“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
holehorror.at.gmail.com

22.10.06

O Referendo e o Aborto

As questões da semana andaram e torno de dois tópicos. O primeiro sobre o teor da pergunta a colocar no referendo e de como a proposta apresentada pelo governo ilude a questão fundamental: a vida humana. A outra questão é a da adequação ou não da resposta do SNS aos casos concretos de pedidos de interrupção voluntária de gravidez caso o SIM ganhe. As clínicas espanholas parecem ter resposta a esta questão.

13.10.06

Autumn Watch

Os primeiros frios chegaram. As manhãs já pedem um casaco e o ar ganhou uma leveza que só o frio sabe dar. Dizer que o Outono é a minha estação preferida é, apesar de banal, a realidade. Começo a fotografar o céu de manhã cedo e ao fim da tarde pois o céu ganha vida e cor, as nuvens aparecem às cores, e com formas e texturas exuberantes. Outros dias há em que tudo é suave, tranquilo e calmo com um friozinho que arrepia. Mas em Portugal as mudanças de estação são muito graduais e brandas, e eu tenho saudades dos lugares em que as estações chegam e mudam drasticamente a paisagem: o Outono ganha em fulgor e dramatismo, enquanto que a primavera explode de vibração e cor. Eu já há muito que acompanho sempre com prazer as mudanças de estação (Primavera e Outono) neste sitio,

http://www.bbc.co.uk/nature/animals/wildbritain/autumnwatch/

ou neste

http://www.bbc.co.uk/nature/animals/wildbritain/springwatch/

onde muito cedo se começam a registar as pequenas mudanças que prenunciam a chegada de uma nova estação. A BBC, este ano já deu por terminada a época de Autunm Watch, nós aguardamos ainda que o Outono se complete. Para já deleitamo-nos com esta luz impar.

12.10.06

Na praia 2

Na praia

O Véu 2


Disse que usava véu, neste caso um lenço que cobre cabeça e cabelo bem como pescoço, porque era muçulmana e porque o Corão assim recomendava pois as mulheres têm que ser modestas e não se devem exibir e agora que era uma mulher casada estes preceitos tornam-se ainda mais exigentes. Disse que fora de casa o usava sempre e em todas as ocasiões; até na praia, no mar, toma banho de calças de ganga, camisola com mangas até aos punhos, e lenço na cabeça.

Há vinte ou trinta anos atrás a mãe dela provavelmente tomava banho de biquini, pois nessa altura poucas mulheres usavam lenço, algumas mais velhas ou menos instruídas usariam o pequeno véu facial, branco, que cobria o nariz e a boca. O lenço e outras formas de hijab (véu, ecrã que esconde da vista) nomeadamente de cor preta vêm da Ásia e não são tradicionais do Magrebe. Hoje estas mulheres jovens aderem a uma forma mais radical e menos tradicional de viver a sua religião, pondo em causa muito do caminho de emancipação traçado pelas gerações anteriores. Muitas escolhem o momento do casamento para mudarem não só a forma de se vestirem como a forma de vida: deixam de trabalhar fora de casa, deixam de ir à praia e vestem-se na rua iguais a tantas outras. Deixam de ser olhadas e vistas como um ser autónomo, como um indivíduo único diferente do outro, para se confundirem na multidão de silhuetas iguais, sem formas nem contornos. Perdem-se, confundem-se, esbatem-se. Pouco se questionam ao dar este passo, pouco reflectem, pouco pensam no amanhã e nada conhecem do ontem. Muitas acham que tem que ser assim, porque é assim. Este é, do meu ponto de vista, um retrato das muitas faces de algo que nos intriga muito: o Islão moderado.

11.10.06

O Véu

Há dois anos debateu-se o uso do véu pelas mulheres islâmicas em França e após grande polémica foi aprovada uma lei que, impedindo sinais de identificação religiosos, tornou inaceitável o uso do véu nas escolas. Perguntava-me na altura quando esse debate se iria corporizar na Grã-Bretanha e como. Temos agora a resposta com o respeitoso pedido de Jack Straw para que as mulheres islâmicas da sua Constituency não o usem quando quiserem falar com ele. Gostei. Primeiro da coragem de um político, que é de esquerda, ter tomado uma posição desfavorável ao uso do véu que cobre a cara (ou niqab) da mulher e que, segundo ele impede uma boa comunicação, e segundo de esta polémica ter chegado finalmente ao Reino Unido. Se em França esta polémicas têm ecos no Norte de África, no Reino Unido elas chegam ao mundo islâmico Asiático. E em ambos os casos se tenta afirmar os nossos valores, como o do respeito pela individualidade e liberdade de cada um. Hoje nota-se um crescimento no uso de véus na Europa, e não só, por parte das mulheres muçulmanas, e seria interessante perceber a verdadeira natureza desta adesão pois não creio que a explicação para tal facto seja sobretudo religiosa. Terá talvez mais a ver com um sentimento de pertença, o que acaba por ter relevância política.

Voltarei outra vez a este assunto do véu para tentar olhar para as muitas faces de uma opção como esta e para perceber a nossa (não islâmica) dificuldade e relutância em aceitá-la.

7.10.06

Lisboa Capital de Província

Hoje a Avenida Central fechou à circulação automóvel para o desfile e festa das estrelas locais. O trânsito será reposto brevemente.

4.10.06

Dificuldade em perceber


Ouço e vejo todos os dias publicidade à comédia que está no Teatro Villaret em Lisboa que creio chamar-se “Dois Amores”. Dizem que está a ser um sucesso e eu fico sempre surpreendida com tais afirmações. Tenho sérias dificuldades em me rir com grande parte da comédia que se faz e consome cá. Sobre Herman José tudo já foi dito, faz tempo! Os cromos da TSF, as raras vezes que os ouço, e independentemente do cromo do dia, mudo logo de canal, tal é a falta de disponibilidade mental minha para ouvir textos básicos e de tão fraca qualidade, incapazes sequer de me fazer esboçar um sorriso. Ora eu não quero começar o dia mal disposta. O Ricardo Araújo Pereira já há muito que não escreve nada que verdadeiramente entusiasme na Visão. E eu vou lendo na esperança de que possa encontrar uma ideia insólita, uma ironia mordaz... nada! Aliás às vezes a previsibilidade chega a ser confrangedora. Resta o Inimigo Público que, uma vez por mês, sai verdadeiramente inspirado e me faz rir. E por cada episódio dos Gatos Fedorentos há, pelo menos, um sketch que nos desafia. E eu acho que já tenho sorte! Porque continuo sem perceber aqueles que falam de como o humor em Portugal está de boa saúde e cheio de talentos.

2.10.06

Compatibilidade

Em relação ao aborto creio que já tudo, ou quase, tem sido dito. Até me parece que ter-se chegado a um acordo. Todos são contra... Eu também. Mas não sou só contra, eu acredito que abortar, mesmo dentro dos prazos curtos estabelecidos (10, 12 semanas) é matar um ser humano. Por isso também sou contra a pena de morte. Agora alguém me explica como é que se compatibiliza, em termos de voto sim/não num referendo, o acreditar que abortar é matar, com o querer que as mulheres que abortam, porque abortaram, abortam e abortarão, o façam nas melhores condições de saúde, de dignidade e de máxima humanidade?

Eu não sei.

1.10.06



Hole

One Kashmiri morning in the early spring of 1915, my grand-father Aadam Aziz hit his nose against a frost-hardened tussock of earth while attempting to pray. Three drops of blood plopped out of his left nostril, hardened instantly in the brittle air and lay before his eyes on the prayer mat, transformed into rubies. Lurching back until he knelt with his head once more upright, he found that the tears which had sprung to his eyes had solidified, too; and at that moment, as he brushed diamonds contemptuously from his lashes, he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy in a vital inner chamber, leaving him vulnerable to woman and history.

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