“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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15.5.10

Vaidade e Orgulho

Nos dias que passaram, a minha prioridade noticiosa foi, clara e inequivocamente, acompanhar tanto quanto possível a visita do Papa Bento XVI e a sua mensagem, através das várias visitas, encontros, homilias e discursos. Queria que o mundo e o seu ruído tivessem parado por uns dias não só para aumentar a disponibilidade mental como para dar mais espaço interior a essa viagem pelas faces do catolicismo que cada dia nos eram dadas ver. Não pude escapar totalmente pois a semana que passou foi fértil em importantíssimas decisões políticas para combater “a crise” e em jogos comunicacionais diversos. Tempo haverá, infelizmente, para os digerir e sobre eles me insurgir e desabafar.

A rápida passagem de Bento XVI no Porto comoveu-me. Porque o Porto estava lá, estava como nós sabemos que ele é: a chuva miudinha, a neblina sobre as pontes e o rio, o cinzento, as fachadas de pedra dos edifícios, as gentes que sabem acolher como ninguém (assim queiram), as varandas engalanadas (a da Câmara Municipal estava particularmente bela) e cheias de pessoas símbolo de uma vida que vem “de dentro”, a estrutura para o altar de linhas sóbrias, os painéis de madeira no fundo, bem como o belíssimo altar e cadeiras de madeira, frutos de trabalho de artesãos do norte dando uma nota do conforto burguês bem nortenho num dia em que o tempo não se fez clemente. A eucaristia teve uma dimensão de intimidade e de interioridade que raramente acontece em missas campais, mas reparei que todos os detalhes litúrgicos foram cuidados (evangelho declamado, coros de altíssima qualidade, paramentos...) o que contribuiu para a solenidade do momento, num ambiente de simplicidade.

Confesso que na emoção e vaidade (um pecado, dizem) portuense do momento me perguntei se o Papa repararia na qualidade daquele trabalho que o norte lhe oferecia. Depressa tive a resposta: no momento, a seguir à eucaristia, que o papa dedicou (visto na televisão em directo) a cumprimentar o jovem sacerdote (?) dono de uma voz excelente e que cantou o evangelho, e depois ao ler que o Papa pedira a cadeira em que descansara depois da missa no Porto. Razões para a vaidade e orgulho.

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