“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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25.3.07

Incoerências

Não consigo entusiasmar-me com o concurso “Os Grandes Portugueses”. Tem um lado pedagógico que me irrita querendo “ensinar divertindo”, querendo formar o público num programa de entretenimento, “popular” e interactivo porque as votações estão abertas ao público. Este querer ser tudo não me interessa, e sou incapaz de ver o programa. Aprender e divertir são conceitos que raramente andam de mãos dadas, aprender está para além dessa noção mais imediata de divertimento. E a produção de “Os grandes Portugueses” remetendo a parte “pedagógica” para horários mais tardios estabelece bem as suas prioridades. Tenho, no entanto, lido comentários em relação à forma como o programa/concurso se tem desenrolado e ao estado das votações. Votar em Salazar ou em Cunhal pode, mais do que exprimir uma opção coerente de quem vota, ser uma forma de provocar e trazer ruído ao programa. De qualquer forma, dificilmente eu acredito que estas votações possam ser objecto de alguma conclusão mais “científica” e que tenham algum significado (pelo menos no sentido estatístico) sobre a forma com que hoje olhamos e valorizamos os Grandes Portugueses.

Dito isto, hoje sou capaz de espreitar a grande final! Se votasse em quem votaria? Difícil. D. Afonso Henriques porque foi o primeiro. D. João II pela inteligência, visão e estratégia. Vasco da Gama porque alargou horizontes. Apesar de conhecer, ler e admirar a obra de Luís de Camões e Fernando Pessoa nunca votaria num escritor por causa da sua obra escrita. A Aristides Sousa Mendes falta-lhe a dimensão, e a votação não é sobre o “melhor”, mas sobre o “maior”.

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