Perguntaram-me se conhecia bem Pessoa. Que pessoa? Foi a minha reacção primeira, só um momento depois percebi que se referiam ao poeta. Hesitei um segundo sem saber o que deveria responder. Sim conheço muito bem, é uma afirmação que soa forçada quando nenhum dos seus livros sai da estante, quando nunca se pegou num dos seus livros para abrir e ver, lembrar, procurar, descobrir. Também não poderia responder não, não conheço, porque realmente conheço bem se nos detivermos exclusivamente em critérios objectivos, só que eu gosto de ler e reler. Reli grande parte das obras que mais me marcaram, e periodicamente mexo nos livros, assim como quem os tenta arrumar para que caibam melhor e se crie mais espaço, dando prioridade a tamanhos e volume e esquecendo qualquer outra lógica para os ter arrumados. São prioritariamente de ficção, romances, contos, novelas que me acompanham ao longo da vida. A poesia parece que parou no tempo e tem sido pouco arrumada. Tropeço num poema de que gosto e por vezes pego num livro para o verificar e reler, mas com Fernando Pessoa creio que há muito não me acontecia.
Vi-me assim, de repente e desprevenida, a mexer nas Poesias de Fernando Pessoa. Não foi incolumemente que o fiz: enredei-me nos versos, li-os, lembrei, comovi-me com memórias, viajei e no fim percebi que o tempo não conta, por isso eu conheço bem Fernando Pessoa.