“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
holehorror.at.gmail.com

29.4.08

Mark Rothko (1903–1970)
Untitled, 1954

Crise Alimentar

Há qualquer coisa de realmente perverso na ideia de uma crise alimentar, na possibilidade que se desenha de escassez de alimentos face às constantes subidas de preços dos cereais nos mercados de mercadorias, e das subidas de preço previsíveis para os supermercados. Há décadas que se diz que há comida para todos no mundo, nós (o mundo ocidental, claro) é que não queremos ou sabemos distribui-la. Que o que se produz é mais do que suficiente para alimentar a população mundial. Falou-se de um excesso de produção de leite e houve um tempo de montanhas de manteiga que a então CEE impedia de circular, bem como subsídios para que agricultores deixassem de produzir. Não percebo nada. Toda uma vida a fazerem-me acreditar, e a tentarem dar-me má consciência, que o problema da alimentação era um problema de distribuição e má vontade das nações “ricas” bem como dos efeitos dos malévolos agentes económicos. Afinal parece que andei a ser enganada, a questão da escassez coloca-se afinal.

28.4.08

Plataforma contra a Obesidade 38


Jan Davidz de Heem (1606-83)
Still Life with Glass and Oysters

24.4.08















Hoje há festa em Belém.

Velas 12

Tejo ao fim da tarde. Diria que é a "Sagres". Lindo.
Vale a pena aumentar, vê-se a vida a bordo.
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23.4.08

Já está. Discretamente, suavemente, ninguém parece muito incomodado, ninguém parece muito interessado, ninguém parece muito informado. Até agora não doeu, veremos mais tarde os efeitos secundários.


Autópsia de um Crime (Sleuth)


Quatro homens levaram-me ao cinema, a saber: Jude Law, Michael Caine, Harold Pinter e Kenneth Branagh, por esta ordem. Vi o que esperava ver, confesso que não esperava muito mais. Um Jude Law que dantes era quase só um homem bonito demais, com uma voz bonita demais e um sotaque composto demais e que a pouco e pouco se vai libertando dessa imagem e se vai fazendo um belo homem, um bom actor com a bela voz de sempre. Michael Caine é Sir Michael Caine e sobre ele e as suas composições não há muito para dizer: representa como quem anda ou come e bebe, prende-nos ao ecrã e mantem uma voz belíssima e o sotaque que sempre o caracterizou. O filme não funciona como filme: uma realização complicada e exagerada (ai Kenneth Branagh!) cujo propósito não entendi – cinema ou teatro filmado? Resultou um objecto híbrido sem grande nexo, às vezes um pouco pastoso num cenário demasiado pomposo, e onde a ausência de uma trama e de um fio condutor o ajudam a tornar algo estéril e desajustado. Mas, mesmo assim fiquei presa. Os actores exibiram um certo virtuosismo defrontando-se com algum afinco na representação, com um diálogo, às vezes inteligente, como arma. Foi só. É só como o prazer de quem ouve um pianista a exibir-se tocando escalas, estudos de Czerny, excertos complicados de Schumman ou Lizt para aquecer os dedos e se preparar para o concerto logo à noite. Do concerto propriamente dito, não se viu nada.

22.4.08

Bento XVI nos EUA, 2

Dos Direitos Humanos

A apologia dos valores culturais do mundo ocidental nunca deixam de estar presentes nas diferentes intervenções do Papa o que também aconteceu nesta sua viagem aos EUA. Na ONU ele abordou a questão dos direitos humanos da sua importância para a paz e ousou apelar a uma universalidade no reconhecimento dos mesmos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) adoptada pelas Nações Unidas após os tantos abusos decorrentes da Segunda Guerra Mundial, nunca teve um carácter vinculativo e tem tido ao longo dos tempos os seus opositores mais ou menos silenciosos e continua ainda hoje a ser um tema que condiciona tantas vezes a agenda diplomática e política internacionais e, mais importante, condiciona a vida de milhões e milhões de seres humanos que são vítimas de abusos. Apelar à universalidade dos direitos, é insistir na profissão de fé na cultura humanista predominante no mundo cultural judaico-cristão e desafiar e impelir de forma clara a organização que os reconheceu e declarou a uma maior exigência dos seus membros no respeito pelos direitos humanos.

Também no encontro com os jovens e lembrando a sua juventude durante o regime nazi, Bento XVI falou da necessidade de prezar a liberdade, democracia e respeito pelos direitos humanos que os jovens hoje, em contraste com a sua juventude, gozam nos EUA e nas democracias ocidentais. E mais uma vez, o Papa foi mais longe alertando contra os perigos do multiculturalismo e do relativismo moral. Se a referência ao relativismo moral é um tópico caro a Bento XVI, já a referência aos perigos do multiculturalismo é ousada porque mais incómoda dado que nos meios mais tolerantes se tende a uma posição algo passiva, que prefere tantas vezes fechar os olhos para não ter que se confrontar com problemas como o desrespeito pela democracia, liberdade de expressão, igualdade entre sexos e o abuso da violência. Alertando para os perigos do multiculturalismo Bento XVI questiona a “bondade” de todas as tradições e culturas que se confrontam (não necessariamente no sentido bélico) hoje e tão de perto com a nossa.

21.4.08

Dando Excessivamente sobre o Mar 30

Hippolyte FLANDRIN
Jeune homme nu assis au bord de la mer (1836)
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Bento XVI nos EUA

Mais uma viagem de Bento XVI e mais um sucesso segundo o que se pode ler na imprensa deste e do outro lado do Atlântico. Com um estilo bem diferente do do seu antecessor, Bento XVI acaba sempre por surpreender no calor do contacto, nas palavras e gestos que usa. Os seus discursos que já não surpreendem, são sempre exigentes e obrigam a alguma reflexão. Mais do que um comentário à visita do Papa, à escolha da sua agenda e aos seus momentos marcantes, bem como à importância política da mesma, eu gostaria de retomar alguns tópicos por ele lançados durante estes dias e lidos na comunicação social quer nacional quer internacional.

Um bom comentário/síntese à visita Papal pode ser lido aqui. Outro interessante comentário sobre uma questão marginal (aparentemente) à visita e pontual aqui.
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20.4.08


Estes últimos dias têm-se revelado dias de folga crítica para José Sócrates. Começou com a divisão dentro do PSD a propósito das palavras de Rui Gomes da Silva, passou pela demissão de Luis Filipe Meneses, e pelas indecisões das futuras candidaturas dentro do principal partido da oposição. O Presidente Cavaco Silva esteve na Madeira uma semana desviando também as atenções para lá. O mau tempo em todo o país distraiu-nos, e o Benfica perdeu mais uma vez para grande dor de tantos portugueses. E de repente passa uma semana em que nem se ouve falar de José Sócrates, e mal se ouvem umas coisas aqui e outras acolá da política governativa, do TGV, da Saúde e dos Serviços de Urgências, da Educação e do acordo com os Sindicatos dos Professores, da grande Manifestação da CGTP junto à Assembleia da República, da crise e dos números. Volta a ser tempo de olhar de novo para o país real.

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(...) o partido fez como as famílias fidalgas: desbaratou o capital. Não tem nada. A não ser saudades, sede e fome. De poder.

Isto e um retrato implacável quer de Luis Filipe Meneses quer dos democratas que têm governado Portugal, no artigo de António Barreto no Público.


19.4.08

Combate ao Sedentarismo 52

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Nunca deveria sequer pensar em escrever sobre Futebol

Confesso não perceber nada de futebol, nem fazer muito esforço por perceber. Se do jogo pouco entendo, então daquilo a que se chama “mundo do futebol” é que não percebo nada mesmo, em tão pouco me apetece tentar perceber. Acredito que seja um mundo cheio de paixões, dinheiro, vícios, influências, jogos de bastidores porque é aquilo que parece ser mais óbvio e fácil de acreditar. O meu saber futebolístico resume-se a ver os jogos da Selecção Nacional em momentos decisivos (Euros e Mundiais) e em querer saber se o meu clube, o Futebol Clube do Porto, ganha ou não quando me lembro de que é fim de semana e que talvez tenha jogado e, felizmente, regozijar-me com as suas vitórias.

Apesar deste curriculum brevemente resumido, tenho ficado absolutamente boquiaberta e colada à televisão cada vez que falam do Boavista, e desta recente crise em que está e que mais parece coisa de outro mundo: o passivo, os salários em atraso, o investidor “mistério” em conferência de imprensa a garantir que está preparado para injectar milhões de euros no clube, mas que afinal já não vai investir porque depois de hoje ter sido interrogado pela PJ é agora arguido num processo de fraude, a ameaça de greve por parte dos jogadores, o dinheiro que entretanto chegou em forma de cheque com garantia dum banco da Indonésia (foi o que ouvi nos Telejornais da noite) e a greve que afinal já não vai ser. Sinto-me perdida perante uma história deste calibre, que mais parece um romance de cordel em versão futebolística, num país de ficção e de lunáticos, e que faz a falada crise do Benfica parecer simples. Nem sei o que pensar sobre o assunto, nem tão pouco se, enquanto cidadã nomeadamente porque nascida no Porto não muito longe do Estádio do Beça, devo pensar algo. Uma coisa eu sei. Nunca deveríamos estar a passar pela situação de assistir a esta crise surreal que não entendo e nunca numa liga de honra (ou lá como é que se chama esta liga dos melhores) deveriam estar clubes sem solidez financeira e de gestão necessárias para fazerem uma época completa sem este tipo de crises, se é que “crise” é a palavra correcta para definir o que se passa - parece-me uma palavra demasiado séria para este enredo que no entanto é também demasiado sinistro para ser opera buffa. Eu não disse que nunca deveria sequer pensar em escrever sobre futebol?

17.4.08

Tardes de Inverno 11

Walter Richard Sickert (1860-1942)
Ennui

15.4.08

Estrogénio e Progesterona

Não me lembro de um acto, decisão, medida política de Zapatero de que tenha gostado. Mas de repente e sem pensar muito daria uma lista exaustiva de actos decisões, medidas, tomadas de posição, prioridades políticas, de que discordei. Tal como com o conteúdo político, não gosto do seu estilo, desse constante bicos de pés que se vê na vontade de estar sempre na crista da onda politicamente correcta tudo muito bem planeado pelos profissionais do marketing comunicacional político. Mas hoje – acreditando que estas nomeações não têm como único objectivo colocarem Zapatero num patamar mais alto do politicamente correcto – tenho que confessar que o admiro pela escolha de tantas ministras e muito particularmente pela ousadia de ter nomeado uma Ministra da Defesa grávida. Ver uma mulher grávida Ministra a passar revista às tropas é uma imagem carregada de simbolismo à qual, enquanto mulher, é difícil ficar indiferente.

Num mundo em que as mulheres políticas em cargos de maior responsabilidade tendem ainda a ter como modelo Margaret Thatcher e a ser, como tantas vezes se comenta, mais homens do que os homens, pela determinação, força e exigência, dá gosto ver uma mulher política no auge da sua feminilidade: redonda, com estrogénio e progesterona no seu máximo e com roupa feminina tal como a sua condição exige. Final de gravidez, parto, aleitamento, e a respectiva montanha russa hormonal, eis o que espera a Ministra da Defesa espanhola e, como se isso fosse incompatível com o exercício de qualquer cargo de responsabilidade, eis os medos e tabus (tão previsíveis, afinal) por trás das críticas que têm sido feitas a esta escolha de Zapatero. Se não, eu não percebi mesmo o que é que se critica com esta nomeação: a nomeada aparentemente ter competência e curriculum? Ser socialista? Ser Mulher? Estar grávida?

14.4.08

Velas 11

Hoje cedo
Hoje cedo

12.4.08

Crónica Da Vida Num Resort 3

A imaginação criatividade e flexibilidade linguística brasileira atinge o seu auge na hora de nomear, e isso nota-se na hora de nomear os seus filhos tendo os brasileiros um leque de nomes próprios capaz de espantar qualquer espírito. Contracções entre dois nomes, trocas de letras, sílabas, anglicismos, são algumas das técnicas usadas para construir um novo nome, algo que os enche de orgulho. Nada que não soubesse, mas estar lá e ouvi-los chamarem-se uns aos outros é um exercício constante de decifração e mesmo memorização se queremos não ter dificuldade em lembrar o nome momentos depois. Élida, Nedmilson, Sue Ellen, Jaquinho são alguns exemplos que lembro graças ao mais notável e fiável exercício de memorização: escrever os nomes num papel.

Perante este universo delirante de nomes próprios estive quase uma semana sem coragem para interpelar o Eduardo e lhe perguntar porque é que ele era Eduardo, tão simplesmente Eduardo e não Eliduardo ou Gilduardo ou Neduardo. No penúltimo dia ganhei coragem de o fazer. Ele riu-se e disse que os pais deviam ter esgotado toda a sua imaginação ao nomearem a irmã, e que deviam ter querido fugir da letra “v”. Pedi as explicações que ele deu pronta e divertidamente: a irmã é Vanadécia (aposto que não há mais ninguém com este nome em todo o mundo, disse ele), a mãe Vandette e a tia Vanette, e eu Eduardo; também tenho um tio, continuou divertido, a quem o pai, um fanático de desporto quis pôr o nome de Esporte ao filho, mas a conservatória não deixou, por isso ele optou por Philips. Neste momento riamos e ele continuou dando mais alguns exemplos fantásticos de nomes. Apartir daí perdi a vergonha e interpelei mais duas pessoas de nome normal: a Ana Maria deu graças a Deus por ter um nome normal e ter tido pais que não tentaram nada de exótico, mas a Eva desgostosa de ter um nome tão banal e depois de me ter dito os exóticos nomes dos irmãos e irmãs (que já não lembro, pois não escrevi logo no papel) e das três filhas, confessou que o seu maior desgosto era ter um nome tão pequeno, tão pequeno que nem dava para ter “apelido” como toda a gente.

11.4.08

Plataforma contra a Obesidade 37

Adriaen Coorte (1663-1707)
Still Life with Asparagus
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10.4.08

Crónica Da Vida Num Resort 2

Se um resort com a sua versão fabricada de paraíso apela as pessoas que procuram alguma tranquilidade e satisfação de desejos muito simples e básicos travestidos de coisa requintada, ainda apela mais a casais em lua-de-mel, e previsivelmente eles eram muito numerosos. No entanto enquanto “categoria” de pessoas eles não cansaram de me espantar. Andavam circunspectos e formais como quem cumpre um papel que é esperado que cumpram: de mãos dadas e em pose quase de estado andavam de lá para cá, tomavam refeições, andavam de barco, faziam passeis ao fim do dia, beijavam-se e abraçavam-se na piscina, mas todos os seus gestos pareciam pensados e encenados, careciam de espontaneidade e de verdadeira alegria. Não se ouviam gargalhadas, não se viam trocas cúmplices de olhares, nem sequer a sombra daquele brilhozinho de paixão ou desejo, muito menos um átomo que fosse de loucura, de vontade de sorver o momento, de realmente se divertirem. Enfim, não se viam nem sentiam algumas dessas coisas que é suposto existirem entre casais felizes e contentes que é o estado que normalmente associamos a uma lua-de-mel. Mais pareciam reféns de um qualquer protocolo ou convenção que os obrigava a estar ali um pouco contra-vontade. Se calhar...


Esta semana Sílvio Berlusconi tem sido igual a si próprio enchendo os jornais e serviços noticiosos com declarações bombásticas. Depois de ter afirmado que sabe falar Latim o suficiente para conversar ao almoço com Júlio César, o antigo Imperador de Roma (a SIC deu notícia deste facto há uns dias com um surpreendentemente sério Rodrigo Guedes de Carvalho), deixando-nos pasmados com a sua confiança e invejosos com o seu conhecimento, diz agora que as mulheres de direita são mais bonitas do que as de esquerda – nada que não se venha sussurrando ao longo dos tempos e em voz bem baixa pelos corredores da vida. A diferença está em Berlusconi falar alto e no facto de eu ter dificuldade em antipatizar esta personagem melhor do que a ficção que tem a lata que ele tem para dizer tontices ou barbaridades como quer e onde quer, nomeadamente em campanha eleitoral, ter ganho eleições e voltar a concorrer.

9.4.08

Dando Excessivamente sobre o Mar 29

John Constable 1776-1837
The Sea near Brighton

Pior do que retirar os Simpsons da televisão privada na Venezuela, só mesmo a sua substituição pela série Marés Vivas. Será que os pais telespectadores irão também apresentar queixa contra a má influência exercida por esta série nos neurónios dos seus filhos, ou a estupidez poderá continuar o seu livre curso, desta vez em fato de banho vermelho e decote normalizado de acordo com complexas equações geométricas?

8.4.08

Crónica Da Vida Num Resort

Se um grande e bom hotel urbano (Oriental em Bangkok, por exemplo) ou que já conheceu melhores dias (Sheraton em Guadalajara, por exemplo) tem sempre algo de aristocrático, já um bom resort é essencialmente burguês na sua procura de luxo e conforto e um mau resort um espelho demasiado real de uma sociedade de abundância. O resort é burguês quer na sua intenção, a de imitar o paraíso, quer nas suas funcionalidades que visam adivinhar e satisfazer os desejos conscientes ou inconscientes que os clientes num determinado momento e circunstância associam a paraíso: praia, sol, piscina, havaianas, algum desporto aquático feito com indolência, comida fresca e abundante, bebidas frescas, spa, não fazer nada. Por uns dias andei iludida com o paraíso.

Mas um dia chovia abundantemente e o céu cinzento não deixava prever nenhuma aberta. Foi o pretexto necessário para sair do resort e, dentro de um taxi, olhar o Recife e Olinda. O Recife é uma cidade que não se imagina: velha, mal tratada, pobre, descuidada, sem graça. Só a boa vontade de um turista determinada em não se deixar deprimir percebe entre o cinzento do céu, o molhado da chuva o desleixo da cidade e a falta de vida e de vibração, no centro da cidade degradada umas pontes que poderiam ter charme, umas ruas velhas com um casario antigo que carrega alguma nostalgia, uns edifícios coloniais que pintados e reabilitados dariam graça à cidade, enfim uns sinais de pertença, da história que fez a cidade, que é a cidade. Fora isso, os subúrbios lembram África sem serem África, e a parte nova dos prédios altos e dos condomínios não-sei-quê é simplesmente inenarrável. Não me demorarei nos clichés do país rico, da pobreza, da distribuição de riqueza no Brasil, mas lembrei D. Hélder Câmara, o simpático e controverso Bispo de Olinda e Recife que fazia gala em dizer “se eu dou comida a um pobre, me chamam de santo, mas se eu pergunto por que ele é pobre, me chamam de comunista" e que se tornou personna non grata no pontificado de João Paulo II. Assim num dia cinzento e de chuva, D. Hélder Câmara parecia fazer mais sentido naquele Brasil que eu vi do que João Paulo II, mas devia ser da chuva.

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