“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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1.3.07

Eu sei que a roupa que seca às janelas e varandas de qualquer prédio do nosso Portugal é um atentado estético e, dizem alguns, a prova provada do nosso atraso civilizacional. É um atentado ao bom gosto, ao planeamento urbano que determina como devem ser as fachadas exteriores dos prédios, as linhas e as cores (se é que isso importa no país das marquises). E depois há a roupa em si, que tantas vezes é feia: pijamas inenarráveis, camisas de noite que mais parecem panos do pó, lençóis da cor dos pesadelos, toalhas de cores bizarras a combinar com azulejos mais bizarros ainda, t-shirts velhas e tingidas, enfim...

Pensando bem, não consigo encontrar nada que justifique o facto de por vezes a minha alma se iluminar quando vejo a roupa ao vento, nas janelas, nas varandas. Hoje eram roupinhas de bebé, brancas, rosas, tudo muito claro, muito arrumado, em linha ao sol e ao vento. Às vezes são as calças de ganga e t-shirts de motivos futebolísticos, alegres e óbvias a chamar a nossa atenção, ou os lençóis brancos que tremem e reflectem a luz. A roupa cá fora é sinónimo de sol, de dia limpo, mais um sinal da primavera...

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