“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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26.11.09

Là-bas, Je Ne Sais Pas Où...

Là-bas, je ne sais pas où...

(...)
Nunca voltarei porque nunca se volta.
O lugar a que se volta é sempre outro,
A gare a que se volta é outra
Já não está a mesma gente, nem a mesma luz, nem a mesma filosofia.
(...)

Álvaro de Campos, Poesias

29.6.07

Meu coração é um pórtico partido

Meu coração é um pórtico partido
Dando excessivamente sobre o mar.
Vejo em minha alma as velas vãs passar
E cada vela passa num sentido.

Um soslaio sombras e ruído
Na transparente solidão do ar
Evoca estrelas sobre a noite estar
Em afastados céus o pórtico ido...

E em palmares de Antilhas entrevistas
Através de, com mãos eis apartados
Os sonhos, cortinados de ametistas,

Imperfeito o sabor de compensando
O grande espaço entre os troféus alçados
Ao centro do triunfo em ruído e bando...

Fernando Pessoa

17.6.07

Sorriso audível das folhas

Sorriso audível das folhas
Não és mais que a brisa ali
Se eu te olho e tu me olhas,
Quem primeiro é que sorri?
O primeiro a sorrir ri.

Ri e olha de repente
Para fins de não olhar
Para onde nas folhas sente
O som do vento a passar
Tudo é vento e disfarçar.

Mas o olhar, de estar olhando
Onde não olha, voltou
E estamos os dois falando
O que se não conversou
Isto acaba ou começou?

Fernando Pessoa
27-11-1930

Pergunta

Perguntaram-me se conhecia bem Pessoa. Que pessoa? Foi a minha reacção primeira, só um momento depois percebi que se referiam ao poeta. Hesitei um segundo sem saber o que deveria responder. Sim conheço muito bem, é uma afirmação que soa forçada quando nenhum dos seus livros sai da estante, quando nunca se pegou num dos seus livros para abrir e ver, lembrar, procurar, descobrir. Também não poderia responder não, não conheço, porque realmente conheço bem se nos detivermos exclusivamente em critérios objectivos, só que eu gosto de ler e reler. Reli grande parte das obras que mais me marcaram, e periodicamente mexo nos livros, assim como quem os tenta arrumar para que caibam melhor e se crie mais espaço, dando prioridade a tamanhos e volume e esquecendo qualquer outra lógica para os ter arrumados. São prioritariamente de ficção, romances, contos, novelas que me acompanham ao longo da vida. A poesia parece que parou no tempo e tem sido pouco arrumada. Tropeço num poema de que gosto e por vezes pego num livro para o verificar e reler, mas com Fernando Pessoa creio que há muito não me acontecia.

Vi-me assim, de repente e desprevenida, a mexer nas Poesias de Fernando Pessoa. Não foi incolumemente que o fiz: enredei-me nos versos, li-os, lembrei, comovi-me com memórias, viajei e no fim percebi que o tempo não conta, por isso eu conheço bem Fernando Pessoa.

Acerca de mim

temposevontades(at)gmail.com