Manuela Ferreira Leite tem imposto um estilo comunicacional diferente do esperado e do habitual e certamente a anos luz do estilo do nosso Primeiro-Ministro. Este último fala para preencher quotas de “comunicação política”, MFL fala quando sente que tem alguma coisa para dizer. Não sei se a estratégia de MFL será sempre a melhor, mas é a dela e por isso mais genuína do que a de tantos políticos como José Sócrates sobretudo agora em fase pré-eleitoralista. Se se sente MFL às vezes ausente, diria mesmo alheia no quotidiano, JS é omni-presente multiplicando-se em anúncios, explicações, declarações slogans e frases encomendadas já pré-elaboradas.
Não sou adepta da teoria que faz de quem pouco fala um poço de sabedoria e que obriga a silêncio atento para ouvir as suas palavras raras, conheci aliás uma pessoa de poucas palavras que conseguia manter em silêncio referencial quem o rodeava e aguardava ansiosamente as palavras raras, que por acaso eram de uma banalidade e estupidez confrangedora. Neste caso a raridade não faz a preciosidade, mas o depuramento comunicacional bem como o facto de ser um estilo genuíno tem algum benefício: percentualmente menos asneiras são ditas, somos poupados a propaganda feita de frases e slogans medidos e estudados por profissionais da comunicação e cujo som final já adivinhamos, e não somos bombardeados constantemente com ruído comunicação e banalidades políticas que já ninguém respeita nem, sendo o caso, acredita. No entanto a outra face desse depuramento é a tendência, tão visível nos média e nos comentadores políticos, a confundir as palavras com as circunstâncias: mais do que analisar o que se diz, analisa-se o silêncio, o que se não disse, o porquê (parece incrível como é que) de não ter dito sobre isto e sobre aquilo e o porquê de (logo agora que ninguém se lembra) de se dizer o que se diz. Terreno minado e puramente especulativo para gáudio de alguns e aborrecimento de tantos.