“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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2.6.09

Arrepio

A tecnologia hoje permite-nos ver quase tudo e comunicar imediatamente seja onde for que estejamos. Os meios de comunicação sociais estão em todo o lado, os telemóveis filmam, fotografam, os satélites também. Há registos e imagens de guerra, concertos, crianças a trabalhar como não deveriam, Britney Spears de cabelo rapado, ciclones a devastar cidades, Sarkozy com tacões de 5cm.. Fenómenos como Susan Boyle, que teriam uma dimensão nacional, eclodem no mundo inteiro de um dia para o outro. Sabemos tudo sobre todos, vemos tudo de todos, conhecemo-nos todos. Por isso foi com um arrepio na espinha que ouvi ontem a notícia do avião da Air France que desapareceu. Simplesmente desapareceu; ele e as pessoas que levava a bordo. Sem aviso, sem deixar rasto (imediato), sem imagens. Só a angústia e uma espera fria pois não se sabe de quê. No aeroporto de chegada as pessoas aguardavam os familiares e amigos no avião que não chegava, aquele de que nada se sabia. O nada. Este vazio informativo a que já nos desabituámos, porque há sempre uma imagem, uma mensagem, um telefonema que alguém recebe, atingiu-nos com força. Nem as mensagens automáticas do equipamento colmatam este vazio, pois não têm a dimensão humana. Talvez os vestígios que hoje foram encontrados, a seu tempo e feita a prova de pertencerem ao avião em causa, ajude a dar essa dimensão humana e um sentido a esta tragédia vazia. Se é que isso importa...

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