nem tão pouco para agradar a quem (por má fé, ou incapacidade) não queira perceber o que ela diz. Mas as suas ideias políticas são claras como água, e quando não são ela diz que não sabe, que não promete, que não se pronuncia. Manuela Ferreira Leite pode não resolver os problemas todos do país, nem é um génio político infalível, mas é credível, frontal, educada apesar de não ceder a nenhum tipo de complacências, e colocou quase sempre José Sócrates à defesa.
(continua)
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12.9.09

Espuma dos Dias que Foram 25

11.9.09

Os Políticos que Choram

Esta mania de fazer entrevistas a políticos em que à viva força se tenta encontrar a “outra face” deles, o seu “lado escondido”, deve ter um propósito qualquer que, para além do básico voyerismo à maneira do reality-show que parece dar audiências, me escapa e cujo objectivo político, por mais que tente, não entendo. Mas deve ser problema meu. Falo dos programas da SIC que passaram esta semana às 19h. Não vi um programa sobre Manuela Ferreira Leite, nem sei se ainda o vão passar, ou se não o fizeram.

Pergunto-me se é interessante ou proveitoso saber que os nossos políticos choram todos (surpresa!) nomeadamente a ver ver alguns filmes românticos, José Sócrates gosta de finais felizes (o optimismo sempre em alta), Jerónimo de Sousa (que lembrou a comoção de E Tudo O Vento Levou) também confessou preferir finais felizas e destacou a ternura e as qualidades humanas que triunfam nalguns deles. Louçã – mais à vontade nos transportes públicos do que na sua casa - considerou o E.T. um dos filmes românticos do nosso tempo. Também me questiono sobre a utilidade de ouvir uma prelecção estéril e oca de José Sócrates sobre o humor “fino” e outra sobre poesia, ouvindo-o falar do seu deleite a ler a Ode à Noite (palavras dele que eu não sei bem a que se refere) de Ricardo Reis e como seria interessante instituir (ou obrigar, não lembro a palavra, mas a ideia era esta) nas escolas, presumo, uma hora de leitura diária de poesia. Nem comento a ideia de “obrigar” que isso é uma segunda natureza para José Sócrates, mas penso só o quão divertido isso seria em alunos que só no 9º ano de Português têm o primeiro contacto formal com os clássicos da nossa literatura.

Como se isto não bastasse vimos em pormenor o sashimi e sushi que Paulo Portas – que parecia bem à vontade neste registo - ia comer e cujo paradeiro o preocupou e ficamos a conhecer as propriedades terapêuticas (palavras minhas) que o design de interiores tem para ele, nomeadamente quando se afastou da política. Churchill, Corto Maltese e Sharon Stone são personagens marcantes para ele. A ideia da entrevistadora de interrogar os netos de Jerónimo de Sousa, sobretudo o mais velho, sobre se gosta de ver o avô na televisão, se é amigo do avô, se gosta do avô, se lhe diz que o gosta de ver na televisão, porque é que é amigo dele, e porque é que gosta dele, não lembra o diabo. Para quê tanta pergunta e insistência a uma criança tão nova? Que interesse pode isso ter? Poderia citar outros exemplos de banalidade disfarçada de ver “como nunca vimos” os nossos políticos, mas creio que estes chegam.

A concepção do programa é desinteressante, sobretudo em época eleitoral onde há pouca inocência e muito combate político e nada se faz ou diz sem ser medido e pesado; para além disso a entrevistadora não ajudou: deu pouco espaço aos sujeitos do programa e forçou demasiado a porta da casa (a intimidade) para além de ter adaptado pouco o registo a cada um dos entrevistados, repetindo e insistindo nas mesmas perguntas: parecia obcecada por saber se os políticos choravam, e por saber se eles já tinham excedido os limites de velocidade. Como se isso revelasse algo inédito e como se alguém se surpreendesse. Tudo espremido fica pouco: meia dúzia de lágrimas, que nesta altura mais não são do que de crocodilo.
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10.9.09

Dias de Verão 15

Pablo Picasso
Nude under a Pine Tree
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9.9.09

O Preço da Compaixão

Enquanto que por cá se debate e se debatem os debates e se espera pelos debates, algo de verdadeiramente bizarro se passa noutro canto no mundo. Desta vez em África, Primeiros-ministros africanos reunidos para celebrar o 10º aniversário da União Africana, aplaudem Megrahi que em 1988 fez explodir o voo da Pam Am sobre Lokerbie matando 270 pessoas. Os escoceses libertaram-no por uma questão de compaixão. Ele é recebido na Líbia como um herói e é aplaudido por solidariedade. Solidariedade porquê? Por ter cometido um acto terrorista em que matou 270 pessoas inocentes? O mundo está perigoso. Nada que realmente nos devesse surpreender. Só quem teima em não ver os sinais pode fingir espanto, pois eles andam por aí, e não faltam exemplos como a recente polémica em França dos “burkinis” e seu acesso (ou não) às piscinas municipais. É só uma questão de não querer fechar os olhos e de não olhar para o lado. O pior, e o que mais nos ameaça, é ter que medir o preço da compaixão (um valor que tem o seu lugar na nossa sociedade) pois pode começar a ser demasiado elevado.
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A Espuma dos Dias que Foram 24

(Clicar para aumentar)
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É verdade que José Sócrates “encostou” Francisco Louçã e ainda bem. À custa do seu (de JS) conforto da obra feita, uma convicção sua (de JS) que empenhadamente acarinha, e do delírio dos números bem trabalhados e estudados – gostei especialmente dos 130.000 empregos criados pelo governo, (por ele JS), antes da crise internacional, número que até agora não vi ninguém contestar ou pelo menos pedir uma explicação. Mas José Sócrates tem a vantagem de estar no poder e de decidir, algo que FL nem em sonhos nem em delírios imagina como seja. É essa leviandade que lhe (FL) permite abrir a boca e aceleradamente encadear frases demagógicas umas atrás das outras, que esbarraram nalguma realidade do poder e de quem (bem ou mal) decide. Claro que a visão da realidade e do país de José Sócrates é muito artificial e muito feita em laboratório de imagem e marketing, o que por vezes nos dava a sensação de ouvir um debate sobre uma outra dimensão, outro país, outra realidade, tão longe estavam os dois do país real. Um exemplo desse “desfasamento” foi a preocupação (ouvida pela primeira vez) de JS com a classe média e o cuidado em a demarcar do cliché “os ricos”, repetido ad nauseam ao longo da sua legislatura e inspiração para coisas absurdas que empobrecem ainda mais e pobre classe média como a “taxa Robin dos Bosques”. Outro exemplo é a afirmação de JS sobre (cito de cor) a maior crise do século no mesmo dia me que o INE anuncia o fim da recessão técnica ( a expressão “técnica” é toda um programa). Afinal onde estamos?
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7.9.09

Hoje Tropecei Nisto...

... Que se pode ver AQUI e AQUI.
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No debate de ontem entre Manuela Ferreira Leite e Francisco Louçã, era impossível não notar, por trás de uma atitude calma e tranquila, a impaciência – ou mais prosaicamente falando, a falta de pachorra, pois é disso que se trata - de MFL face ao discurso de FL. Francisco Louçã é um desses talentos falantes com qualquer coisa de mecânico e automático que parece só precisar que se insira uma moedinha para termos o benefício de um discurso empolgado e retórico, cheio de palavras frases feitas e ideias de esquerda marteladas para ouvidos modernos e ressabiados ou para aqueles que ainda não se tenham conseguido libertar do “complexo de esquerda”. Não importa a verosimilhança do que diz, o compromisso responsável do que propõe ou a honestidade interpretativa de coisas que só ele lê onde elas não estão. Tudo isso é secundário face ao caudal inesgotável (e tão irritante, meu Deus) de palavras que lhe saem da boca. MFL não sabe bem lidar com isso: não lhe está na natureza, e parece não ter interesse em querer aprender e saber dialogar “ao metro”. Momentos houve, no debate, em que me pareceu notar nela umas pequeníssimas pausas, como que uma “ausência” brevíssima de quem ainda não acredita que está ali, a debater com aquele que não se cala mas que diz nada (eu sei que este “nada” seria merecedor de um outro texto, mas o ataque aos “ricos” e os temas “fracturantes”, entre outros, já têm sido merecedores de atenção) e do qual tudo a separa. Um bom treino para o debate com José Sócrates.

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