“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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18.11.08

Os Alunos em Amarante

Ontem vi no Jornal da Noite da SIC a cobertura que a estação fez à manifestação de estudantes do Secundário ( e também do Básico?) em Amarante. Confesso que fiquei chocada com a dita manifestação e o tempo de antena que a televisão deu àqueles alunos que não pensaram um segundo sequer em alinhavar duas ou três ideias simples, mas credíveis e sensatas que justificassem aquele aparato e aquele tumulto. Se alguma dúvida tínhamos sobre o nível da escola em Portugal, aquela manifestação tirou-a. Aqueles alunos trogloditas cujos argumentos fariam corar de vergonha qualquer ser com um mínimo de exigência intelectual são mais um dos retratos de uma escola que hoje parece ter perdido o pé e a cabeça. Nada como ser “chico esperto” e aproveitar os tempos conturbados de tensão professores/governo e sair à rua para criar ainda mais agitação. Porquê não se sabe bem, mas o que conta é a confusão.

Alunos que reivindicam o direito a faltar às aulas porque são “jovens” e os jovens faltam e que reclamam porque têm aulas de substituição em vez de irem para o recreio, são um ex-libris da sociedade complacente em que estamos. Estes jovens sofrem de excessos e de abundância: tudo lhes é dado tudo lhes é devido. Na escola nas últimas décadas o ensino é organizado de modo a não traumatizar os meninos e as meninas, de modo a acomodar os ritmos de aprendizagem de cada aluno sem ferir eventuais “diferenças”, nem premiar a diferença pela positiva, a deixar desenvolver as suas competências à medida que passam os dias, meses e anos com programas escolares que pouco ensinam, a dar espaço à criatividade, a compreender as falhas, e a não exigir qualidade, a não valorizar as faltas. A infantilização completa é mostrada quando alunos que deveriam querer aproveitar tudo, cada aula, cada tempo para se prepararem para exames e para o mundo competitivo da entrada para as universidades ou para a chegada ao mercado de trabalho, se passeiam em grandes números e dizerem querer faltar porque “são jovens” e querer mais recreio num nível próprio dos primeiros anos do ensino básico. Não se vislumbra a ponta de responsabilidade, de maturidade, de querer atingir metas de ter objectivos. Nada, bem pelo contrário, a imagem que é dada é de que se pensa que a vida é um grande carrossel: cores vivas, música, muitos telemóveis e alguém que nunca se sabe, nem quer saber quem, sempre a dar à manivela, e isso é alarmante. Claro que não é só responsabilidade da escola, é a imagem de uma mentalidade de um Portugal no seu pior.

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