“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
holehorror.at.gmail.com

26.12.09


Até um dia de Janeiro.

BOM ANO DE 2010

Dando Excessivamente Sobre o Mar 48

Aaron Morse
Atlantic

23.12.09

Maria


FELIZ NATAL

Solo Dios Basta


Nada te turbe;
nada te espante;
todo se pasa;
Dios no se muda,
la paciencia
todo lo alcanza.
Quien a Dios tiene,
nada le falta.
Solo Dios basta.

Teresa de Ávila, Santa e Doutora da Igreja

22.12.09

Amanhecer 21

Hoje

2009 e 2010

Passou um ano marcado pelas socráticas efabulações, conspirações, golpes e contra golpes. Todos os expedientes foram válidos para assegurar a sobrevivência política de José Sócrates. Esquemas, telefonemas, influências, anúncios de anúncios, favorecimentos de alguns marcaram este ano de duas eleições ainda mais do que os outros. A urgência era também outra. José Sócrates corria o risco de se ver sem o cargo de Primeiro-ministro. Um dia a História contará as histórias, contará como se deitava fogo à aldeia para depois poder gritar alto aos bombeiros para irem rápido apagá-lo e decidir a quem atribuir uns incentivos.

2009 não deixa saudades. 2010 não promete nada de melhor, por muito que os modernaços oráculos europeus tenham decretado oficialmente (ah soberba) o fim da recessão. Por cá irá ser mais do mesmo: para alem da dívida, o drama do desemprego a aumentar pois para a nossa recessão o fim não está à vista. O estilo José Sócrates agudizar-se-á. Descobriremos mais família e mais amigos, mas nunca saberemos nada. O PSD continuará enrolado em si próprio sem querer ver nem perceber o país, nem tão pouco valorizar a líder que tem. O eterno candidato ocupará, logo depois do grande líder, lugares de relevo na comunicação social para o povo ver e lembrar. Sofisticações das técnicas de marketing e comunicação que se especializam em fabricar nadas. Tristes perspectivas. Que sobrem bons filmes e bons livros.
.

20.12.09

Do Frio

Nikita permanecia imóvel desde que se sentara, coberto com a esteira, atrás do trenó. Como toda a gente que convive com a natureza e conhece a miséria, era paciente e capaz de esperar horas a fio, ou mesmo dias, sem se inquietar ou irritar. Tinha ouvido o patrão a chamá-lo, mas não respondeu – porque não se queria mexer nem falar. Embora ainda guardasse algum calor do chá que bebeu e se tivesse esforçado muito a andar na neve funda, sabia que esse calor não duraria para muito mais tempo e que já não teria forças para se aquecer andando e mexendo-se (...). Por todos os indícios passou-he pela cabeça que poderia morrer essa noite, mas a ideia não lhe pareceu especialmente desagradável nem assustadora. Não era desagradável porque a vida de Nikita, ao invés de ser uma festa permanente era um calvário de trabalho constante de que já começava a cansar-se. E não era muito assustadora porque , alem dos patrões como Vassili Andreitch, que servia neste mundo, se sentia dependente do patrão principal, o que o mandara para esta vida; e sabia que, mesmo depois de morrer, ficaria sob a alçada desse patrão, um patrão que não o ofenderia (...).

Lev Tolstói, O Diabo e Outros Contos, O Patrão e o Moço de Estrebaria.

Creio que esta colectânea de Contos de Lev Tolstoi foi, na minha juventude, a introdução à literatura russa. A partir daí fui lendo (e nalguns casos, relendo) ao longo dos anos Tchecov, Dostoievsky, e mais recentemente Pushkin, entre outros. Quando recentemente comprei esta colectânea procurava relembrar como eram estes contos, o que os diferenciava (tudo, mas isso não é para agora) dos de Tchecov sempre presentes porque os leio e releio com muita frequência, mas procurava também, percebi isso depois de ler, reencontrar a emoção que tinha sentido ao ler este conto O Patrão e o Moço de Estrebaria que nunca esqueci. O meu primeiro contacto literário, e não só, com o frio da Rússia, mas também a imensidão e a neve, a noite, a morte, a facilidade com que se dispunha da vida de outro (um criado), o álcool, a ambição, a crueldade da natureza que não se adapta ao desejo e à pressa do homem. Essa emoção, esse sentido trágico do conto está totalmente intacto na leitura de hoje como na leitura de há tantos anos. Impossível lê-lo sem sentir frio. Como sempre me lembrei deste conto (dos outros lembrava vagamente) como um dos contos de Tolstói, a surpresa quanto ao desenrolar da narrativa era irrelevante no fazer do trágico, porque mesmo numa primeira leitura esse “final” vai-se construindo e adivinhando ao longo da leitura, sobretudo através do olhar de Nikita (moço de estrebaria) que, ao contrario do Patrão que tem pressa em chegar, é um observador do desenrolar dos acontecimentos: sem ímpetos, com resignação e sem pressa. E depois, como diz também Nikita, em relação ao final , na última frase do conto: “Todos nós o saberemos, não vai tardar muito”.


18.12.09

E pur si muove.
.

Plataforma Contra a Obesidade 56

Frans SNYDERS (1579 - 1657)
Fruits et légumes avec un singe, un perroquet et un écureuil

17.12.09

Agora que o Conselho Superior da Magistratura concluiu ter Lopes da Mota pressionado os investigadores do caso Freeport aplicando-lhe uma pena, seria bom fazer as perguntas seguintes. Porquê? A pedido de quem? E para evitar que se investigue o quê ou quem? Parece haver aqui matéria suficiente para avançar na investigação.

O País das Maravilhas

Se algum(a) marciano(a) aterrasse agora em Portugal e abrisse um jornal iria ficar impressionado com as prioridades políticas e legislativas do nosso pais: regionalizar um país demasiado homogéneo e claustrofóbico, legalizar o casamento de pessoas do mesmo sexo - depois de ter legislado anteriormente uma versão de “divórcio turbo” que tem dado que fazer aos tribunais de família, e arrancar com o projecto/investimento do TGV que trará a Europa para mais perto de nós. O dito marciano pensaria estar perante um país rico e próspero com os problemas essenciais para o bem estar de uma sociedade resolvidos. Ele saberia, por exemplo, que estava num pais que não tinha dívida externa, em que o desemprego era quase inexistente, a indústria era sólida e espelho de um confiante investimento e consumo privados, a justiça célere e conclusiva, a educação exigente formava cidadãos solidamente qualificados, o sistema de saúde respondia na hora às necessidades dos contribuintes e que a política fiscal era justa. O Pais das Maravilhas.

José Sócrates continua com a sua política de fugir para a frente, anunciando medias umas atrás das outras e legislando rápida e sucessivamente em matérias fracturantes de forma a atordoar o eleitorado e a encandear o nosso olhar para nos impedir de ver. Mas há sempre alguém atento. Há sempre quem veja. Há sempre quem perceba. Valho-nos isso.
.

Là-bas, Je Ne Sais Pas Où... 3


Albert Gleizes
Houses in a Valley
.

13.12.09

A Queda do Muro de Berlim e os Anos 80 (uma visão) 3

O entusiasmo consumista foi contaminando o mundo. O glamour era a palavra de ordem, e todos queriam marcas: vestir marcas, calçar marcas, usar marcas e logótipos bem visíveis. Esta corrida aos produtos de luxo conhece um crescimento sem precedentes no Japão, pois os japoneses que têm muito dinheiro revelam-se fervorosos consumistas de produtos de luxo. Note-se que o Japão se torna, nos anos 80, numa importante potência económica impondo os seus produtos (carros, electrónica), atordoando os produtores tradicionais do mundo ocidental, e Tóquio é uma das maiores praças financeira do mundo. A cultura empresarial do Japão fascina o ocidente, nomeadamente a América. Mas o Extremo Oriente não é só japonês, todo ele fervilha e os seus mercados financeiros têm um peso cada vez maior no panorama mundial.

A China, esse pais fechado e comunista dá, com facilidade, os primeiros passos capitalistas começando a criar uma economia de mercado com a liberalização do comércio e a promoção da iniciativa individual. No entanto essa abertura económica não se fez acompanhar de abertura e liberdade política. Enquanto o império Soviético estremecia acabando por ruir com a Queda do Muro de Berlim, Pequim manteve-se inexorável no controle das liberdades individuais. O Massacre de Tiananmen foi o momento dramático em que os chineses percebem que nada mudou no tocante às liberdades individuais.

Também Singapura se torna num importante centro financeiro e económico do mundo e a Malásia, por exemplo, conhece grande crescimento económico. No entanto nenhuma cidade tinha “glitter” como a Hong-Kong cheia de neons dos anos 80. Tive a sorte, porque vivi num curto período de tempo em Macau, de conhecer bem Hong-Kong que conheceu um ambiente e energia únicos (visitei a cidade posteriormente no final da década de 90 já sob a administração chinesa e, apesar de próspera, o ar que se respirava era totalmente diferente). Na minha memória Hong-Kong é a cidade que melhor simboliza os anos 80, pela sua “vibração”, entusiasmo, prosperidade económica, gosto de viver, uma esperança apressada que acreditava que o futuro iria passar por lá melhor e mais depressa do que no resto do mundo. Tudo parecia possível naquela cidade que acreditava estar no centro do mundo.

Claro que nada dura sempre e em finais de 1987, Black Monday foi uma chamada à realidade, não só de Hong-Kong e do Extremo Oriente próspero, nomeadamente dos EUA, país que inventou os Yuppies. A embriaguez provocada pelo crescimento económico e por tantas fortunas que vimos fazerem-se dá lugar à ressaca no mundo financeiro.

No entanto a década não acaba com a crise financeira, no final do ano de 1989 a Queda do Muro de Berlim trás entusiasmo e um sopro de esperança com o fim do mapa político que a Guerra Fria desenhou e abrindo um novo capítulo geo-político. Nessa altura cantava (mal) isto e dançava ao som o disto e disto.

(Ver pequena adenda "musical" no post A Queda do Muro de Berlim e os Anos 80 (uma visão) 2.)
.

Entardecer 14

Hoje
.

12.12.09

D. Manuel Clemente

Foi reconhecido, a D. Manuel Clemente pelo júri que atribui o Prémio Pessoa, que

Há, no entanto, alguns sectores anti-clericais na sociedade, sobretudo numa determinada esquerda de causas, que não “percebe” o porquê do prémio e o critica, mas que esquecem que não podem "perceber" quando, por puro preconceito tantas vezes, não querem olhar e ver. Estes sectores convivem mais facilmente com a estupidez, pequenez e falta de cultura que existe dentro da Igreja Católica do que com a excelência, inteligência, cultura e o rigor, já para não falar da bondade (conceito absolutamente desactualizado e potencialmente perverso). São escolhas.
.

10.12.09

Amanhecer 20

Hoje
.

Da Igualdade

Parece que a moda pegou e que não há maneira de sair desta linha de argumentação: quem não gosta do PSD, ou melhor, deste PSD, ou melhor, de Manuela Ferreira Leite, mais tarde ou mais cedo, e por muitos ares que se dê de distanciamento político e de isenção, acaba sempre por cair no argumento trivial e grau zero da argumentação política: “são todos iguais”. Eu sei que é fácil ceder ao populismo e à audiência “taxista”, e eu sei que a vida nem sempre é fácil e que às vezes é preciso despachar uma opinião para um jornal ou uma televisão como quem faz a lista de supermercado, mas de certos comentadores espera-se (espera-se mesmo?) um pouco mais de seriedade na análise.

O último caso que me chamou a atenção foi este artigo de Constança Cunha e Sá (via). Esta frase o mal, como se vê, está bem distribuído pelas aldeias, uma versão aparentemente mais elaborada e sofisticada do “são todos iguais”, mostra preconceito (para não dizer má-fé) em relação aqueles que questionam – e querem esclarecimentos sobre – a conduta do Primeiro-ministro. Os factos apontam para que o Primeiro-ministro tenha, numa conversa que foi escutada no âmbito de uma investigação de que era objecto o seu interlocutor, mostrado que interferiu na area da comunicação social através de um negócio que disse, na altura no Parlamento, desconhecer. A ser verdade há aqui matéria para investigar. São questões da esfera política ligadas à forma como tem exercido o seu cargo público. Por isso as questões levantadas são legítimas, tal como as dúvidas, até agora nunca esclarecidas, que todos temos em relação ao caso Freeport, e à questão da discrepância de biografias de José Sócrates no Parlamento, por exemplo.

Dúvidas deste género não se colocam nem no caso de Manuela Ferreira Leite, nem no caso de Aguiar Branco, (ou de outros anteriores dirigentes socialistas, por exemplo) por muitos erros politicos que comentam, por muita falta de “jeito para a política” (seja lá o que isso for) que tenham. Não gostar de um politico não faz dele um “igual” a outro de quem não se gosta também, mas que está (e tem estado em permanência) sob suspeita de ter cometido e cometer actos ou ilegais ou menos éticos do ponto de vista politico. Querer "igualar" é não querer perceber a óbvia diferença. Por muito que insistam, nomeadamente os que gostam de ver a “diferença” em Pedro Passos Coelho (as if...), nunca farão de Manuela Ferreira Leite uma “igual” a José Sócrates, nem (infelizmente) de José Sócrates um “igual” a Manuela Ferreira Leite.

Não, não são todos iguais. Não, o mal não está igualmente distribuído pelas aldeias.
.
(...) Estamos todos, aliás (de passagem). É pena que a maior parte das pessoas morra sem perceber esta trivialidade.
Aqui
.
O zelo dos convertidos. Ou afinal sempre dá resultados ter uma oposição “radical”.
.

7.12.09

Outra 1ª página horrorosa e o novo tom ou estilo ou linha editorial ou seja-lá-o-que-for que se impõe sem surpresa: cada vez mais banal, superficial e previsível. A ler aqui.


6.12.09

Coisas que se podem Fazer ao Domingo 44

Sketch model for Eros, 1893, na RAA

Procurar o equilíbrio
.

A Queda do Muro de Berlim e os Anos 80 (uma visão) 2

Lembro no chamado mundo do "ocidente" duas personalidades fortes de “direita” que dividiam as atenções: Ronald Reagan e Margaret Thatcher. Nenhum dos países que governaram ficou na mesma, e com Ronald Reagan o mundo ficou diferente: levou a guerra fria a um outro nível com o seu programa ambicioso e ambíguo (ofensivo disfarçado de defensivo) Star Wars cuja intenção era desestabilizar o equilíbrio de forças – bélicas - entre o mundo ocidental e o leste – note-se que estes conceitos "ocidente" e "leste" na altura não tinham o carácter global que hoje têm: o mundo era “mais pequeno”, e o “leste” não era mais do que a União Soviética e os países, europeus ou não, sob influência soviética. Este programa foi amplamente contestado pela “esquerda” e liberais bem pensantes da época que sempre se recusaram e ver em Ronald Reagan algo mais do que um actor de talento duvidoso de filmes série B, que o viam incompetente para liderar o mais poderoso país do mundo e que este desequilíbrio pretendido resultaria numa escalada de agressão a nível mundial. Creio que a História não lhes dará razão, apesar de na altura, e do alto da minha omnisciência, eu também achar que Ronald Reagan era “básico” demais.

Margaret Thatcher reformou e/ou privatizou uma boa parte das instituições do Reino Unido (NHS, e BT por exemplo) para escândalo de muitos tradicionalistas (nomeadamente dentro do seu partido) mudando e modernizando o país. Ninguém gostava dela, mas tal como Reagan, sabia ganhar eleições. Lembro bem, porque vivia então em Inglaterra, de como ganhou um duro, longo e penoso braço de ferro com os sindicatos, nomeadamente o sindicato dos mineiros que, liderado pelo então célebre Arthur Scargill, fez uma das mais difíceis greves da história do Reino Unido com grande sofrimento de muitas famílias de mineiros. Essa vitória ajudou ao enfraquecimento do poder dos sindicatos no Reino Unido, nomeadamente enfraquecendo a sua, então grande, influência no Partido Trabalhista. No plano internacional Mrs Thatcher ficou conhecida pela sempre enfatizada “empatia” pessoal com Gorbatchev, o homem que sentiu a decadência de um regime, que se mostrou, e que pôs as palavras perestroika e glasnost na nossa boca.

Uma outra greve ficou célebre nos anos 80: a greve nos estaleiros de Gdansk na Polónia com dois protagonistas Lech Walesa e o sindicato Solidariedade. Esta luta pelos direitos e liberdades numa Polónia asfixiada contou com o apoio de um outro polaco, Karol Wojtyla, que em 1978 ascendeu ao lugar de S. Pedro e se tornandou o Papa João Paulo II. A Polónia e os polacos que no fim da década atravessam fronteiras para chegar ao "ocidente" foram uma das faces visíveis do desmoronar da influência soviética e da caducidade e inviabilidade do projecto “comunista” que culmina na simbólica destruição do Muro de Berlim e no desfazer de fronteiras.

Adenda: Nessa altura "Top Gun" fazia êxito (quem não viu o filme que atire a primeira pedra) e canções como esta ou esta estavam no top do Reino Unido.

(Continua)
.

3.12.09

Entardecer 13

Há uns dias
.

Fadas Madrinhas

Parece que Armando Vara terá recebido uma carta anónima no seu escritório do BCP a avisar que o Primeiro-ministro e seu amigo José Sócrates estaria a ser alvo de escuta telefónica. Este facto, a ser verdade (não que eu tenha acesso a alguma informação privilegiada, ou a segredo de justiça, é só mesmo algum natural cepticismo) e não mais outra “montagem” para a Polícia Judiciária encontrar, abre todo um novo horizonte simbólico em torno das cartas anónimas. Deixam de um instrumento exclusivo das forças maléficas, obscuras e vingativas e passam a ser também instrumento das fadas madrinhas e outras forças do “bem”. Só não percebo a necessidade do anonimato. Sempre pensei que não havia almoços grátis, nem para as fadas madrinhas.
.

Arquivo do blogue

Acerca de mim

temposevontades(at)gmail.com