“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
holehorror.at.gmail.com

28.2.07

Em Flor 3

Ando Hiroshige (1797-1858)
Cherry Blossom, from the serires One Hundred Famous Views of Edo

Demagogias

No dia em que os políticos portugueses, na voz dos nossos deputados, não perderem tempo com demagogias e muito menos com a invenção de complicados regimes de excepção de retribuições para quem ocupa cargos políticos tais como pensões milionárias, sistemas de saúde, entre outros, e tiverem coragem de propor ordenados melhores e condignos para a classe política em geral, dirigentes e Directores dos Serviços do Estado, os problemas como este deixam de existir.

27.2.07

Combate ao Sedentarismo 7 (em família)

Preocupações

Mostra a SIC uma Fátima Felgueiras exuberante, com um fato que mais parecia saído de Hollywood do que de Felgueiras, feliz e com um sorriso que irradia contentamento. Ora para alguém que diz que não há nenhum autarca tão preocupado com a lei como eu, esperava um ar mais preocupado da parte de quem acaba de sair do tribunal depois de lá ter prestado declarações, no âmbito do julgamento “Saco Azul”.

26.2.07

Em Flor 2

Vincent van Gogh
Flowering Plum Tree - 1887


I envy the Japanese for the enormous clarity that pervades their work. It is never dull and never seems to have been made in haste. Their work is as simple as breathing and they draw a figure with a few well-chosen lines with the same ease, as effortless as buttoning up one's waistcoat ....

Vincent van Gogh to Theo van Gogh, 24 September 1888

25.2.07

As Valquírias 2

Valkyrie Sisters Bear Slain Heroes to Valhall
artist unknown

Uma visão mais romântica e tradicional da Cavalgada das Valquírias por cima dos rochedos

As Valquírias

Foi com sapatos assim e com outros acessórios bem escolhidos como capelines pretas e véus, quais viúvas em funerais, que as Valquírias ontem entraram em cena no S. Carlos e cantaram, na encenação de Graham Vick de “A Valquíria”, segunda Ópera da Tetralogia “ O Anel dos Nibelungos” de Riched Wagner, uma alegoria sobre o poder (e o amor, e a inveja, e a mortalidade, e o bem, e o mal, e...)

A encenação é ousada com o S. Carlos virado do avesso, mas a noite é memorável tal a intensidade e dramatismo da obra, música e libreto, bem interpretados quer pela orquestra quer pelos cantores. O palco enorme está sempre cheio, nunca sobra, nem mesmo nos momentos mais líricos em que só dois estão em palco. No entanto a noite é das Valquírias e no terceiro acto o palco transbordou quer em emoção, quer literalmente nomeadamente no Prelúdio e início da Primeira Cena onde é impossível não associar o efeito cénico e plástico à célebre cena dos helicópteros do Apocalypse Now, mas creio que hoje é impossível não o fazer. O meu destaque para as Sopranos Susan Bullock (Brünnhilde) e Anna-Katharina Behnke (Sieglinde) com valiosas interpretações. A última cantou descalça, mas a primeira cantou sempre em tacões altos e finos - tem toda a minha admiração por isso - com excepção dos momentos finais. A noite acabou tarde, mas noites destas dificilmente se esquecem. Para o ano há mais.

24.2.07

Em Flor

Ando Hiroshige.
Plum Orchard at Kaneibo, (1857) from One Hundred Famous Views of Edo. Woodblock print

23.2.07



Baladas de Coimbra (1962) e Cantares do Andarilho (1968): um single e um LP que já conheci de capas gastas e que se ouviam sem cansar durante anos e anos: são a minha primeira e muito querida memória de música portuguesa. Para mim nem a Amália me faz sentir Portugal como José Afonso sempre fez. Mas falo de um José Afonso musical bem anterior ao 25 de Abril. E essas obras, primeiro uma coletânea de LPs e depois uma de CDs acompanharam-me sempre, fosse eu para onde fosse e se saudade batesse era ele que eu lembrava, trauteava e tinha vontade de ouvir.

No tempo destes discos era de José Afonso que se falava. Álias, antes deles ele era Dr. José Afonso quando cantava o fado de Coimbra e era esse o nome que constava na capa dos discos. O Zeca Afonso, enquanto nome artístico, é um produto do pós 25 de Abril de qualidade artística inferior e politicamente mais envolvido. Nunca simpatizei com as suas opções e acções políticas, mas isso nunca me impediu de o considerar um dos maiores nomes da música portuguesa. Lembro-me, de o ter visto algumas vezes, era eu criança e os meus pais fizeram-mo notar, no barco para a Ilha da Fuseta e no barco para Ayamonte, com um ar severo e pouco aberto, mas sempre com a viola, num verão de outros tempos. Nunca esqueci.

Anos mais tarde vi-o na televisão no seu último concerto, creio que no Coliseu: apesar de alguma irritação pelo aproveitamento político feito, fiquei pregada à cadeira, comovida, a ouvi-lo já a voz lhe falhava.

O tom

Ontem ouvi M. José Nogueira Pinto dizer que “já não tenho idade, nem estatuto, nem condição...” e por breves instantes acreditei, pelo tom condescendente e paternalista das declarações, tratar-se de um engano dos jornalistas que estivessem a reproduzir, sem querer, uma conversa privada entre amigas (vulgarmente designadas tias) - daquelas em que se desabafa sobre a empregada! Afinal não, M. José Nogueira Pinto falava sobre a Câmara de Lisboa...

22.2.07

Combate ao Sedentarismo 6

Dois anos de Sócrates

Ao fim de dois anos:

1 - A capacidade e criatividade, que já pareciam impossíveis, de encontrar formas de aumentarem a carga fiscal. Os cidadãos vivem para pagar impostos e taxas. Seja o que for que preencha o dia de um cidadão comum, consumo, poupança, trabalho, rendimentos, cada acto civil (morrer, casar, ter filhos), é convertido num acto tributável, muito tributável. Não sei até onde poderão ir os governos na tributação que estrangula empresas e pessoas, pois nada nos dá a indicação de que o limite tenha sido atingido. É pena. Seria uma boa hipótese de mobilização da chamada Sociedade Civil.

2 - A máquina bem oleada do Marketing Político: aparições coreografadas (o jogging nas deslocações ao estrangeiro, por exemplo), anúncios de políticas e medidas encenadas ao pormenor (o Power Point), e planeadas sem falhas (o PM só fala nos momentos que ele decide), os nomes para cada plano ou medida que são sempre sonantes (o Simplex, ainda alguém se lembra?), a política de informação controlada ao milímetro (jornalistas que não podem fazer perguntas em determinadas circunstâncias, circunstâncias essas determinadas pelo Gabinete do PM), são os melhores exemplos deste marketing Político feito do que parece, feito da forma.

3 - A tentativa de moldar (consegui não escrever “controlar”) as vidas privadas e influenciar as opções e liberdades individuais através do que tenho chamado “estabelecimento de uma nova ordem moral”: a pressão para debater as causas fracturantes ou outras que estejam na agenda do politicamente correcto, a vontade de que todos deixemos de fumar, que comamos comida saudável e sem colesterol, que façamos exercício físico, os programas de televisão que devemos ver, acrescento também a divulgação dos nomes dos devedores ao fisco, num país de invejas e mesquinhices essa é uma medida feia que faz lembrar obscuras ditaduras e diligentes bufos. A implementação de um Cartão Único é, apesar dos protesto de quem o concebeu e quer implantar) um passo em frente para a eventualidade de futuras medidas que visem a facilidade de acesso à informação privada dos cidadãos em circunstâncias em que essa informação é irrelevante. Porque não, em vez de um cartão único, não se acaba com alguns cartões? Para quê um cartão de eleitor? Ou um do SNS e outro da Segurança Social? Acabar com cartões é tarefa interessante. Juntá-los todos num só é tarefa fácil e perigosa.

4 - Sempre e sempre, e sem que haja aqui uma inovação, mas somente uma indesejável manutenção, o excessivo peso do Estado na vida Nacional onde quer que estejamos a fazer o que quer que seja.

21.2.07

Começa a época

20.2.07

Chávena de Chá

Columbano Bordalo Pinheiro 1957-1929
A Chávena de Chá, 1898. Óleo sobre Madeira - Museu do Chiado


No Museu do Chiado a boa exposição de Columbano. À saída perguntei pelo catálogo. “Ah, ainda não o temos, este (apontava para um exemplar que estava em cima da mesa) é amostra e não é o definitivo que vai ser um pouco diferente”.

Para quê comentar?

Postal Ilustrado 6

Adeus à XIS

Li, nas últimas semanas reacções de júbilo com o fim da revista XIS (aos Sábados com o antigo Público). Confesso que não percebo nem o porquê de tanto júbilo nem a necessidade de uma tão grande demarcação da dita revista. Eu lembro-me de quando ela surgiu e de ter curiosidade em a ler e ver como se desenvolveria o sua linha editorial. Era um projecto ousado, longe dos circuitos comerciais e publicitários a que estamos habituados e com uma linha editorial bem definida: que não depende da actualidade, evita as más notícias, e se vira para o bem-estar e o “crescimento” individual; e era dirigida transversalmente a um amplo público. Distinguia-se das secções de bem-estar e “crescimento” de outras publicações, nomeadamente femininas, pela consistência bem patente de uma moral subjacente a toda a publicação e incutida pela sua directora. A publicação era aberta a várias contribuições de diversas áreas e opções morais, éticas e religiosas, mas a sua linha era sempre patente.

Li a revista nos primeiros tempos e cedo me apercebi que o projecto se esgotaria depressa. Há um limite de vezes em que se pode escrever sobre o diálogo, mesmo considerando todas as suas variantes: entre pais e filhos, homens mulheres, entre gerações, inter-cultural, entre patrões e empregados, inter-religioso, assim como há um limite de vezes em que se pode escrever sobre a auto-estima, a segurança afectiva, os medos, a partilha, o viver só, o criar filhos em situações limite, a vida espiritual e tudo o mais. Tudo de uma forma sensata (demais?) mas muito light, de forma acessível mas um pouco simplista. Sem o constante refrescar e os pretextos da actualidade, sem um comentário ao aqui e agora, uma revista ligeira optimista e impressionista, por muito boa intenção que tenha e por muito boa que seja a onda e a energia de quem nela escreve, começa a esgotar-se, a viver da exploração dos seus temas de sempre (ad nauseam) e oferecer-nos um excesso de psicólogos em mais de metade das páginas da revista. Já não existiam mais conselhos e ideias para aumentar as nossas sempre frágeis auto-estimas, para melhorarmos o diálogo inter geracional, para aceitarmos os outros ou para nos abrirmos a uma vida espiritual. Por isso a XIS acabou. Eu até fui surpreendida com a sua longevidade, pois já nem a abria. De vez em quando ainda espreitava a Biografia das últimas páginas, mas era tudo. Não me surpreende o seu fim, mas não me regozijo com ele.

19.2.07

Carnaval

Hoje e amanhã são dias em que um sentido estético, que não precisa de ser muito apurado, nos impede de ver os noticiários televisivos. Mais de metade das notícias são as reportagens dos festejos carnavalescos por esse país fora, e eu tenho sérias dificuldades em ver desfiles de gente com frio e pobremente mascarada, mulheres que tentam dançar o samba e parecer animadas, homens que se vestem de mulheres sem um pingo de gosto, as populações, sempre em menor número do que os promotores destes eventos gostariam de nos levar a crer, nos passeios que entre o tédio e a inevitabilidade esboçam um sorriso quando vê a câmara de televisão. Tudo muito piroso, muito bera, no limite do confrangedor. Pergunto-me sempre se serão mesmo necessários estes desfiles carnavalescos importados directamente de climas tropicais para animação das nossas cidades em pleno Inverno. Será que quem está envolvido na concepção e no financiamento dos nossos “Carnavais” tem ideia do ridículo e da inutilidade, pelo menos, deste modelo?

18.2.07

Postal Ilustrado 5





Wish you luck in the Year of Pig

15.2.07

Há dias de Inverno assim 15

John Constable View over a Valley, Probably Epsom Downs circa 1806
John Constable 1776-1837
View over a Valley, Probably Epsom Downs circa 1806
Pencil and watercolour on paper

Avanço civilizacional em negociação

14.2.07

Combate ao Sedentarismo 4

O Pior Português

Ontem espreitei uma meia hora, na SICN, o programa “O Pior Português”. Uma dúzia de espertos, não no sentido anglo-saxónico de “expert” bem entendido, em ambiente solene e iluminado não só não me mantiveram interessada, como não me informaram, nem me divertiram. Uma perda de tempo pouco digna da SICN que me fez mudar de canal e me deixou perplexa quanto ao objectivo de tal votação e de tal programa. Se pensasse um bocado aposto que iria concluir que tinha estado perante o pior do que Portugal tem para oferecer, por tanto se querer distanciar do mau sem conseguir sair de lá. Ainda bem que não perdi tempo a pensar.

13.2.07

Há dias de Inverno assim 14

HOKUSAI (1760-1849)
From the series "Eight famous views from Edo" (Edo hakkei)

12.2.07

Facilidade

Lamento o resultado, mas paradoxalmente não posso deixar de pensar que, com esta vitória do “sim”, a vida de algumas mulheres fique provavelmente menos complicada. Também não sei se querer tornar sempre a vida cada vez mais fácil é um bom princípio civilizacional...

Combate ao Sedentarismo 3

11.2.07

Há dias de Inverno assim 13

O Dr. Louçã é vidente.

Acabou de dizer para a Televisão que os Católicos estão de parabéns pois maioritariamente votaram “sim”. Como é que ele sabe? Quem então votou "não"? Os do Bloco de Esquerda?

Avanço Civilizacional (dizem eles)

Será que estamos preparados para tanto avanço civilizacional? Acabou de dizer na SIC o Sr. Ministro da Justiça que recuperamos 20 anos de atraso em relação à Europa. Por que será que não suspiro de alívio?

10.2.07

Combate ao Sedentarismo 2

Retrocesso Civilizacional

Um dos argumentos mais extraordinários do “sim” - até o Primeiro-ministro fez eco dele - foi o de que a vitória do “não” significaria e implicaria um retrocesso civilizacional. Ou vivemos em civilizações diferentes, ou não estamos a falar da mesma realidade, pois não percebo que retrocesso civilizacional é esse que vem do facto de termos uma lei que não permite o aborto a pedido até às 10 semanas, nem tão pouco que avanço civilizacional esperamos alcançar, ao permitir o aborto livre até às dez semanas. Despenalizar o aborto até me parece uma forma de resignação e de cruzar os braços perante uma realidade difícil de prevenir e mais difícil ainda de entender e irradicar tal o carácter pessoal e íntimo de que se reveste.

Creio que falamos da mesma civilização: da civilização Ocidental que nasceu no mediterrâneo, a da Idade Média, do Renascimento, das Luzes, aquela que após a Grande Guerra e também a Segunda Guerra Mundial se equipou de inúmeras Cartas e outras tantas Organizações em defesa da Paz, da Vida e Dignidade Humanas. Quando se acredita, ou mesmo quando se têm dúvidas, que às dez semanas haja vida humana, a civilização de que me sinto parte, faria tudo para que essa vida fosse preservada e respeitada, pois o valor da vida humana estaria, nesta sociedade de que eu faço parte, repito, acima de muitos outros valores, por muito legítimos que sejam. Legalizar o que vai contra esse valor, parece ser um mau princípio e um sinal de fraqueza, mas reconhecê-lo, combatê-lo, preveni-lo e limitá-lo, seria já prova de força e não de fraqueza. Legalizando não se combate, resigna-se. Aceito, no entanto, as críticas dos adeptos do “sim” que falam do facto de tão pouco ter sido feito ao longo dos tempos para limitar e reduzir o número de abortos e creio que têm razão na crítica que fazem à passividade dos governos e da sociedade em geral perante esta realidade. Mas legalizá-lo não me parece a solução. Não há avanço civilizacional nenhum em não colocar o valor da vida antes dos outros, por muito válidos que sejam, e são. Não há avanço civilizacional em legalizar o que está mal.

Quero colocar uma última questão que já tenho visto colocada. Se o “sim” ganhar, quando é o próximo referendo? Ou só se fazem referendos até o “sim” ganhar? Não haverá algo de errado neste pressuposto?

Combate ao Sedentarismo

9.2.07

Portugal dos Grandes

Imprescindíveis os três textos Dedicado às Mulheres I, II, e III a ler num dos melhores blogues nacionais Portugal dos Pequeninos. A maternidade vista fora dos parâmetros da felicidade, da liberdade de opção, da escolha e da falsa e perniciosa mentalidade de que os filhos têm que ser desejados. Fora também dos parâmetros de infantilização da paternidade e maternidade, que é vista como mais uma coisa a ter e a fazer, tão nociva ao desenvolvimento equilibrado dos filhos e tão responsável pelo mundo de “criancismo” em que tantas vezes nos vemos.

Maternidade 5

Almada Negreiros, desenho

8.2.07

Cooperação estratégica

Ando inebriada com tanta preocupação pela saúde, tanta desejo de vida saudável, tanta recomendação e zelo pelos menus por esse país fora, tanto amor pela natureza e tanta preocupação pelo aquecimento global. E claro, tanto ímpeto legislativo, que sem umas novas leis que regulem o que se come, onde se come o quê, o que se fuma, o que se inala, as horas no ginásio, os gases que emitimos, os conteúdos dos manuais escolares, e os filmes documentários que vão passar nas escolas, o poder não é poder.

O PR parece até nesta área andar em sintonia com o PM. Deus nos livre de tanta sintonia e cooperação estratégica. A nova ordem moral aproxima-se com passo firme e seguro e exige conversões.

Nota: sou insuspeita, não fumo e detesto o fumo dos outros.

7.2.07

Direito e liberdade

Tive sempre dificuldade em ligar a noção de direito à maternidade e paternidade. Não acredito que se tenha “direito” a ter filhos da mesma forma que se tem direito ao subsídio de férias ou direito à educação ou à justiça. Também tive sempre dificuldade em associar o conceito de liberdade ao da maternidade e paternidade, pois da mesma forma que não se tem “direito” a ser mãe e pai, também não é linear que se escolha sempre livremente sê-lo ou não. A massificação e liberalização da contracepção é que nos deram a ilusão de que ser mãe e pai é algo que está no nosso controle, no nosso domínio e queremos programar exactamente os timings correctos para qualquer decisão, para não só termos os filhos que programamos como para que possamos respirar de alívio e dizer que foram muito desejados. O mais engraçado de tudo isto é que ouço e leio pessoas nascidas nos tempos em que a contracepção não estava disponível nem era aceite, escrever teses e falar de como as crianças devem ser desejadas. Fico sempre com vontade de perguntar se eles próprios, (com cinco, seis, dez irmãos ou mais!), foram assim tão desejados pelos seus pais e que impacto isso teve na sua vida e na sua felicidade.

Desde sempre que os seres humanos tentaram iludir a natureza, quer para ter, quer para evitar ter filhos, mas só hoje com o desenvolvimento científico é que vivemos todos na ilusão de que a maternidade e a paternidade é uma opção livre e responsável e totalmente controlada por cada um de nós.

Há dias de Inverno assim 12

Albert Marquet
Quai des Grands Augustins

6.2.07

Fracturante

O ruído aumenta. As posições extremam-se, e o que o debate das ideias vai-se esbatendo dando lugar às posições extremadas, às chantagens e às birras. Será que, independentemente do resultado do referendo, todo este barulho valeu a pena? Será que tanto debate, tanta clivagem na sociedade portuguesa serão semente para que algo de fundamental mude: isto é, que cada vez se aborte menos - é o que todos queremos, não é? Esta questão é “fracturante”, no sentido em que consegue dividir a sociedade de uma forma que trás à superfície divisões mais antigas e profundas do que as mais recentes de “esquerda” e “direita”. Nesta divisão “sim” e “não” entram conceitos como republicanismo, laicismo, catolicismo, liberalismo, conservadorismo, classismo, mundo rural e mundo urbano, entre outros. Não se falam deles, mas um olhar atento não consegue deixar de os ver.

Maternidade 4

Almada Negreiros, desenho

5.2.07

O Referendo e o Aborto 2

Com a acutilância gerada pelo debate, as questões que a pergunta deste referendo deixa em aberto, ou as incongruências e contradições que com e por causa deles (referendo e pergunta) surgem, não param de aumentar e o desconforto de quem vai votar aumenta ao perceber que não sabe bem o que se esconde por trás da pergunta. Só esta insegurança e ignorância a que estamos (enquanto cidadãos e contribuintes) votados por decisão de um governo que insiste em não explicar o “day after”, é um motivo mais do que suficiente para um voto “não”, já para não falar da abstenção. Como pensa o governo que os cidadãos possam votar com responsabilidade se não lhes é fornecida toda a informação relevante para levar a cabo uma decisão sobre a matéria que está a ser referendada? O que está em causa não é só ser “pró-vida” ou ser “anti penalização da mulher”. Há muito mais em jogo, nomeadamente no funcionamento do SNS. Debater é uma coisa, informar é outra. Se cabe à sociedade civil organizar-se e promover o debate, cabe ao nosso governo explicar que políticas e que medidas legislativas propõe para sustentar o “sim” que ele (governo e partido que o apoia) preconizam e referendam.

Há dias de Inverno assim 11

Paul Nash 1889-1946
The Orchard ?1914, Watercolour, ink and pencil on paper

4.2.07

A China 2

Guilin, China

A China

É tanto lugar-comum quanto verdade afirmar-se que a China é uma civilização milenar, velha muito velha. Mas para quem vai a uma cidade Chinesa daqui da Europa e a vê transbordar de modernidade e ousada arquitectura incarnada em arranha-céus de todas as formas possíveis, fica boquiaberto com a juventude, a vibração, a ousadia, a vida que se sente, não só na China como noutras grandes cidades do Oriente. De repente, quem é velho somos nós, europeus e ocidentais, amarrados a tanto adquirido, a tantas seguranças, a tantas regalias - e muitas tão arduamente adquiridas é indiscutível, a tanta democracia, a tanta igualdade, que perdemos em flexibilidade, em agilidade, em rapidez, em vibração. Somos velhos na forma e no esforço que pomos para sermos novos, somos velhos nos nossos limitados horizontes temporais. Há alguma frescura na leviandade (de acordo com os nossos parâmetros) da modernidade oriental e até parece que hoje o que acontece, é lá que acontece.

Postal Ilustrado 4

Xangai

2.2.07

Maternidade 3

Almada Negreiros, Desenho

1.2.07

Cada um tem o que merece

A opinião cá em Portugal divide as suas atenções entre o referendo sobre o aborto e o caso “Esmeralda”. Não há jornal nem noticiário televisivo que não dedique uma grande parte do seu tempo a um caso e a outro. Ouvimos à exaustão argumentos e debates sobre ambos os temas com especialistas que interpretam o Direito, a moral, os bons costumes, psicólogos sempre prontos a intervir, opiniões a extremar.

Em Itália vive-se um momento de contornos semelhantes se formos medir o tempo que tem sido gasto nos media e em debates e fóruns de opinião pública: os conflitos matrimoniais de Berlusconi postos a nu, analisados e dissecados para satisfazer a mais exigente e requintada curiosidade.

Relações Portugal - China

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