“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
holehorror.at.gmail.com

30.1.08

Brain Damage

The lunatic is on the grass
The lunatic is on the grass
Remembering games and daisy chains and laughs
Got to keep the loonies on the path

The lunatic is in the hall
The lunatics are in my hall
The paper holds their folded faces to the floor
And every day the paper boy brings more

And if the dam breaks open many years too soon
And if there is no room upon the hill
And if your head explodes with dark forbodings too
Ill see you on the dark side of the moon

The lunatic is in my head
The lunatic is in my head
You raise the blade, you make the change
You re-arrange me till Im sane
You lock the door
And throw away the key
Theres someone in my head but its not me.

And if the cloud bursts, thunder in your ear
You shout and no one seems to hear
And if the band youre in starts playing different tunes
Ill see you on the dark side of the moon

Eclipse

All that you touch
All that you see
All that you taste
All you feel.
All that you love
All that you hate
All you distrust
All you save.
All that you give
All that you deal
All that you buy,
Beg, borrow or steal.
All you create
All you destroy
All that you do
All that you say.
All that you eat
And everyone you meet
All that you slight
And everyone you fight.
All that is now
All that is gone
All thats to come
And everything under the sun is in tune
But the sun is eclipsed by the moon.

Pink Floyd. Ver aqui.

Literalmente


Ainda com os efeitos sonoros da remodelação de ontem, hoje acordei mentalmente ouvindo "dois tigres à solta...", e nem consegui ouvir mais. Espantoso, pensei: uma nova metáfora política; ou será o efeito de alguma agência de comunicação, elevando-a a patamares ousados e a um novo paradigma de comunhão com a natureza? Nada disso. Por uma vez a comunicação era para ser levada literalmente. Estavam mesmo dois tigres à solta.

29.1.08

Velas 10

Hoje
(clicar para aumentar)
O plástico já chegou às remodelações do Governo e agora também já temos remodelações de plástico. Ver também aqui.

Será que mudando o Ministro da Saúde mudam a política de saúde, ou só o estilo? Se muda a política, como fica a reforma do SNS já iniciado? Quem contestava o Ministro contestava a política ou o estilo? O sector do PS que provocou a queda do ministro tem soluções diferentes? Quais? Marcelo Rebelo de Sousa vai ficar contente.

Os critérios da remodelação são também, no mínimo, bizarros. Parece ter sido feita só porque sim. Mais um retoque do que uma remodelação. Um exemplo só: Mário Lino a quem se criticava e critica a política e o estilo fica.


Dando Excessivamente sobre o Mar 23

John Constable (1776-1837)
Harwich Lighthouse

28.1.08

Buñuel ou Monty Python?

Vi-me hoje num hospital do SNS bem no centro de Lisboa, moderna e dinâmica capital europeia. O hospital parece tudo menos um hospital, foi feito numa altura em que ainda não havia arquitectos de hospitais em ateliers altamente especializados que estudam circulação, circuitos e optimizações. Este hospital é feio, inadaptado e tudo totalmente non user friendly para qualquer categoria de pessoa que tenha de o frequentar, ou pior ainda de nele trabalhar. Aliás creio que trabalhar lá deveria dar direito a uma bonificação extra. Dito isto lembro que o dito hospital já é hospital há tempo demais.

Nos minutos que antecedem a hora da visita, os visitantes vão esperando com ar de quem está já habituado, nos corredores impossíveis de descrever e onde é difícil perceber o que está mal. Tudo está o que torna a descrição complicada e sem nenhum tipo de efeito de surpresa. Mas não foram estes aspectos que me chamaram a atenção, apesar de cada um deles a merecer pois só a nossa familiaridade com tais condições é que nos torna inertes e nos impede um enorme grito de revolta. O que hoje presenciei de verdadeiramente extraordinário, e se o que aflorei até agora revela um surrealismo digno de Buñuel, este caso é mais próximo de um surrealismo Monty Pytoniano, é o facto de que, por causa de umas obras de nada que parece não terem acontecido, os pacientes tiveram de mudar de quartos na enfermaria. (A enfermaria tem vários quartos cada um deles com várias camas). Tentaram, com uma ou duas excepções, manter os pacientes nas suas camas que são numeradas, mas porque uns foram para uns quartos e outros para outros a lógica numérica daquela enfermaria perdeu-se, bem como a memória visual que liga o paciente ao quarto e ao local. Para complicar tudo, os números da cama nem sempre estão visíveis, e à entrada dos quartos ainda está a indicada a numeração antiga. Assim nos últimos dias as dietas andam trocadas, vão fazer raios-x ou outros exames os pacientes errados, os médicos, que mudam bastante e nem sempre conhecem bem o paciente, porque ainda não o tinham visto, ou porque olham sobretudo para a ficha médica, falam com os pacientes errados, as enfermeiras só depois de irem a um quarto se lembram que é no outro que está o paciente que tem que ser medicado ou ter o soro mudado. Olhei para aquela enfermaria e pensei que dos pacientes aos médicos, lá estar, trabalhar e estar disponível ou lá estar e recuperar de uma doença, é feito digno de heróis. Repito é de Lisboa que falo, não é do interior abandonado.

Ah, não quero esquecer, pois fiz uma nota mental para aqui o escrever: naquela enfermaria numa prateleira pequena por cima da porta da entrada estavam discretos, mas visíveis para todos, nada menos do que 7 imagens religiosas de vários tamanhos e de qualidade estética duvidosa representando, tanto quanto pude perceber, a Nossa Senhora e o Santo António (o padroeiro da cidade). Duas jarras com flores frescas – o que de mais fresco havia no hospital, diga-se, ladeavam as imagens. Não há decreto que mude hábitos e tradições demasiado enraizados.

27.1.08

Via Blasfémias cheguei a este post da 4ª República sobre a recente aprovação dos PPR públicos. Também a mim me apetece dizer, mais Estado não, muito obrigada! Sobretudo tendo em consideração todos os pressupostos lá descritos e questões lá levantadas. Sobra sempre a vontade do governo de que o Estado tenha sempre o máximo de dinheiro possível. Uma questão de equilíbrio das contas, senão como é que chegavam e mantêm um déficit inferir a 3%? Todos os meios são bons para fazer os euros dos cidadãos chegarem às mãos benevolentes do estado. Se não fosse essa a intenção, o governo deixava que se baixasse a prestação do cidadão à segurança social desde que este último provasse que investia em fundos de pensões privados.

E a propósito de fundos de pensões, que é feito daquela ideia antiga de Paulo Teixeira Pinto, ex-administrador do BCP, de a Segurança Social absorver o fundo de pensões do Millenium BCP? Será que esta nova administração (que lá entrou pela mão do estado) vai deixar a ideia morta ou vai querer ressuscitá-la?

Coisas que se podem fazer ao Domingo 23

Giovanni Bologna (1529–1608)
Triton



Chamar os amigos

25.1.08

A Guerra de Charlie Wilson

Ou Jogos de Poder (numa pouco feliz tradução)

Este é um filme tipicamente americano. Um bom filme, daqueles que os americanos sabem fazer, com uns momentos maus também daqueles que os americanos fazem bem. O Afganistão é o palco da intriga política - baseada em factos reais, e olha para um aspecto da política internacional norte americana com os olhos de quem hoje já sabe “no que deu”. Não é isso que é interessante, o que é interessante são os mecanismos que obrigaram, fizeram e construiram essa política e neste aspecto o filme é uma reflexão desapaixonada e muito verosímil. A narrativa escorre a bom ritmo e à boa maneira de holywood, com bons diálogos e com boas prestações dos actores: Tom Hanks, Julia Roberts, Philip Seymour Hoffman e Amy Adams estão ao melhor nível. O único senão, são algumas das cenas no Oriente, nomeadamente porque a pior, a pouco convincente, mal feita e algo básica e redutora, cena no campo de refugiados afgãos onde Charlie Wilson vai e se “converte” à causa talibã contra os soviéticos. Estes momentos simplistas em que o mundo é dividido em maus e bons, em causas e efeitos – o momento final sobre a opção da não ajuda para construção de escolas, por exemplo, são o grande senão do filme. Alguns sentimentalismos fáceis nessas cenas eram também escusados, e esses momentos menos apurados impedem que se diga que o filme é óptimo. Mesmo assim, gostei de ver.

23.1.08

Plataforma contra a Obesidade 30

Georges Braque (1882-1963)
The Table (Still Life with Fan)

Saber Demais


Somos curiosos e queremos saber. Depois aprendemos que era melhor não sabermos certas coisas, mas mesmo assim queremos saber sempre mais e persistimos ávidos na certeza de que o saber não ocupa lugar. Mas ocupa, e às vezes ocupa lugares estranhos nas frinchas do ser, nos cantos menos óbvios, outras vezes é como uma bolada bem no centro, que afasta tudo o que lá está. Às vezes sabemos porquê, outras vezes não sabemos.

Saber que e como morreu Heath Ledger ocupa lugar. Porque foi memorável em Brokeback Mountain, porque não deslumbrou num filme medíocre como Casanova, porque era novo, porque era um belo homem, porque pensava que era feliz, porque era infeliz, porque podia estar enganado...

22.1.08

Tardes de Inverno 8

Fragonard (1732-1806)
Le Verrou
(Clicar para aumentar)

21.1.08

Sobre o Ocidente, ler aqui.

.

O Primeiro-ministro não conhece Viana do Castelo. Se conhecesse não fazia o tipo de declarações que se podem ler aqui, nem se mostrava tão satisfeito em relação à sua obra passada e ao reconhecimento da população. Em Viana do Castelo o importante é fazer festa, e qualquer pretexto serve para a festa. É por isso que Viana é única.

Pedro Homem de Mello é que sabia. Se o meu sangue não me engana / Como engana a fantasia...

20.1.08

Coisas que se podem fazer ao Domingo 22

Edgar Degas (1834-1917)
The Little Fourteen-Year-Old Dancer

Dançar Ballet

Beethoven no CCB

No âmbito do Ciclo de Piano do Projecto Beethoven 20068 (que nome!), fui ao CCB ouvir Giovanni Bellucci, num grande auditório cheio a metade. A versão para piano feita por Franz Liszt da 5ª Sinfonia de Beethoven é uma peça ambiciosa e de enorme fôlego que mostra a complexidade e riqueza do instrumento, e que requer grande técnica, dedicação e sensibilidade por parte do pianista que entusiasmou a plateia e que lhe retribuiu em palmas e bravos. O resultado é mais Lisztiano do que Beethoveniano, e se dúvidas houvesse a sonata seguinte (Hammerklavier, opus 106, supostamente uma das peças de piano de mais difícil execução) pode confirmá-lo. Gostei bastante do concerto e do pianista, apesar de uma série de crises de tosse que afligiu vários cantos da plateia durante o belíssimo 3º andamento da sonata: “convenientemente“ um adagio sostenuto cheio de momentos de pausas, de algum silêncio e de grande lirismo e delicadeza. Porque não esperaram para tossir pelo mais barulhento andamento seguinte?

19.1.08

Expiação

Li Atonement de Ian McEwan há uns anos quando o romance saiu. Foi um romance de que gostei bastante (muito mais do que de Amsterdam que lhe valeu o Booker) tal como gostei de On Chesil Beach. Não posso agora, e porque não o reli recentemente, fazer uma análise mais completa do romance mas lembro que uma das ideias mais marcantes que a obra me deixou foi, para além do facto de ter uma escrita muito cuidada, a forma como desde o início, com uma espécie de aquecimento dos motores ou de preparação do terreno, se dá conta de um percurso individual de expiação. Não é arrependimento, é mesmo expiação, no sentido cristão de expiar um pecado, uma culpa; carregá-lo toda a vida como quem carrega um fardo. Toda a vida da personagem é moldada por essa expiação.

Foi com curiosidade – cautelosa - que fui ver o filme “Expiação” de Joe Wright. O filme começa bem, mas creio que a segunda parte perde um pouco em termos de densidade. A primeira parte é muito bem feita do ponto de vista formal com leituras diferentes dos pedaços que constituem os acontecimentos, conforme estejam a ser os olhos de uns ou de outros que os “vêem”. Nesta diferença de olhares começa o terreno a ser preparado para a possibilidade e a concretização do pecado ou culpa que marcará e mudará a vida de todas as personagens. O espectador está perturbado, mas entende o porquê. A partir daqui o filme perde-se querendo ser mais do que deveria querer, porque parece perder o seu objectivo central que circula à volta da culpa. De repente sentimos que estamos perante uma conturbada história de amor em cenário de guerra (excessivo), por muito legítima ou interessante que essa história seja. O romance, da mesma forma que na primeira parte preparou o terreno para o pecado, na segunda centra-se no percurso pós pecado, no efeito da culpa focando o arrependimento, as tentativas de reparação, mas não a redenção, o que deixa a personagem “pecadora” em situação de expiação até ao fim dos seus dias. É esta densidade que falta ao filme na segunda parte e que não é tão bem traduzida nem sequer a nível formal. Apesar dos cenários de guerra e dos feridos em enfermarias cai-se em alguma banalidade tornando o fim menos interessante do que princípio e deixando-nos, espectadores, um pouco insatisfeitos. Dos actores, saliento o trabalho de Keira Knightley que se afirma enquanto actriz madura.

18.1.08

Fumos 2

Do Glamour

Quando se olha para esta fotografia associamos o fumo de um cigarro e o fumar ao glamour e sedução e pensamos como é bonita a fotografia de Lauren Bacall de cigarro na mão. Mas bonita é Lauren Bacall: bonita, elegante, fotogénica, bem maquilhada, bem penteada, bem vestida. Ela é uma actriz e esta é uma fotografia de uma das muitas “personas” por ela encarnada, são poses estudadas no ângulo certo, com a luz certa, tiradas por profissionais para que tudo esteja bem e o preto e branco a dar um toque de estúdio. Não é o cigarro que dá o glamour.

Nesta outra fotografia de Anna Magnani, não é o glamour que é valorizado, mas sim o lado mais “intelectual” do cigarro pois Anna Magnani não tem a beleza mais “óbvia” de Bacall. Aqui é a intensidade que conta, o poder, a fragilidade, a escolha, a decisão, enfim um lado mais interior de uma outra faceta de sedução a que tantas vezes também se associa o cigarro e o acto de fumar. Mas mais uma vez, é também uma fotografia de estúdio de um ser que tem a sorte de ser fotogénico. Anna Magnani é que tem magnetismo e intensidade, não é o cigarro.

Os instantâneos de gente comum a fumar são bem diferentes, sem glamour, sem intensidade, e certamente muito menos mistério. O melhor que se pode dizer é que são banais. Claro que os instantâneos seja de quem for são todos eles banais; é verdade, mas abstenho-me de nomear e listar algumas diferenças entre instantâneos de fumadores e os outros de tão óbvias e tão pouco glamorosas, intensas e sedutoras que são. Por isso há que não perder o norte e pensar que sem o cigarro lá se vai o mistério, a beleza, e que a discussão intelectual fica sem intensidade. A vida continua.

Dando Excessivamente sobre o Mar 22

Edward Hopper (1882-1967)
Rooms by the sea

17.1.08

Fumos

Num ambiente na comunicação social e nos blogues ainda marcado pela síndrome de abstinência de tantos fumadores que vêm limitado (um pouco, só) o seu direito de acender um cigarro onde quer que seja, leio posts indignados com o ambiente de proibição em que se vive hoje, num saudável saudosismo do “é proibido proibir” dos idos anos 60 que nunca é mau lembrar, e vejo glamorosas imagens de homens (se é que Serge Gainsbourg alguma vez foi glamoroso...) e mulheres de cigarro na mão ou na boca tentando demonstrar e elevar a estética do acto de fumar. Primeiro dos direitos. A seguir do glamour.

Dos direitos

O meu direito e a minha liberdade individual de não respirar em ambientes de fumo e de não ser fumadora passiva foi, desde que me lembro, objecto de muito pouca preocupação quer por parte do estado quer por parte dos fumadores que comigo privavam e ainda privam, com raríssimas e honrosas excepções. Anos e anos trabalhei em ambientes de fumo com fumadores desde as primeiras horas da manhã (e não sabem o que custa) e respirei o ar que eles poluíam, tomei refeições olhando e respirando cinzeiros cheios, arranjei o cabelo em cabeleireiros onde outras senhoras afastavam de suas cabeças acabadas de pentear o fumo dos seus próprios cigarros. São estes alguns dos exemplos de uma lista que poderia continuar. Custou-me sempre acreditar que o meu direito de não respirar ar sujo e estragado pelo cigarro dos outros tenha sido ao longo do tempo objecto de tão pouca consideração, respeito e preocupação. Mais do que o fumo de um cigarro que um amigo possa fumar perto de mim, e que pouco incomoda de facto, o que revolta tantos não-fumadores foi, e é, o facto de ser dado como adquirido o nosso acordo – tácito, em respirar o ar sujo pelo fumador, mostrando, esse sim, pouco respeito pela nossa liberdade e saúde. E tratar da minha saúde é um direito que me assiste e que exerço como e quando quero, tal como o direito dos fumadores de, na privacidade ou em locais apropriados fumarem tanto quanto queiram. Finalmente o estado pela mão deste governo e de outros anteriores (e este blogue não pode ser acusado de simpatias com o governo que hoje nos governa) tem vindo a proteger um direito meu e de uma tão grande maioria de, em locais públicos e fechados se respirar ar sem fumo.
(continua)

16.1.08

O melhor resumo de tudo o que tem sido sobre a novela BCP é dado simples e inequivocamente pelas reacções do mercado, mais do que pelos votos dos accionistas, por vontades políticas de consensos ou fiscalizações das entidades reguladoras. (Não aprendem). Próxima OPA à vista? Ver aqui.

15.1.08

14.1.08

Pouco Encantada

Enchanted”, uma produção da Disney, foi o último filme que vi desta temporada infantil que vem (e vai) com o Natal. No entanto não fiquei tão encantada com Enchanted como gostaria e resumiria a minha opinião a um “vê-se!” Apesar de três ou quatro momentos bem conseguidos sobretudo no início do filme, ele desenvolve-se e acaba numa banal previsibilidade, que presumo seja intencional para não tornar o filme demasiado “inteligente” e/ou "exigente" para o público. Os actores surpreenderam-se positivamente com excepção de Patrick Dempsey (o Dr. Shepperd da Anatomia de Grey). Para o ano há mais.

13.1.08

Serviço

O exercício de um cargo político, ou de outro cargo público com poder e elevada capacidade de decisão, deveria ter por base a noção de serviço. Num mundo ideal tem, e num outro mundo menos imediatista em que o carácter se forma com base em valores pouco visíveis e não consumíveis, de vez em quando também tem. Complementando essa disponibilidade de serviço, deve estar a competência e a integridade. Todas as outras possíveis ou desejáveis características ao lado destas são, em última análise, irrisórias e servem sobretudo para encher jornais. A ambição, a visibilidade, a atracção pelo poder ou a ilusão de que se exerce esse poder, o estar lá nos centros de decisão ou a ilusão de que realmente se decide, o querer-se e saber-se influente, a certeza de que hoje um cargo político é um degrau seguro para um futuro confortável num cargo público ou numa empresa pública, semi-pública ou privada dessas que vivem na promiscuidade que é o nosso regime, são hoje os principais factores motivacionais de quem abraça um cargo de serviço público. Mesmo quando o discurso é sobre a vontade de servir o país os actos, um a um, desmentem-no.

Esta semana que passou ilustrou esta ausência da noção de serviço de forma dolorosamente visível e não deixou também dúvidas quanto à competência e à integridade. Um momento verdadeiramente confrangedor esse em que vimos Mário Lino sentado ao lado de José Sócrates, (ou deverei dizer: em que vimos José Sócrates sentado ainda ao lado de Mário Lino?) enquanto o PM anunciava a decisão de construir o aeroporto em Alcochete... Tal momento, já por demais analisado e dissecado, em que se destaca a constante desfaçatez do PM e a passividade amestrada do ministro, deixou-nos boquiabertos e hoje continuamos a ter dificuldade em acreditar que se tenha mesmo passado. O mesmo aconteceu quando fomos confrontados, já não só com a possibilidade da administração da CGD poder ir para o BCP e Armando Vara com ela, mas com o facto de este último ter pedido licença sem vencimento à CGD para não perder o vínculo laboral que o prende à instituição pública.

Coisas que se podem fazer ao Domingo 21

Romano (fim do séc I AC.)
Aphrodite "Vénus d'Arles"


Imaginar um vestido

10.1.08

Hoje

9.1.08

Grau Zero 3

Se em matéria de símbolos e prática religiosa se tem como objectivo um higiénico vazio, outras áreas nomeadamente relacionadas com o pensar, o questionar, o criticar, o analisar, parecem também estar a sucumbir à mesma redução ao grau zero. A perspectiva que começa a desenhar-se de se acabar com todos os partidos políticos incapazes de fazer prova de terem nos seus registos mais de 5000 militantes, ou o “não” ao referendo sobre a questão europeia são algumas ilustrações desta onda redutora e de terraplanagem da sociedade. Fica um vazio ideológico e de debate, em que a diferenciação não é bem-vinda começando por isso a ser metodicamente eliminada deixando um espaço amplo ao centrão que alimenta o regime para que, de acordo com o soprar dos ventos, este se encha e se tinja de algumas cores para dar uma patine de pensamento, reflexão e de pluralidade. Ambiente, aquecimento global, casamentos gay dão um ar de esquerda, ex-combatentes e liberalizações de alguns sectores de actividade normalmente reservadas ao estado, reforço de autoridade dão o ar de direita, e o ar moderno e actual de quem está na linha da frente é dado com os temas das novas tecnologias ou pelas preocupações com a vida saudável. Está tudo previsto.

Assim nasce uma sociedade grau zero: feita de indivíduos bi-dimensionais, lisos e brilhantes como o aço polido das belas e modernas cozinhas onde impera a higienização e as facas de cabos de cores diferentes, ou gentes polidas de acabamento cuidado e de design perfeito como os sapatos Prada, ou então luminosas, cintilantes, rápidas e eficientes como as luzes dos computadores e de qualquer gadget moderno filho das novas tecnologias. Tudo sem debate, tudo sem colesterol, tudo muito liso, tudo muito igual, tudo muito vazio. Aldous Huxley não fez melhor.

Tardes de Inverno 7

Edouard Manet
Au Café (1878)

8.1.08

Grau Zero 2

O grau zero de referências a, e de sinais religiosos cria um vazio na sociedade em que ele nasce. Os vazios têm os seus perigos, por muito modernos, brilhantes e zen que sejam, nomeadamente o de o serem por pouco tempo, porque algo irá ocupar esse “espaço” de nada: outra simbologia, outros sinais, outras referências, e outros valores. Não sei se a sociedade fica a ganhar se paulatina mas inexoravelmente for substituindo os símbolos e valores de um cristianismo liberal, que é o que se vive na maioria das sociedades europeias, por outros símbolos e valores de cariz laico, por esemplo ligados ao republicanismo e que serviram de suporte ideológico à Revolução Francesa (também eles uma evolução “laica” de valores cristãos) ou, outro exemplo, ligados a aspectos mais materiais, consumistas e de “progresso económico”. Também não sei se a sociedade fica a ganhar se forem outros os símbolos e valores que a pouco e pouco e se forem nela entranhando, nomeadamente se forem ligados ao Islamismo, uma religião expansionista e agressiva que preza pouco a laicidade e a separação entre Estado e Religião. Muitos países Europeus estão a confrontar-se com sérios problemas de valores com as suas comunidades muçulmanas.

Eu creio que no aqui e agora, e prevenindo o que poderá ser um mau futuro, as investidas dos que se reclamam herdeiros de valores republicanos e laicos, e viram o seu combate em direcção à igreja Católica, poderiam tomar também outros rumos. Vou deixar aqui um pequeno inventário de questões, apesar de ainda pouco visíveis em Portugal e de dimensão inferior à de uma parte relevante dos países europeus, que directa ou indirectamente estão ligadas à religião. São práticas que poderiam e mereceriam ser monitorizadas e objecto de análise pois muitas delas são contrárias aos princípios de igualdade de oportunidade, de dignidade e respeito pela individualidade e integridade física, moral e financeira dos indivíduos, e são claríssimas violações da lei.

  • Cumprimento de escolaridade obrigatória por parte de todas as crianças e jovens nomeadamente do sexo feminino.
  • Liberdade de escolha, nomeadamente sobre o seu próprio casamento, se, quando e com quem, ou sobre a religião que se quer professar.
  • Cumprimento da Lei no que diz respeito aos direitos patrimoniais da mulher.
  • A excisão feminina é uma prática a que Portugal não é alheio. Esta é uma questão que merece um combate sem tréguas e uma tolerância zero.

7.1.08

Plataforma contra a Obesidade 29

Georges Braque (1882-1963)
Black Fish
(clicar para aumentar)

6.1.08

Grau Zero

O artigo de ontem no Público de Vasco Pulido Valente transcrito aqui e aqui, lembrou-me o tão recente episódio gerado pela notícia do dia 2 deste mês no Correio da Manhã. Porque tenho dificuldade em acreditar na inocência de uma legislação que condiciona a escolha de um nome de patrono que terá que ter/ser “reconhecido valor de personalidade que se tenha distinguido na região, nomeadamente no âmbito da cultura, da ciência ou educação,podendo ainda ser alusivas à memória da expansão portuguesa, à antiga toponímia ou a características geográficas ou históricas do local onde se situam os estabelecimentos de educação ou de ensino”, ou na bondade dos orgãos regionais do MNE, que segundo o desmentido ao desmentido, (e porque não houve desmentido ao desmentido do desmentido) terão dado indicações de que se evitassem nomes de cariz religioso, creio que estamos perante mais uma investida da nova ordem moral tão cara a José Sócrates - e ao seu mentor do politicamente correcto, José Luis Zapatero. Uma investida discreta, em que as instruções são insinuadas de forma informal para conseguirem passar a mensagem sem grandes perturbações e testar as reacções das partes implicadas. Indo devagar, aprovando uma medida hoje, outra amanhã para não levantar ondas e evitar as manifestações que enchem as ruas, vão-se tirando as cruzes das enfermarias dos hospitais mesmo contra a vontade dos utentes, aprovando estatutos para os capelães que deixam de ter autonomia para de visitar qualquer doente, tudo em nome da laicidade e imparcialidade do Estado, mas inspirados por ímpetos republicanos e jacobinos de outras épocas, para tornar o país e a sociedade tão limpa quanto possível das bafientas, maléficas e ameaçadoras referências à religião católica, e afastá-la tanto quanto possível do convívio com a hierarquia da Igreja Católica maioritária no país e parte fundamental e integrante da nossa tradição, história e cultura.

De um ponto de vista antropológico seria interessante estudar esta vontade de despir a sociedade dos seus valores religiosos (que hoje, só para lembrar quem teime em viver no passado, não são nem coercivos nem opressores) que a formaram, que lhe são específicos e que são tão naturais ao ser humano. Seria interessante perceber esta vontade de criar um vazio, um grau zero de religiosidade social e do Estado, numa altura em que temos um Estado inegavelmente laico (e ainda bem) e em que a religiosidade hoje se manifesta mais através de alguns rituais, de referências e de feriados (que ninguém ousa tocar, com excepção do católico Cavaco Silva quando era Primeiro-ministro) do que através de uma prática que transborde e influencie determinantemente o Estado. Mais interessante ainda seria perceber esta intolerância face ao que é “nosso” (num sentido lato) face às nossas referências religiosas de que fala VPV e que resulta da tolerância à diversidade. Se hoje se tolera na sociedade ocidental, e provavelmente em Portugal também - só que ainda não o sabemos - a propaganda islâmica, se preferirem, de ensino corânico, que prega a perversidade essencial do Ocidente e tenta promover a sua expeditiva eliminação (cintando VPV), como é possível que alguns sectores se sintam ameaçados na sua liberdade, nos seus conceitos por coisas simples, mas que inegavelmente traduzem uma identidade, uma religião, uma cultura, uma tradição, que as nossas, como nomes de Escolas, a presença de um Bispo numa inauguração ou um cantar de Janeiras?

Coisas que se podem fazer ao Domingo 21

Apollo Sauroctonos. Roma Imperial, séc. I-II DC(?).
Copia de um original grego de Praxiteles, 340 AC(?)
(Clicar para aumentar)

Apanhar lagartos.

4.1.08

Dando Excessivamente sobre o Mar 21

Odilon Redon (1840-1916)
Fishing Boat

3.1.08

100 things we didn't know last year

Para escapar a tanto fumo, diverti-me com esta lista das 100 Coisas que não Sabíamos no Ano Passado. Gosto de listas e enumerações, acabo sempre por aprender alguma coisa com elas e esta absolutamente aleatória é deliciosa e cheia de informação pertinente. Para os mais cépticos, deixo aqui alguns exemplos, dos muitos, que contém material para reflexão. O item 30 merece uma visita mais detalhada.

12. Georgic is a punishment dished out to Eton pupils which involves the copying out of hundreds of lines of Latin.

15. 10% of university work from across the UK is plagiarised.

17. Two cups of spearmint tea a day is thought to control excessive hair growth for women.

26. Harvesting rhubarb in candlelight helps preserve its flavour.

30. Serving anything more than tea and biscuits at a political meeting is an offence called "treating" and punishable by a year in prison or an unlimited fine, under the the Representation of the People Act 1893.

31. There is mobile phone reception from the summit of Mount Everest.

40. A new three-bedroom house must have at least 38 plug sockets.

46. Peanuts can be made into diamonds.

53. Renowned atheist Professor Richard Dawkins likes singing Christmas carols.

63. Cats can be police constables.

70. IP addresses will run out in 2010.

79. Woodwork lessons are known as "resistant materials" in schools.

87. Relocating crocodiles doesn't work - they come back.

88. Deep-voiced men have more children.

97. There have been at least two children given the name "Superman" in the UK since 1984.

2.1.08

O ano começa com práticas correntes em França onde se queimam carros, práticas que não são inéditas no Quénia onde se queimam pessoas e práticas novas a que teremos de nos habituar. Nada de inesperado nem de bom se augura para 2008.

Por cá, na Costa Oeste da Europa, anda todo o mundo atordoado com o fumo, incluindo o Presidente da ASAE que o afasta de si e teima em o deitar para os nossos olhos. O ímpeto legislativo, politicamente correcto e obrigacionista de mãos dadas com os brandos costumes e hipocrisia.

Sou surpreendida com as várias e sempre inevitáveis entrevistas de rua que os jornais televisivos nos mostram – neste caso entrevistas de café - em que, de repente, nenhum não-fumador se diz incomodado com o fumo. Eu fico feliz por saber que posso almoçar e jantar fora o tempo que quiser sem respirar cinzeiros e fumo nem ficar com a roupa toda a cheirar a tabaco. Só lamento que tenha sido preciso fazer uma lei para que isto aconteça, e para que o ambiente sem fumo seja um dado para um não-fumador. É o mundo que temos.

1.1.08

Tardes de Inverno 6

FRAGONARD, Jean-Honoré (1732-1806)
Jeune fille à la lecture

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