Depois de ler esta notícia, e depois de passada a tentação do “bem me parecia!” instala-se em mim o conforto de ver a ordem das coisas reposta. Pode parecer perplexo, mas a confiança nos mercados não volta com planos dos estados, com mais estado, nem com medidas de emergência e reuniões “ao mais alto nível”. Sinto-me pouco hábil para julgar da pertinência de tratamentos de choque que estanquem a hemorragia de uma ferida, mas sei que isso não cura a ferida. Sei que é o medo que preside a essas medidas, pois elas são propícias ao despoletar do medo e de medos, só que o medo é uma reacção humana e não uma reacção de mercado. Os mercados não têm medo de nada: nem do “bull” nem do “bear”. A “crise” não se vai esconder debaixo do tapete, e a confiança dos agentes financeiros não se restaura com medidas exteriores. Ver que a euforia dos últimos dias parou é como que sentir que a poeira das medidas de emergência está a assentar e ordem se repõe, que agora sim, as coisas parecem estar em consonância com o que têm que ser e não com o que se gostaria que fossem. E como diz o ditado, “o que tem que ser tem muita força”. Por muito que custe, e custa, esta “crise” tem que fazer o seu percurso, os mercados têm que se refazer, que encontrar e renovar a sua confiança, têm que passar por este ciclo, que de ciclos é feito o mercado (e a vida). Não acredito que isto aconteça em dois ou três meses, e pensar assim é não ser realista e não conhecer o mercado. Tão pouco acredito que muita intervenção estatal resolva a “crise”, talvez ajude a estancar a ferida, mas não cura. Demasiado estado é pouco compatível com a liberdade inerente ao mercado. Então em países pequenos e muito circulares (o ponto de chegada é tantas vezes o ponto de partida) como o nosso persistir em estender os tentáculos do Estado é perigoso para a liberdade dos cidadãos. Imagine-se só, com a máquina fiscal que hoje temos, a mão presente do estado no sector da banca... É demasiada tentação.
“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
holehorror.at.gmail.com
holehorror.at.gmail.com
Arquivo do blogue
-
▼
2008
(365)
-
▼
outubro
(35)
- Plataforma contra a Obesidade 46
- Afinal não Somos Parvos
- Plataforma contra a Obesidade 45
- Simples e Transparente
- Rajasthan, (c 18th century A.D.),Lady with a lotus,
- Atributos para uma Mulher
- A ligeireza e ignorância quer em termos gerais, qu...
- Pronúncia do Norte 6
- Praxes e Praxis
- Pronúncia do Norte 5
- Amanhecer 4
- As Palavras e as Circunstâncias
- Velas 14
- Intelligence is Relative
- Dando Excessivamente sobre o Mar 37
- Antes que o Diabo Saiba que Morreste
- Coisas que se podem fazer ao Domingo 30
- Bidimensionalidade
- Dando Excessivamente sobre o Mar 36
- Espiritualidade Pronta Para Consumo
- Plataforma contra a Obesidade 44
- Do Medo e da Tentação
- Vi ontem o regresso dos Gatos Fedorentos À SIC. So...
- Hoje
- Os governos da zona Euro já chegaram a acordo sobr...
- Plataforma contra a Obesidade 43
- O Blogue, Os Blogues e o Mundo
- Capitalismo
- Instrumentos Financeiros e Liberdade
- Coisas que se podem fazer ao Domingo 29
- Dando Excessivamente sobre o Mar 35
- Sim ou Não
- Asas 4
- Lixo Televisivo e Honra
- Amanhecer 3
-
▼
outubro
(35)
Acerca de mim
- jcd
- temposevontades(at)gmail.com