holehorror.at.gmail.com
13.12.09
A Queda do Muro de Berlim e os Anos 80 (uma visão) 3
6.12.09
A Queda do Muro de Berlim e os Anos 80 (uma visão) 2
26.11.09
A Queda do Muro de Berlim e os Anos 80 (uma visão)
3.3.09
Cafriela
Os salões de pé-direito alto e de tectos trabalhados perderam a grandeza de outros tempos, algumas janelas já sem cortinados têm as sanefas caídas e os cortinados de veludo ainda pendurados, hirtos, tristes e sem sinal de movimento parecem estar esquecidos na mesma posição há décadas. Há algum estuque estragado, pintura esfolada, portas empenadas. A boa disposição e alegria da festa destoa com o ar decadente e desleixado do salão principal. Passámos à mesa numa sala de jantar perto dos salões: uma grande mesa de toalha branca cheia de travessas de comida com ar caseiro e saboroso, e o vai-vem entre a sala e a copa dava o tom da informalidade que imperava. Os aparadores grandes e altos, de boas madeiras e antigos tinham restos do que adivinhei serem bonitos serviços de copos de cristal e restos de boa porcelana misturados com picadoras 1,2,3, latas de comida de bébés, guardanapos de papel e tuperwares. O ambiente era descontraído e simpático com o anfitrião e aniversariante de boa disposição a querer que todos estivessem bem. No fim de uma longa refeição cantaram-se os parabéns, brindou-se com champagne e trocaram-se discursos sempre com as portas da varanda abertas a deixar a noite, o seu calor, os seus sons, e o seu cheiro e mistérios entrar. O serão não tardou muito a terminar. Dessa refeição lembro um frango “cafriela” servido com um cuscuz manteiga de um grão pouco fino: absolutamente delicioso. Nunca mais comi nem um frango nem um cuscuz como aquele apesar de simpaticamente me terem dito o nome do prato e explicado como se preparava.
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13.2.09
Cinco Mil Euros
Prestação da Casa (t3 em Lisboa/Porto,...) 800
Prestação carros (2) 400
Colégio (1 filho, o outro fica ainda com a avó) 500
Despesas da casa (luz, gás, água) 300
Telefones, telemóveis, TVs; internets 300
Alimentação 400
Almoços e restaurantes 350
Gasolina 150
Empregada Doméstica (tempo parcial ) 400
Seguros (saúde, vida, carros...) 200
Despesas saúde (médicos, farmácias) 100
Roupas e calçado crianças 100
Para este exemplo de despesas o total já são 4000 euros mensais. Sobram 1000 euros. Se me explicarem como é que mil euros dão para o fato Armani, os sapatos Prada, as férias seja lá onde forem, aquele sofá que tanto precisamos, a Bimby, o cabeleireiro, o ginásio, a roupa interior, os saldos da Zara, a carteira Vuitton, as calças de ganga, as férias de ski, já para não falar nos livros, DVD, nos concertos, no cinema, uns pneus do carro, na playstation, nos presentes para aniversários, etc, etc... ficaria muito satisfeita.
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2.1.09
2008
(Continua)
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26.12.08

17.12.08

18.11.08
Os Alunos em Amarante
Alunos que reivindicam o direito a faltar às aulas porque são “jovens” e os jovens faltam e que reclamam porque têm aulas de substituição em vez de irem para o recreio, são um ex-libris da sociedade complacente em que estamos. Estes jovens sofrem de excessos e de abundância: tudo lhes é dado tudo lhes é devido. Na escola nas últimas décadas o ensino é organizado de modo a não traumatizar os meninos e as meninas, de modo a acomodar os ritmos de aprendizagem de cada aluno sem ferir eventuais “diferenças”, nem premiar a diferença pela positiva, a deixar desenvolver as suas competências à medida que passam os dias, meses e anos com programas escolares que pouco ensinam, a dar espaço à criatividade, a compreender as falhas, e a não exigir qualidade, a não valorizar as faltas. A infantilização completa é mostrada quando alunos que deveriam querer aproveitar tudo, cada aula, cada tempo para se prepararem para exames e para o mundo competitivo da entrada para as universidades ou para a chegada ao mercado de trabalho, se passeiam em grandes números e dizerem querer faltar porque “são jovens” e querer mais recreio num nível próprio dos primeiros anos do ensino básico. Não se vislumbra a ponta de responsabilidade, de maturidade, de querer atingir metas de ter objectivos. Nada, bem pelo contrário, a imagem que é dada é de que se pensa que a vida é um grande carrossel: cores vivas, música, muitos telemóveis e alguém que nunca se sabe, nem quer saber quem, sempre a dar à manivela, e isso é alarmante. Claro que não é só responsabilidade da escola, é a imagem de uma mentalidade de um Portugal no seu pior.
3.10.08
Lixo Televisivo e Honra
Tenho, no entanto, seguido na RTP Memória uma série inglesa da LWT (a mesma que fez a Família Bellamy ou Upstairs Downstairs) passada na Ilha de Guernsey durante a ocupação alemã na Segunda Guerra Mundial. Nesta época de Dr. House, Perdidos, Donas de Casa Desesperadas, Anatomia de Grey ou Prison Break, é com curiosidade que revemos estas séries doutras épocas. Toda a narrativa é diferente, o ritmo, os enredos, as filmagens, a composição das personagens, os episódios parecem mais decalcados de uma sólida tradição teatral do que da vontade de exploração da televisão ou apostas em complicadas produções. Tudo prima pela sobriedade e ritmo adagio incluindo as paixões que movem as personagens, se é que adagio e paixão são conceitos compatíveis. Num complexo mundo em guerra, conseguem arrumar direitinho as pessoas por categorias: cavalheiros, oficiais, soldados, gente comum, políticos, militares de carreira, militares dos serviços secretos, espiões, etc. O mais interessante na série é ver estas divisões no lado alemão onde a tendência é serem catalogados na gaveta dos “maus”. Outra curiosidade é que o valor mais importante transmitido ao longo dos episódios é o da honra. Hoje em dia seria impensável fazer uma série em que o aspecto mais relevante fosse a honra, poderia ser a lealdade, a coragem, mas a honra está a cair em desuso e tanta gente já nem sabe o que isso é. Talvez se soubessem não fossem ao “Momento da Verdade”.
26.9.08
Caça às Bruxas

Se há algo que considero sinistro é qualquer espécie de caça às bruxas, sejam as bruxas quem forem: bruxas propriamente ditas, pessoas com deficiências que desequilibrem a “normalidade”, pessoas de outras etnias ou raças que tentem trazer o desconhecido para perto de nós, de outras opiniões, etc, etc. A discriminação é uma ideia, é algo do domínio da racionalidade (ou da falta dela) e parece algo que se discute, que se critica. Já a caça às bruxas, apesar dos pretextos sempre “justos” e explicáveis toma dimensões sobretudo viscerais. Caçaram-se ao longo dos tempos as seguintes bruxas: católicos, judeus, protestantes, mulheres de sensibilidade “diferente”, pretos, índios, comunistas, fascistas, colaboracionistas, muçulmanos e tantos mais... Hoje, a caça às bruxas é mais sofisticada, mais metonímica, por exemplo, tomando-se os produtos pelas pessoas, mas faz sempre apelo às vísceras.
Só assim se pode explicar uma capa como a de hoje do jornal Público: de um produto chinês, uma bebida de leite a fazer “la une”. Só assim se pode explicar que hoje de manhã na rádio a notícia sensação tenham sido os caramelos chineses nas lojas chineses que escapam ao controle da AESE, essa grande ameaça à saúde pública europeia. Alguém, no seu perfeito juízo acredita em tal coisa? Hoje os caramelos chineses, iogurtes e bebidas lácteas – eufemismo para “os chineses”, são alvo de caça às bruxas. Ich bin ein Chinesisch Karamell!
6.9.08
A Espuma dos Dias que foram 9
Sarah Palin foi Miss Alasca, mas parece saber falar o que aparentemente incomoda alguns.
Angola tem eleições mas não deixa que jornalistas portugueses ligados a certos grupos de imprensa possam lá ir e fazer a cobertura das ditas eleições.
A China deu por encerrada a maior e mais eficiente encenação de sempre: os melhores Jogos Olímpicos de sempre. Dizem.
Os silêncios de Manuela Ferreira Leite continuam a incomodar e passam a ser devidamente dissecados, analisados interpretados...
Luis Filipe Menezes comopara-se a um Ferrari para gaúdio e gozo de alguns comentadores.
Os fogos de verão, tal como as palavras de Manuela Ferreira Leite, foram os grandes ausentes este verão dos noticiários televisivos e dos seus emotivos e uteis directos.
Putin mexe-se com segurança felina e o à vontade de uma raposa enquanto os galos batem as asas e cacarejam na capoeira.
Paulo Pedroso e o cada vez mais estranho caso Casa Pia: onde se ganham causas sobretudo processuais, pois as investigações, ao que o tempo que passa indica, mais uma vez falharam (no alvo, no método, nos objectivos, eu sei lá) continuando a não encontrar os culpados que todos acreditam existirem - até ao dia em que são nomeados (isto é: pôr um nome, dar uma cara) suspeitos que no segundo a seguir invariavelmente são inocentes e vítimas de conspirações que ninguém sabe se existem - pois as vítimas essas, todos são unânimes em assegurar e lamentar, existem mesmo e que necessitam que se faça justiça.
5.9.08
A Espuma dos Dias que foram 7
As férias (conceito lato em que muitas vezes o que lá cabe não é mais do que uma deslocação física e uma vida desfocada que a ausência de horários e rotinas permite) são propícias a algum estupor nomeadamente no que diz respeito à preocupação com o que se “vai passando” pelo país e pelo mundo, embora se apanhem e permaneçam alguns ruídos, frases soltas, nomes, declarações, locais ou outro tipo de referências, quase sempre fora do contexto e à espera que o regresso à normalidade organize e ordene, se possível. Assim, acabada de chegar desse mundo desfocado, darei conta sem ordem nem organização, de algumas notícias e faits divers dispersos que soaram como quem ouve um eco longínquo e insistente. Palavras que permaneceram enquanto esperam contexto e ordem.
Manuel Pinho e Catherine Deneuve no Allgarve.
Marco Fortes, que de manhã gosta mesmo é de caminha, regressa mais cedo de Pequim.
O Presidente do Comité Olímpico Português, Vicente Moura, não se vai recandidatar, mas afinal uns dias depois e já com uma medalha de ouro para Portugal afirmou poder reconsiderar decisão e provavelmente recandidatar-se-á.
Mário Lino compensa o Oeste pela escolha de Alcochete.
Michael Phelps depois das oito medalhas de ouro também se deixa tentar pelo Allgarve e pela inevitabilidade de um encontro com Manuel Pinho.
Manuela Ferreira Leite teima em não falar, para incómodo de tantos.
Os Jornais da Noite da SIC terminam sempre com um retrato da mais pura banalidade e do mais puro mau gosto numa rubrica de televisão feita por todos e para todos a que chamaram “O Melhor e o Pior do Verão”. Coisa detestável.
Assaltos e mais assaltos. Criminalidade e (in)segurança. Operações policiais aparatosas preparadas em segredo e em simultâneo, e com meios vistosos em que se apreendem meia dúzia de coisas.
5.8.08
Educação Para a Morte (3)
... ou dando livre curso a algumas ideias a propósito e a despropósito da leitura de Educação Para a Morte de Filipe Nunes Vicente, tendo sempre em mente a máxima do autor: “o que pode acontecer é que através da conversa entre dois humanos um deles consiga organizar a colecção de banalidades que as redondezas da morte suscita.”
Nestas conversas entre dois humanos perante a morte, um luto ou sofrimento profundo, muitas vezes há uma banalidade bem intencionada, mas carregada de veneno, que é comum dizer: vai correr tudo bem. Todo o livro de FNV é um manual exaustivo de como raramente tudo vai correr bem, o livro é também um manual de vida sem a esperança sem luz ao fundo do túnel, sem esse consolo dos aflitos, é uma provocação na aceitação tantas vezes da vida sem esperança (pode-se viver sem esperança, pág.47) fazendo-nos crer que o que nos move é uma força indiscernível (pág. 66) cuja origem divide os psicólogos (pág 66) que, ironiza o autor, são uma exigência da cultura ocidental dos últimos cem anos no que ela tem de técnica da alma: somos perfectíveis, só é preciso saber mexer nos botões certos (pág.66). Afinal também eles (psicólogos) acreditam que tudo vai correr bem e também eles acreditam em finais felizes e passam tantas vezes ao lado da “alma”(poder-se-ia abrir um debate sobre o que é isso da alma: fica para um dia...). Ora a morte e o luto transformam (pág.86 citando Lavoisier). Tudo fica diferente. E é essa evidência que é tão difícil para os interlocutores quando se tenta organizar a colecção de banalidades nestes momentos de sofrimento. Fazer crer que tudo vai correr bem, tantas vezes não é mais do que a evidência da incapacidade de lidar com o sofrimento, de o aceitar como parte integrante da vida, e saber partilha-lo com quem sofre. É a distância, a prudência, o não querer demasiado envolvimento. Acreditar na "cura", nessa capacidade da alma em nos tornar perfeitos é uma forma de simpático afastamento do outro, de iludir, de evitar olhar para a “alma”, é mais um sinal deste modo de viver em que tudo tem que "estar bem". Para isso adopta-se o wishfull thinking, a esperança em versão light de que realmente um dia tudo ficará bem.
14.7.08
Da Compaixão
Li com alguma sofreguidão e muita comoção o artigo do Caderno P2 do Público sobre Ingrid Bettancourt baseado em entrevistas dadas por ela a vários media internacionais. É todo ele um ensinamento dado com a enorme simplicidade que o sofrimento que se vence a cada dia com persistência, vontade, disciplina e trabalho interior vai expondo e, pareceu-me num primeiro momento, com uma linguagem que todos entendemos, ou pelo menos deveríamos entender que é a linguagem da humanidade do facto de todos partilharmos esse denominador comum que é sermos seres humanos.
Engano meu. Num relato, tudo ele pungente, Ingrid Bettancourt faz uma afirmação que me deixou chocada, porque ao quantificá-la a tira do universo abstracto das afirmações que se vão tornando lugares comuns ouvidos amiúde do tipo: os nazis eram implacáveis, ou os Khmer Rouge não tinham um pingo de compaixão ou a crueldade estalinista não tinha limites. Creio que ninguém no seu perfeito juízo procura compaixão (não um afastado “ter pena de”, mas um mais próximo “sofrer com”) num movimento terrorista cheio de fanáticos guerrilheiros que sabemos serem treinados e vigiados, nomeadamente para serem carrascos e implacáveis. No entanto, são de seres humanos que falamos e quando se lê nestes relatos de IB que terei contactado com mais de 300 guerrilheiros de todas as idades, de todas as condições. Destes 300, não terá havido mais de dois ou três a revelar um comportamento de compaixão, é profundamente perturbador e esta quantificação é duma violência enorme. Ao longo de seis anos de cativeiro e entre 300 guerrilheiros só dois ou três terão mostrado um comportamento de compaixão; ela mencionou um que lhe forneceu remédios, não falou nos outros dois, não sabemos o que fizeram, quem sabe se um deles se limitou a olhá-la como um ser humano olha para outro? O pior, diz ela, foi ter percebido que os seres humanos podem ser tão horríveis com outros seres humanos. E nós percebemos que a solidão que vem dessa constatação e dessa condição é imensa.
11.6.08

As bichas junto aos postos de combustível, bombas sem bichas que já não têm nem gasóleo nem gasolina, supermercados com falhas, aeroportos a sentirem os efeitos da paralisação de camionistas, a sensação de que nem sempre o governo está a saber e a exercer devidamente a autoridade do Estado, deixam o país num estado de fragilidade que incomoda. Neste mundo, tal como o conhecemos, abundância de recursos – mesmo em Portugal onde as famílias estão financeiramente muito pouco flexíveis, é um dado adquirido. Poder ou não comprá-los é outra questão, mas saber que se os quisermos eles estão lá, é algo que nem questionamos. Hoje a fragilidade da abundância vem à tona, e com ela a fragilidade de um estado pouco preparado para situações de crise, sejam elas greves, cheias, fogos florestais, insubordinação civil. Mas não nos preocupemos, pois no essencial, no que preocupa realmente os Portugueses tudo está bem: Portugal ganhou à República Checa e vai aos quartos de final do Euro 2008.
5.6.08
O Lado Negro (*)

Eduardo Pitta assina hoje no Corta-Fitas um texto interessante O Lado Negro da Bloga (*) sobre os lados negros da blogosfera - EP usa o termo “bloga” cuja sonoridade me parece (ainda?) estranha. A sua tese é a de que a blogosfera reflecte, na intolerância perante a opinião do outro, o crónico défice de democracia na sociedade portuguesa, pois onde quer que haja discordância o azedume toma conta da discussão. Concordo com o que escreveu Eduardo Pitta e iria um pouco mais longe. Sendo a blogosfera um território que espelha razoavelmente a sociedade, ou pelo menos uma parte dela aqui em Portugal, podemos notar algumas tendências que não são mais do que o aquilo com que nos deparamos no quotidiano e que propiciam esse azedume, essa facilidade de estremar posições e de dificilmente sair do preconceito.
A primeira tendência é a dificuldade em lidar ou mesmo aceitar a diferença e/ou o desconhecido: a opiniões diferentes reage-se com desconfiança e “à defesa” em vez de reagir com abertura analítica e crítica; ponto final. Cada um tem uma forma única e sua de olhar o mundo e olhar uma determinada questão, mesmo que as opiniões sejam convergentes raramente o olhar é semelhante; o contrário também pode acontecer embora mais raramente.
A segunda tem a ver com uma forma de olhar para o outro e de nunca conseguir separar a pessoa da sua opinião, e por isso raramente assisto a discussões na blogosfera que não acabem mais cedo ou mais tarde por se pessoalizarem atacando e por vezes insultando o outro em vez de se argumentar contra a ideia, opinião e por isso o ataque pessoal substitui a argumentação. O pressuposto, dito de forma simples para crianças de cinco anos, é o seguinte: se atacam a minha ideia o meu texto, se questionam a minha tese, se discordam de mim já não são meus amigos, já não sou amigo deles, já não não podemos brincar juntos. Já vimos blogues desfazerem-se, membros abandonarem os blogues, ou blogues virarem costas, por cairem nesse erro. O contrário também é válido e tentação constante: assumir como “amigo” alguém com quem se partilha uma opinião, uma causa, uma luta pontual. Sempre me desconcertou a facilidade com que, enquanto leitora de blogues, vi fazerem-se e desfazerem-se “amizades”, lealdades e afinidades na blogosfera. Em Portugal (por oposição a países anglo-saxónicos, por exemplo) é muito comum “levar a mal" uma crítica, sentir-se ofendido sem querer sequer perceber a argumentação do outro e sem saber também separar a pessoa da sua opinião, ou por exemplo, da sua performance profissional num momento de avaliação.
A terceira tendência é também comum mas muito redutora, e EP no seu texto refere-a quando fala no estremar de posições e simetria de argumento. Esta simetria é o caminho fácil para a definição estanque de territórios e para rapidamente catalogar e conseguir “reconhecer” o outro e o campo a que pertence. Estando o outro catalogado e preso a um território é muito mais cómodo prever os seus argumentos, as tomadas de posição para – na dita simetria - as rebater. Como se pode ver este é um meio propício ao preconceito. Definiria a quarta tendência como aquela que em Portugal, com ou sem 48 anos de ditadura, fez com que o português não ame, não sinta, não preze, não viva e não defenda com unhas e dentes a liberdade, o ser único, e o ser tantas vezes só. Todos temos que estar presos e dependentes de todos, ser amigos ou inimigos (outra forma de ser amigo) de todos, posicionarmo-nos em relação a algo, para em troca podermos esperar reconhecimento, gratidão, troca de favores, etc. Na blogosfera não é diferente, e traduz-se em ser ou não linkado, destacado, referido, e tudo o mais.
Termino numa nota mais técnica: a facilidade com que se faz um “enter” e se coloca um texto num blogue, às vezes impede que se respire fundo e conte até três - um velho remédio, mas de eficácia comprovada. Em casos mais complicados a recomendação seria uma noite de sono. Mas a tecla do enter está ali tão perto, e eu até tinha tanta vontade, e no fundo a blogosfera é isso mesmo: o tempo real, o agora com o que tem de lado claro e de lado negro.
8.5.08
Caldinho Cultural
Há coisas que preferia não saber, e quando os media omnipresentes de diversas formas e feitios veiculam essa informação, tento distrair-me, desligar, mudar o canal, não olhar, não ver, não saber. Pelo menos tentar que a informação fique a pairar pelo ar e se disperse rapidamente mas que realmente não se faça realidade na minha mente. Tem sido assim nas últimas semanas em relação à história do cidadão austríaco que sequestrou, violou e teve sete filhos da sua filha. Não quis saber, não quis ouvir, não quis ver. Até que hoje fui bombardeada várias vezes durante o dia com a publicidade à revista Visão que tem um dossier especial sobre o assunto. É óbvio que não comprarei a revista nem quero ler nada sobre o assunto de tal forma ele me perturba não só no aspecto humano/afectivo, mas no aspecto mais racional que tenta analisar os porquês, as motivações, os objectivos. Parece que o meu enquadramento mental não foi estruturado de forma a interpretar e digerir este tipo de comportamento pensado, frio, implacável, organizado e levado a cabo sem hesitação, nem retrocesso, sem culpa, nem fraqueza, sem piedade nem compaixão. Vinte e quatro anos neste registo. Repito, vinte e quatro anos de intencionalidade. Não preciso de detalhes, de planos do bunker, de explicações do dito cidadão, de testemunhos de vizinhos para que o horror desta situação me perturbe, e a passividade da vítima me aterrorize. Porquê? Para quê?
Há no mundo situações de horror, enorme injustiça, perversão, desigualdade, violência gratuita, e não é preciso pensar muito para elaborar uma longa lista de horrores dos nossos dias. Mas este caso tem esta intencionalidade, este pensar, esta frieza, esta repetição ao longo dos ditos 24 anos, que estão para além dos próprios actos de violência, violação, perversão. E este facto incomoda demasiado. É como se estivéssemos perante um concentrado de Mal e esse Mal tivesse um rosto, uma forma, um corpo. Mal no tradicional sentido judaico-cristão, como o que é oposto ao Bem, o que se afasta do Bem (Deus). Como se afinal este caldinho cultural que bebemos diariamente e que evita pensar nas noções de Mal e de Bem, tivesse sido contaminado, por um momento.
6.5.08
Pode repetir?
Por favor! Se “geografias musicais” já é mau (só lá chegamos se fecharmos os olhos com força) a história de “geografias afectivas” até dá nauseas e só pede mesmo a porta de luz verde que diz EXIT. No final do texto para fazer bonito utiliza-se esta banalidade: “Este é o ponto de partida e chegada”. Porque será que não escrevem coisas normais e despretensiosas quando têm como objectivo darem-nos informação?
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10.4.08
Crónica Da Vida Num Resort 2
Se um resort com a sua versão fabricada de paraíso apela as pessoas que procuram alguma tranquilidade e satisfação de desejos muito simples e básicos travestidos de coisa requintada, ainda apela mais a casais em lua-de-mel, e previsivelmente eles eram muito numerosos. No entanto enquanto “categoria” de pessoas eles não cansaram de me espantar. Andavam circunspectos e formais como quem cumpre um papel que é esperado que cumpram: de mãos dadas e em pose quase de estado andavam de lá para cá, tomavam refeições, andavam de barco, faziam passeis ao fim do dia, beijavam-se e abraçavam-se na piscina, mas todos os seus gestos pareciam pensados e encenados, careciam de espontaneidade e de verdadeira alegria. Não se ouviam gargalhadas, não se viam trocas cúmplices de olhares, nem sequer a sombra daquele brilhozinho de paixão ou desejo, muito menos um átomo que fosse de loucura, de vontade de sorver o momento, de realmente se divertirem. Enfim, não se viam nem sentiam algumas dessas coisas que é suposto existirem entre casais felizes e contentes que é o estado que normalmente associamos a uma lua-de-mel. Mais pareciam reféns de um qualquer protocolo ou convenção que os obrigava a estar ali um pouco contra-vontade. Se calhar...
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