“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
holehorror.at.gmail.com

31.12.06

BEM-VINDO 2007 !


Um Bom Ano para todos.

30.12.06


Nestes dias de festas, malgré moi, já vi três filmes para crianças: Artur e os Minimeus, Por Água Abaixo, e Charlie e a Fábrica de Chocolate, este último em DVD. O primeiro e o último, ressalvando os aspectos positivos que pouco me dizem mas que reconheço: aspectos gráficos, efeitos, e afins, pouco me interessaram. O do meio, e confesso que fui surpreendida, divertiu-me como nem o Madagáscar e o Shrek tinham conseguido! Nem dei pelo tempo passar. Recomendo...

Manhãs de nevoeiro 2

Saddam Hussein e a Forca 2

Já aqui escrevi que sou contra a pena de morta sejam quais forem as circunstâncias. E sempre me surpreendeu porque é que em questões de pena de morte os europeus e os americanos, (generalizando e cometendo todas as imprecisões que as generalizações obrigam), têm uma sensibilidade e uma posição tão distinta sobre algo que, a mim, parece ser tão claro e tão simples. Qualquer execução me choca e me entristece, mas hoje o que li aqui o Presidente norte-americano, George W. Bush, já fez saber que a execução do ex-Presidente iraquiano é um "marco importante" para a democracia no país, deixou-me ainda mais perturbada e desconfortável, com a sensação de que o mundo é um local cada vez menos seguro.

28.12.06

Leonardo da Vinci
Estudos para Presépio

Um código

Nestes dias de festas tive a minha primeira experiência de “Código Da Vinci”: em forma de filme - um DVD oferecido - por isso é sobre o filme, e não o livro que não li, que me pronuncio. Não fiquei abismada com a superficialidade do filme, nem com o mau desempenho de Hanks, a insignificante presença de Tatou ou o vazio das personagens apesar de embelezadas por pseudo-sofisticados e subtis percursos: espirituais, académicos ou profissionais. Não fiquei espantada com as referências históricas quer factuais quer lendárias quer de personagens, muitas vezes metidas a martelo na narrativa de uma forma arbitrária e sem nexo. Quase nem me irritei com a previsibilidade dos diálogos, a pobreza do que é dito e a ausência de humanidade das personagens. O que realmente me deixou abismada, espantada e profundamente irritada foi a desonestidade intelectual em que tudo: enredo, personagens e tese especulativa, assenta e que paira do primeiro ao último momento do filme. Todas as referências culturais sejam elas quais forem: teológicas, filosóficas, físicas, históricas, factuais ou mitológicas, policiais, e outras merecem tratamento igual e sempre descontextualizado num caldeirão indiscriminado e fervilhante, pronto a espantar a ignorância e a superficialidade dos ocidentais moldados pelas filosofias do marketing e do consumo. Já tenho visto muitas coisas superficiais, banais, mal feitas e de fraca qualidade, e às vezes até tenho gostado... mas este filme pomposo e pretensioso com ar de quem descobriu um código, é demais!

27.12.06

Presépio Copta

26.12.06

Grandes Portugueses 2

Andar pelas ruas da cidade no dia 25 é um desafio às noções mais elementares de civismo e de bom gosto. Espero que com tanta “Formação Cívica” nos currículos escolares este espectáculo desapareça, senão, quem sabe, talvez se crie mais uma entidade reguladora, desta vez de (bom) Comportamento Cívico. Claro que falo do lixo nas ruas que apressadamente os cidadãos põem na rua, mesmo sabendo que não há recolha de lixo, par poderem manter as suas casas limpas e asseadas... E o espectáculo é desolador: primeiro por estar lixo na rua, coisa que em muitas cidades de um outro mundo em que não se anunciam choques ideológicos é proibido dando lugar à aplicação de multa ao infractor, e depois porque esse lixo está invariavelmente mal acomodado num desses ícones moderno idolatrado e indispensável ao cidadão que é o saco de plástico do supermercado. O lixo não está arrumado, embalado e devidamente fechado em sacos de lixo grandes e fortes, não, Nada disso! São dezenas de pequenos sacos tirados às escondidas dos supermercados enquanto se arrumam as compras perante o olhar complacente das meninas das caixas. Uma questão de poupança doméstica. São nesses incontáveis e amontoados sacos pequenos, finos, furados, tantas vezes rotos e invariavelmente mal fechados que o Natal urbano português se esvai sem dignidade nem orgulho. (ver mais aqui)

25.12.06

PERUVIAN NATIVITY CANDLESTICK
This design, known as the Tree of Life, is unique to the highlands of the Ayacucho region of Peru

24.12.06

Feliz Natal

Presépio Mexicano
Pintura

23.12.06

Natal

Presépio em madeira de oliveira
Feito pela comunidade cristã árabe da Palestina

Liberdade Religiosa

Apesar de vagamente anestesiada entre escândalo Apito Dourado na sua versão updated, melhorada e cheia de promessa justiceira e entre compras de Natal, trânsito e inevitáveis excessos próprios desta quadra, não me passam despercebidas as palavras de Bento XVI. A sua clareza e coragem em sair de um discurso vago e redondo que caracteriza tantos dos discursos que hoje políticos e ideólogos adoptam sempre no medo de ferir susceptibilidades ou então no medo de perder votos, são notáveis. Dizer que “o mundo muçulmano deve aceitar os direitos humanos e a liberdade religiosa, tal como a Igreja Católica foi pressionada a fazer no passado”, é algo de inédito. Primeiro porque pressupõe que os direitos humanos são aceitáveis pelo mundo muçulmano e que não o sendo, este mundo muçulmano, ou pelo menos parte dele, ficará à margem, excluídos de uma ordem moral laica e aceite internacionalmente. Segundo porque claramente diz e assume o facto de a Igreja ter sido, no passado, pressionada a fazê-lo referindo-se nomeadamente ao Iluminismo. As questões relacionadas com a liberdade religiosa no mundo muçulmano são demasiado sérias para que o mundo continue em silêncio.

22.12.06

78

Leio que o 78 da STCP vai ser descontinuado em Janeiro. Como portuense que sou, embora hoje já lá não viva, poderia contar a história da minha infância e sobretudo da minha juventude a partir do 78: dos pontos de partida, dos destinos, dos trajectos, dos tempos de espera, dos “trincas”. Eram mesmo assim: verdes e de 2 andares.

Inverno

O tempo

Tenho visto na blogosfera algumas referências ao tempo, nomeadamente à sua passagem (A Lei da Vida) e aos efeitos que essa passagem produz, à contagem e medição e consequências que sentimos na forma como se vivem as 24 horas de cada dia (Perguntas Entre O Espaço e o Ciberespaço, 7) e os sete dias de cada semana. Mas o que eu sei realmente é que é Natal cada vez com mais frequência, que o tempo que medeia o desfazer de uma árvore de Natal e o fazer de outra é cada vez mais curto...

21.12.06

Solstício

Natal à porta


Pai Natal no supermercado, Pai Natal no centro comercial, Pai Natal na rua, Pai Natal na loja e, claro, os inevitáveis a trepar as janelas ou varandas das casas já com um ar velho e gasto coitados - eles foram novidade há quatro ou cinco anos e agora parecem carregar aquele ar de quem já foi. Ou então aquelas músicas que, desde meados de Novembro, ouvimos em qualquer área comercial. Penso como será trabalhar um dia inteiro, dias seguidos e semanas a fio sempre a ouvir o mesmo... O trânsito está insuportável em ruas enfeitadas cheias de luzes, as pessoas apressadas, os embrulhos, laços e fitas, as luzes e as cores não largam o nosso horizonte visual nas lojas e em casa. A maior árvore de Natal da Europa (oh orgulho nacional...) Não há tréguas. O Natal está à porta e já estamos cansados de tanto Natal...

20.12.06

Bom dia!

Já nem se repara

Já aqui escrevi uma vez sobre o facto de considerar que, a par da veia reformista de José Sócrates, ele tem uma vontade de estabelecer uma nova “ordem moral”. Este ímpeto missionário, numa versão moderna e politicamente correcta de uma procura de conversão por parte do povo indígena - enganado e iludido - a essa superior ordem moral está bem latente, quer na forma sua e do seu governo de actuarem, quer nas decisões políticas tomadas quer na forma subtil com que se insinua em áreas que deveriam ser independentes do executivo tentando manipulá-las. Nestes dias, na expressão “nunca, jamais” de António Costa vemos mais uma, neste caso a mais óbvia porque outras haveria, ilustração dessa atitude. Mas andamos todos tão ocupados com o Natal e tantas outras coisas que fazem um quotidiano, que já nem se repara.

18.12.06

No original: Ich küsse ihre Hand Madame - 1912
Music by: Ralph Erwin, Lyrics by: Fritz Rotter

Carolina

Ainda há pouco tempo beijavam-lhe a mão. Agora apontam-lhe o dedo.
Paul Cézanne (1839-1906)
Château noir, vers 1900-1904
Huile sur toile - 74 x 96 cm
, Washington, National Gallery of Art

O aborto e os precedentes

A decisão das 10 semanas intriga muita gente. O que terá levado os políticos a estabelecerem essa data? Será que não poderíamos ser elucidados do porquê de tal limite? É arbitrário? Tem fundamento científico? Ético? Se é verdade que muitas mulheres sabem desde cedo que estão grávidas, muitas outras, sobretudo as raparigas jovens e inexperientes em questões de gravidez, demorarão por vezes mais do que as 10 semanas para saberem que estão grávidas. E depois? Já não podem abortar livremente como as mais conhecedoras ou experientes? Em nome de quê não poderão abortar legalmente? Qual a diferença entre abortar às 10 semanas ou às 12, por vontade da mulher? Estou a ver que com este referendo se substitui uma hipocrisia por outra e se criam mais do que um precedentes.

Numa aparentemente simples pergunta estamos perante problemas diversos: a primeira é a legalização de um acto que vai terminar uma vida e aqui entram, no meu ponto de vista, todas as questões que referi anteriormente como questões a montante: a questão de princípio que se prende com o valor da vida. Na dúvida (se é que elas existem neste caso) serei sempre a favor da vida. A segunda questão prende-se com a data limite tão previsível e tão politicamente correcta, porque isto de poder abortar livremente às 13, 14 ou 15 semanas já é chato e complicado, já se vêem os bracinhos e as perninhas nas ecografias, já brincam com as mãozinhas, humanizam-se e fica mais difícil justificar o acto em si, só por vontade da mulher. É este o facto que quero realçar por último: para fazer o aborto nada mais é necessário do que a vontade da mulher. Longe de mim tecer julgamentos morais, ou mesmo sentir que eu, ou até outro votante do “Não”, estaria sempre acima de qualquer dilema moral deste calibre e que tomaria a decisão certa (fosse ela qual fosse), mas talvez porque é tão difícil tomar a decisão certa me pareça que poder abortar livremente só por decisão da mulher é demasiado expedito, demasiado simples e demasiado conveniente do ponto de vista da sociedade que se quer cada vez mais asséptica e que prefere não ver, não ouvir, não saber. Ou será que alguém acredita que os abortos clandestinos vão mesmo acabar?

17.12.06

Postal Ilustrado 2

New York at Christmas time

16.12.06

O género e o aborto

Fiquei surpreendida com um outdoor de um movimento cívico a favor do “Não” no referendo ao aborto que reza da seguinte forma: “Não obrigada!” primeiro detive-me na questão gramatical e no facto de só as mulheres dizerem “obrigada!” e depois considerei a hipótese de esta plataforma se dirigir sobretudo às mulheres, daí o chamamento ao seu voto de “não obrigada!”. Numa visita ao site da Plataforma Não Obrigada, verifico que estou errada, pois se nos pontos 4, 5 e 6 do Manifesto se visa sobretudo a mulher, imediatamente a seguir no ponto 9 se lamenta que a lei a ser referendada ignore por completo o papel do homem. E é esta questão que, concordando plenamente com o enunciado do ponto 9, me faz não perceber e rejeitar o nome/slogan desta plataforma. Os fetos, objecto da possibilidade de, por vontade da mulher, serem abortados até às 10 semanas (a voz passiva por vezes é chocante...) são feitos por homens e por mulheres e são, quer os homens quer as mulheres, chamados a pronunciarem-se sobre a questão colocada no referendo. Neste referendo as questões de voto e de género estão em cima da mesa. Parecem-me, talvez devido a uma enorme dificuldade em as articular na minha estrutura argumentativa que é marcada primeiro por uma forte convicção a favor da vida emanando daí uma inabalável questão de princípio que faz também com que votasse “não” num hipotético referendo que visasse legalizar a pena de morte, paternalistas e até, em última análise desresponsabilizantes. O aborto é uma questão que ultrapassa a mulher, em abono da verdade ultrapassa mesmo a mulher e o homem, e mesmo a sociedade.

15.12.06

Bom Dia!

14.12.06

Falar e escrever

Quando se ouve, num meio absolutamente urbano, um professor falar nos alunos que trazem ou não “o comer” de casa, percebe-se a preocupação do Ministério da Educação com a eventualidade de os professores não se expressarem correctamente em Português, oral e escrito. O que não se percebe - não porque seja difícil perceber, mas porque percebê-lo dá demasiada dor de cabeça e irritação - é como é que se chega assim a ser professor. Percebestes?

Adenda: 2º Ciclo, diz o professor de Educação Física: “gajos de um lado, gajas do outro”. Esta oralidade está dentro dos padrões do bom Português falado desejado pelo Ministério?


13.12.06

Paul Cézanne,
Domain Saint-Joseph - La Coline des Pauvres, c.1877, oil on canvas

Deus criador

Michelangelo.
The Creation of Eve.
1508-1512. Fresco. Sistine Chapel, Vatican.

Qual é o Deus do Mediterrâneo 3 (e último)

Deixei para o fim a reflexão feita por Salman Rushdie sobre a maturidade do homem que, para ele, só acontecerá quando o homem der um passo para além, da religião e a ultrapassar. Para que o homem se encontre e confronte consigo mesmo precisa que os deuses se distanciem e afastem. Também uma separação entre o mundo de deus e o mundo dos homens ajuda neste processo. Foram apontados dois momentos chave na história ocidental para ilustrar estes passos: o renascimento que é a formalização do mundo centrado no homem e em que deus se torna periférico, o que lhe (homem) permite soberania sobre si próprio fazendo livremente as suas escolhas morais. O segundo momento é o iluminismo com as suas batalhas contra a Igreja e uma cada vez maior separação dos poderes dos estados com os poderes da Igreja.

Esta reflexão vem de alguém que assume como um não religioso. Mas para alguém de fé estas reflexões devem causar alguma perplexidade ou mesmo discordância. Creio que o que está em causa é a questão da liberdade e do livre arbítrio quando alguém de fé está inserido num sistema doutrinal. Vou dar um exemplo: no caso do voto ao referendo sobre o aborto quem, vivendo a fé católica e conhecendo a doutrina da Igreja, vota em plena liberdade ou vota por causa dessa fé que professa e doutrina que tenta seguir? E se o faz de acordo com o seu sistema de fé é menos livre por isso? Só é livre, maduro e integralmente responsável (num sentido não legal, claro) quem não tem fé? (É claro que estas questões que coloco acontecem numa sociedade ocidental em que existe separação entre o poder político e religioso, pois outras existem em que não há referendos, nem discussão pública e as questões sobre a liberdade ou o questionar a religião e seus ensinamentos são sussurradas por uma minoria.)


Para mim a liberdade e responsabilidade, aquilo que no início do texto se chamou “o distanciamento de deus” vem sim de algum distanciamento, não só em relação a deus, mas sobretudo em relação a nós próprios e ao que damos por adquirido, vem da capacidade de auto questionamento e reflexão da, ultimamente tão falada, relação entre a Fé e a Razão.

12.12.06

Philippe de Champaigne,
Repentant Magdalene (17th century)

Arrependida

No dia em que leio nas notícias que o Presidente da Académica é acusado formalmente de dez crimes de corrupção eu não deixo de estranhar a necessidade do livro de Carolina Salgado, que agora pede o estatuto de arrependida e quer colaborar com a justiça, para que se desenterrem (reabram) certidões entretanto arquivadas do Processo Apito Dourado. Muito ruído este livro tem causado, muitas notícias gerais e verdadeiramente sem que nada de novo se acrescente, muita intimidade revelada e amplificada pelos meios de comunicação situação que confrange demasiado, mas eu continuo sem saber exactamente o que é que mudou. Que informação nova e pertinente para a justiça o livro revela e divulga? Continuo sem perceber porque é que agora já se reabrem certidões entretanto arquivadas. Que meios novos tem hoje a justiça que há um mês, dois ou três não tinha? Esta é uma pergunta que valeria a pena colocar.


11.12.06

Deus Todo Poderoso

Jan van Eyck
1426-27 Oil on wood
Cathedral of St Bavo, Ghent

Qual é o Deus do Mediterrâneo 2

Dizia Salman Rushdie que hoje se volta a falar com naturalidade de religião no nosso mundo ocidental. Ele, que viveu plenamente os anos 60, sempre percebeu que durante muito tempo havia algum constrangimento em trazer a religião para o centro da conversa e do debate, quer em círculos informais quer de forma mais formal e mesmo na comunicação social. Ora, é sempre uma mais valia poder debater livremente qualquer tema, muito especialmente a religião, uma vez que a ânsia do divino parece estar inscrita na condição humana - e símbolo dessa inquietude é o facto de os deuses terem (e serem) inventados pelos homens. Um dos problemas que hoje se coloca é o facto de não se poder dizer livremente em todos os cantos do mundo que os deuses, deus, foi inventado pelo homem. Este aspecto da liberdade de expressão da dúvida ou da descrença estabelece mais uma vez diferenças entre a costa norte e a costa sul do mediterrâneo (anteriormente já foquei a diferença existente entre a relação homem/Deus em ambas as costas mediterrânicas)

A liberdade individual também foi objecto de breve comentário pois é vista e vivida de forma diferente em ambas as costas mediterrânicas. Na costa norte as escolhas individuais são privilegiadas mesmo em detrimento ou contra o interesse da comunidade enquanto que na costa sul as opções e escolhas individuais nunca são privilegiadas se são contra o melhor interesse da comunidade. Em termos gerais estou de acordo com esta asserção que é mais válida para o mundo da academia ou da discussão intelectual do que da vivência de um quotidiano demasiado, para minha sensibilidade, regulado, explícita ou implicitamente, mas isso é uma outra questão e sobretudo não se pode comparar com a vivência do mesmo quotidiano na costa sul do mediterrâneo, onde o islamismo regula ao pormenor a totalidade da vida, todos os aspectos de um quotidiano: lavar, comer, procriar, dinheiro, rezar...

10.12.06

A Chinese Emperor's Dragon with five claws, one of the nine sons of the Chinese Dragon, each with their own personality, and depending on character are used to decorate the legs of incense burners, or are carved on doors.

A saia da Carolina tem um lagarto pintado... (ou seria um dragão?)

Vamos, para simplificar este texto, admitir como hipótese, que Jorge Nuno Pinto da Costa é culpado de tudo o que Carolina Salgado o acusa. Vamos admitir, como hipótese, que ela nunca mente, não distorce a realidade, não a descontextualiza, não exagera, não tira ilações erradas. Vamos admitir que nenhum desejo de ajuste de contas ou de vingança a move. Vamos admitir que o seu desejo de redenção é honesto, que de facto ela reconhece os seus erros passados e que genuinamente quer começar uma nova vida e olhar para o futuro. Vamos admitir que a escrita a ajudou psicologicamente nesse passo e que o rendimento que daí possa surgir a também a ajuda neste (re)começo de vida. Desejo-lhe sinceramente a melhor sorte. Mas,

So what? Porque é que eu tenho que a ouvir na televisão, ver e ler nos títulos dos jornais e nas páginas dos mesmos, ver nas revistas, suplementos destacáveis, coleccionáveis e demais ofertas e publicidades? Preferia saber se as bombásticas e tão surpreendentes revelações já deram origem a alguma investigação por parte da institucionalizada Brigada anti-Corrupção. Para além de uns textos tímidos e pequenos de intenções ainda não percebi qual a relevância do que ela conta e se há algo de novo que não constasse já de processos judiciais iniciados. No fundo, isso é que importa, não?

9.12.06

Paul Cézanne
Chestnut Trees at Jas de Bouffan in Winter (c. 1885-1887)

8.12.06

Um mundo pequeno




O Blasfémias e é um blogue que leio com interesse desde sempre e um dos casos de maior e mais inesperado sucesso na blogosfera portuguesa. Entre os seus autores aprecio jcd, já desde os tempos do Jaquinzinhos, gosto do seu humor certeiro, espirituoso e estimulante. Mas este blogue não lhe pertence. Eu também sou jcd, mas nada posso fazer contra isso. Paciência... we must bear it as graciously as we can!

Gostei de ler os comentários ao meu post sobre o Aborto no Quase em Português, mesmo com o equívoco.

Jean Bellegambe
Saint Anne conceiving the Virgin Mary

Douai, Musée de la Chartreuse

Bom Dia Santo!


Hoje é dia de todos os equívocos. O dia da Imaculada Conceição é o dia em que, exceptuando uma minoria de curiosos e informados, se confunde concepção de Maria com a concepção de Jesus e se aproveita para, a reboque, dizer umas patacoadas, contestar, e mostrar desacordo perante o que pensam ser o conceito de Virgindade de Nossa Senhora – dogma bem antigo e que data do séc.VII. Imaculada Conceição quer dizer tão simplesmente concebida sem mácula. Este foi o dogma proclamado em 1854 pelo papa Pio IX que diz que por privilégio e Graça de Deus, Maria foi concebida sem pecado original. Esta festa tem a ver com Maria e a sua concepção e não com Jesus nem com a sua concepção. É este facto que a Igreja Católica celebra hoje, e com ela todos os restantes cidadãos que aproveitando o Dia Santo cujo conceito desconhecem e desaprovam mas que nem querem ouvir falar em abolir, vão para os centros comerciais fazer compras de Natal!

7.12.06

A montante e a jusante

Na discussão sobre o aborto muitos argumentos foram já sobejamente enumerados, analisados, dissecados e atirados para o outro lado do campo como arma de arremesso. Restam os argumentos tabus. Para os partidários do “Sim” o grande tabu é a questão de princípio, a questão a montante, aquele pressuposto que deveria ser primeiro considerado: o da vida. Não o de tentar ser deus e adivinhar o momento do sopro da anima - será o momento da concepção, ou o momento da nidação, ou o momento do início da actividade cerebral, todos estes momentos catalogados em dias e em semanas, mas o aceitar que é da vida que se trata quando se fala em aborto. E a assunção de que abortar é acabar com essa forma de vida. Isso um partidário do “sim” não dirá, eu acho que é pena primeiro porque fica tudo mais claro e depois porque ao não o admitir perpetuam-se diálogos de surdos com os partidários do “não”. Os partidários do “sim” detêm-se nas questões sociais, e nas questões da liberdade individual. Essas, as questões a jusante, são o tabu dos partidários do “não”. Muitas vezes fixam-se só na questão de princípio e nunca admitem que, mesmo com informação, mesmo com educação sexual, mesmo com toda a contracepção do mundo ao dispor, mesmo com todas as “ajudas” de que tanto falam, existirão sempre mulheres que quererão abortar. Por vontade própria, empurradas pelos parceiros ou pais do feto que têm na barriga, por pressão dos seus próprios pais quando são ainda adolescentes, seja por que motivo for, elas abortarão independentemente da classe social, da situação financeira em que se encontram. Este é o facto que os partidários do “não” evitam, pois eles acreditam que “com ajuda” as mulheres não abortarão.

Eu votarei “não”. Limitação minha, certamente, mas nesta complexa questão que é o aborto, enquanto não conseguir resolver o problema a montante, por muito que reconheça os problemas a jusante, será “não” a minha resposta. Não estou de acordo, por uma questão de princípio inabalável minha que é a do direito à vida, que a Lei permita que uma mulher possa em circunstâncias normais (as circunstâncias não-normais estão contempladas hoje na Lei) e por vontade dela ou por vontade de outrem, por fim a uma vida mesmo que não tenha mais do que dez semanas.

6.12.06

Amanhecendo 2

Está tudo louco? 2

Acabei de ouvir nas notícias que a Universidade de Coimbra foi obrigada a abrir uma vaga em medicina para dar entrada a um aluno que, por decisão do tribunal, repetiu o exame de Química do 12º ano do passado ano lectivo e teve 19,5. Eu aconselho todos os alunos que de alguma forma se sentiram injustiçados com o que se passou este ano com o atribulado exame de Química a recorrerem aos tribunais; pelos visto terão uma nova hipótese de entrarem para o curso da sua escolha para o qual, por causa da escassez de vagas, foram excluídos. Confesso que, para minha perplexidade, me é difícil dizer o que está mal nesta história de contornos novelescos: tudo está mal. Desde falta de autonomia das universidades, ao Ministério da Educação, às vagas, aos tribunais, aos exames nacionais, nada, mas mesmo nada sai de cara lavada deste infeliz episódio que revela a incoerência e a arbitrariedade com que se tece o Estado e com a qual parecemos condenados a viver.

4.12.06

Papageno

Falou-me de Papageno com o mesmo entusiasmo com que fala de Spiderman, contou-me histórias de serpentes de pássaros da Rainha da Noite. Perguntei por Papagena e respondeu prontamente. Não vi a peça, mas desde já a recomendo vivamente.

Deus Pai

Artista Italiano séc. XV

O Deus do Mediterrâneo

Dizia Salman Rushdie que uma das grandes diferenças entre o Islamismo e as outras religiões do Deus de Abraão prende-se com a relação entre Deus e o Homem. No Judaísmo e Cristianismo há uma relação de semelhança entre Deus e o Homem uma vez que Deus o fez à sua semelhança, para os cristãos, se fez um deles. Esta relação de semelhança permite uma maior proximidade e intimidade com Deus e é diferente da relação Deus Homem no Islão que assenta sobretudo na noção de submissão à sua vontade e não questionamento. O Islamismo não atribui a Deus qualquer característica humana e é um Deus transcendente. Representá-lo ou descrevê-lo é, desde logo, dar a Deus uma dimensão humana que ele não tem. (A polémica dos cartoons começa aqui nesta noção de transcendência). Falou-se também do paradoxo de Averróis ao perguntar-se como é que Deus teria falado ao profeta se o uso da linguagem é um atributo humano...

Mas estou a começar quase pelo fim, porque importante e surpreendente para Salman Rushdie é o facto de se poder livremente falar de religião. Poder dizer que se é ateu, que os homens é que inventaram Deus, que a história do homem começa antes do conceito de Deus. Poder dizer, como disse Anselmo Borges, que Deus não faz ditados, que o ridículo é sempre ridículo e em religião ainda o é mais, que nenhuma religião, nem todas elas juntas detêm em absoluto o fundamento. Em muitos países do mundo tal seria impossível dizer sem se ser condenado. Importante mesmo é a possibilidade de argumentar, de discutir e esse é o método da democracia.


Estive, no fim-de-semana, no simpósio do Festival Sete Sóis Sete Luas, em Santa Maria da Feira. O tema era “Qual é o Deus do Mediterrâneo” e participavam Cláudio Torres, Anselmo Borges e Salman Rushdie. Ao longo dos próximos dias explorarei alguns aspectos lá debatidos que me mereceram atenção, serão notas avulsas sem preocupação nem de fidelidade em relação ao contexto, nem de nenhuma ordem cronológica, ideológica ou outra.

3.12.06

Vi que estava escuro, pensei no Reno, nas suas escarpas rochosas e escuras das margens, nos castelos altos que se confundem com a rocha; pensei Sturm und Drang, pensei Goethe e Schiller; pensei cinzento metalizado, cinzento chumbo, cinzento antracite. Respirei o ar húmido e vi o casario antigo e sólido por baixo dos meus pés a descer para o rio, o halo de luz em cada candeeiro, o velho muro da outra margem que segura o declive do terreno agora iluminado. Mais acima os neons coloridos. O Romantismo estava lá: a pedra, a noite escura, os halos de luz, a neblina.


O Porto.

Postal Ilustrado

1.12.06

Bom fim-de-semana!


Há um mês era a Implantação da República, hoje é a Restauração da Monarquia. Who cares? Nesta aparente esquizofrenia que só o gosto imoderado por datas que permitam feriados e grandes fins-de-semana explica, celebremos então!

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