Disse que usava véu, neste caso um lenço que cobre cabeça e cabelo bem como pescoço, porque era muçulmana e porque o Corão assim recomendava pois as mulheres têm que ser modestas e não se devem exibir e agora que era uma mulher casada estes preceitos tornam-se ainda mais exigentes. Disse que fora de casa o usava sempre e em todas as ocasiões; até na praia, no mar, toma banho de calças de ganga, camisola com mangas até aos punhos, e lenço na cabeça.
Há vinte ou trinta anos atrás a mãe dela provavelmente tomava banho de biquini, pois nessa altura poucas mulheres usavam lenço, algumas mais velhas ou menos instruídas usariam o pequeno véu facial, branco, que cobria o nariz e a boca. O lenço e outras formas de hijab (véu, ecrã que esconde da vista) nomeadamente de cor preta vêm da Ásia e não são tradicionais do Magrebe. Hoje estas mulheres jovens aderem a uma forma mais radical e menos tradicional de viver a sua religião, pondo em causa muito do caminho de emancipação traçado pelas gerações anteriores. Muitas escolhem o momento do casamento para mudarem não só a forma de se vestirem como a forma de vida: deixam de trabalhar fora de casa, deixam de ir à praia e vestem-se na rua iguais a tantas outras. Deixam de ser olhadas e vistas como um ser autónomo, como um indivíduo único diferente do outro, para se confundirem na multidão de silhuetas iguais, sem formas nem contornos. Perdem-se, confundem-se, esbatem-se. Pouco se questionam ao dar este passo, pouco reflectem, pouco pensam no amanhã e nada conhecem do ontem. Muitas acham que tem que ser assim, porque é assim. Este é, do meu ponto de vista, um retrato das muitas faces de algo que nos intriga muito: o Islão moderado.