“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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15.5.10

Bento XVI em Portugal 4

Porto

Mas, se esta certeza (“Eu estarei sempre convosco até ao fim do mundo” (Mt 28, 20)» (Bento XVI, Enc. Caritas in veritate, 78)) nos consola e tranquiliza, não nos dispensa de ir ao encontro dos outros. Temos de vencer a tentação de nos limitarmos ao que ainda temos, ou julgamos ter, de nosso e seguro: seria morrer a prazo, enquanto presença de Igreja no mundo, que aliás só pode ser missionária, no movimento expansivo do Espírito. Desde as suas origens, o povo cristão advertiu com clareza a importância de comunicar a Boa Nova de Jesus a quantos ainda não a conheciam. Nestes últimos anos, alterou-se o quadro antropológico, cultural, social e religioso da humanidade; hoje a Igreja é chamada a enfrentar desafios novos e está pronta a dialogar com culturas e religiões diversas, procurando construir juntamente com cada pessoa de boa vontade a pacífica convivência dos povos. (Aqui)

Bento XVI em Portugal 3

Porto

Vaidade e Orgulho

Nos dias que passaram, a minha prioridade noticiosa foi, clara e inequivocamente, acompanhar tanto quanto possível a visita do Papa Bento XVI e a sua mensagem, através das várias visitas, encontros, homilias e discursos. Queria que o mundo e o seu ruído tivessem parado por uns dias não só para aumentar a disponibilidade mental como para dar mais espaço interior a essa viagem pelas faces do catolicismo que cada dia nos eram dadas ver. Não pude escapar totalmente pois a semana que passou foi fértil em importantíssimas decisões políticas para combater “a crise” e em jogos comunicacionais diversos. Tempo haverá, infelizmente, para os digerir e sobre eles me insurgir e desabafar.

A rápida passagem de Bento XVI no Porto comoveu-me. Porque o Porto estava lá, estava como nós sabemos que ele é: a chuva miudinha, a neblina sobre as pontes e o rio, o cinzento, as fachadas de pedra dos edifícios, as gentes que sabem acolher como ninguém (assim queiram), as varandas engalanadas (a da Câmara Municipal estava particularmente bela) e cheias de pessoas símbolo de uma vida que vem “de dentro”, a estrutura para o altar de linhas sóbrias, os painéis de madeira no fundo, bem como o belíssimo altar e cadeiras de madeira, frutos de trabalho de artesãos do norte dando uma nota do conforto burguês bem nortenho num dia em que o tempo não se fez clemente. A eucaristia teve uma dimensão de intimidade e de interioridade que raramente acontece em missas campais, mas reparei que todos os detalhes litúrgicos foram cuidados (evangelho declamado, coros de altíssima qualidade, paramentos...) o que contribuiu para a solenidade do momento, num ambiente de simplicidade.

Confesso que na emoção e vaidade (um pecado, dizem) portuense do momento me perguntei se o Papa repararia na qualidade daquele trabalho que o norte lhe oferecia. Depressa tive a resposta: no momento, a seguir à eucaristia, que o papa dedicou (visto na televisão em directo) a cumprimentar o jovem sacerdote (?) dono de uma voz excelente e que cantou o evangelho, e depois ao ler que o Papa pedira a cadeira em que descansara depois da missa no Porto. Razões para a vaidade e orgulho.

9.5.10

Bento XVI em Portugal


“A verdadeira missão da Igreja: ‘esta não deve falar primeiramente de si mesma, mas de Deus’”. (pág. 74)

O livro de Aura Miguel, bem organizado em torno de uma estrutura simples e eficaz, parece quase um guia (o essencial sobre...) sobre Bento XVI que nos conduz de forma eficiente e rápida, mas nunca ligeira, quer através do pensamento e preocupações teológicas e pastorais de Ratzinger/BentoXVI (o texto está recheado de citações suas de textos, intervenções e homilias vários e ao longo dos tempos), quer através da sua ligação a Portugal, quer dando-nos a conhecer o lado humano do actual Papa. Um trabalho que, apesar da aparente simplicidade e do pequeno número de páginas, é exaustivo, útil e de fácil leitura. Da vaticanista Aura Miguel.

26.4.10

Conversas de Café e Brainstorming

Depois da “espontaneidade” saída de uma conversa de de três jovens juristas que não querem provocar mas somente sensibilizar, soubemos agora de mais espontaneidade no seu melhor, saída de um “brainstorming”. Parece que o Papa se está a tornar num alvo por parte das sensibilidades das causas fracturantes, e . Cá, um país maioritariamente católico, sobra anti-clericalismo, às vezes até misturado com devoções várias, que hoje se sente aconchegado e que nunca perde oportunidade de se mostrar na sua faceta mais primária, radical e pouco tolerante. Lá, onde o catolicismo é minoritário e o islamismo corre sérios riscos de ser maioritário, perante a lenta dissolução de uma Church of England que consegue ser tudo e o seu contrário, há um anti-papismo secular que as ditas sensibilidades das causas fracturantes descobrem no seu esplendor. Não é em vão que anualmente se celebra com fogo de artifício a derrota do catolicismo e morte de Guy Fawkes.

Uma coisa é certa: as conversas de café que nos anos 60 e 70 propiciaram tanta produção intelectual (não discuto a qualidade da dita) conhecem há muito uma decadência que está bem patente no resultado: distribuir preservativos antes/depois das missas do Papa. Se não fosse patético, dava vontade de rir. O brainstorming, um sucedâneo das ditas conversas de café mas em salas de reunião com toque yuppie e glamour à anos 80 e que produzia sobretudo soluções “corporate” ou “marketing”, (para usar inglês técnico), já conheceu também melhores dias. Estas brilhantes e originais ideias, (ver primeiro e últimos parágrafos), saídas de uma sala de reunião do Foreign Office, já o obrigaram a pedir desculpa ao Vaticano. Nem dá para rir, tal o nível de infantilidade e imbecilidade (com patrocínio governamental).

Razão tem o Bispo de Chester:

3.10.07


O estilo já mudou. O tom também. Compare-se o estilo e o tom de Manuela Ferreira Leite a refutar com firmeza as acusações de Marcelo Rebelo de Sousa com o estilo e tom de Ângelo Correia a falar sobre Marcelo Rebelo de Sousa e a sua irrelevância. Percebe-se a diferença, não percebe?


O Cardeal Patriarca sobre o Diploma que prevê o fim das Capelanias nos hospitais. Interessante este excerto: “são as capelanias católicas que têm chamado ministros de outras religiões, mostrando quão longe está o governo legislador da realidade vivida nos hospitais. Na sua perspectiva, os hospitais devem ter “um serviço de capelania ecuménica”, mas que atenda à dimensão da Igreja Católica.



Entretanto noutras partes do planeta, na Birmânia, descobre-se uma realidade que preferíamos não ter que saber. Thousands of protesters and monks missing in secret gulag of the generals.


2.10.07

Hospitais, Capelanias e Anti-Clericais 3

Ao considerar que, por defeito, o doente no hospital tem direito a assistência espiritual, há que saber como providenciá-la. Admito que esta questão hoje, devido a uma maior multi-culturalidade da nossa sociedade, se coloque de forma diferente daquela que se colocava há vinte ou trinta anos atrás. Se, parece ainda fazer sentido a manutenção de um capelão Católico (porque o catolicismo é maioritário) de acordo com as necessidades e tamanho (número de camas) e tipo de hospital, percebo a necessidade de haver uma ligação a outros assistentes espirituais de outras religiões, e porque não a assistentes espirituais sem ligação a nenhuma estrutura religiosa (existem e são úteis nomeadamente para cépticos que no entanto “se questionam”). Terá que haver sensibilidade suficiente de quem coordena tal apoio para que, mesmo em situações de carência de um ou outro representante da religião professada pelo doente, quem lá esteja saiba despojar-se e abrir-se às necessidades do doente. O argumento de que há padres que abusam da sua situação, que tentam impor sacramentos ou tentar conversões (a sério? Ainda há disso hoje?) é igual ao argumento de que o médico foi insensível ou fez um mau diagnóstico, ou de que o enfermeiro é desatento e descuidado, e não é por isso que se prescinde dos benefícios nem da medicina nem dos cuidados dos enfermeiros. As reclamações terão ser feitas a quem de direito, sobre médicos, enfermeiros, auxiliares, recepcionistas ou capelães. Nem mais nem menos.

Como frisei antes, cada vez se passa menos tempo no hospital, mas há muitas pessoas que passam lá tempo demais, e é lá também que muitos se confrontam pela primeira vez com a morte. A morte de alguém pode ser notícia, mas a inexorabilidade da morte, o seu aproximar, ou as condições em que se morre hoje em Portugal nunca deu notícia nem sequer dá votos. É um dos assuntos de que não se fala. Um dos últimos tabus, e por isso nem sequer faz parte do discurso dos políticos ou entra nas intenções das campanhas eleitorais. Imagine-se um político em campanha a anunciar que as necessidades espirituais do doente (cuja importância na cura, na qualidade de vida, ou na tranquilidade perante a morte, me dispenso de referir, pois parece ser assunto de consenso) como uma prioridade de governação, ou anunciar como paixão os Cuidados Paliativos. No entanto...

1.10.07

Hospitais, Capelanias e Anti-Clericais 2

De acordo com o que tenho lido na comunicação social sobre o projecto-lei do Governo sobre a questão dos capelães católicos nos hospitais, a proposta parece ir no sentido de o doente, quando é admitido no hospital solicitar assistência religiosa de acordo com a religião que professa e pratica, de acordo com a sua fé e com a sua vontade. Ora um doente ao ser admitido num hospital não está, muitas vezes, na posse de todos os dados referentes à sua situação clínica ou mesmo à sua evolução que pode ser imprevisível ou modificar-se em relação ao que ele esperava. Se é verdade que hoje se passa cada vez menos tempo no hospital, e que os internamentos são tão curtos quanto possível, também é verdade que aí se passam muitos dos momentos mais significativos e marcantes da vida de cada um e dos seus e que no meio de mudança, imprevisibilidade e sempre pairando no ar bem ao fundo a morte, a pessoa muda. As certezas mudam, as incertezas também. As prioridades reorganizam-se, os anseios também. E o que é um facto é que no momento em que se é admitido num hospital, ninguém sabe realmente o que vai acontecer durante a estadia, nem sabe de certeza em que condições vai sair, nem tão pouco se vai sair. Nesta encruzilhada de incertezas e fragilidades o doente, independentemente do credo religioso que professe ou mesmo que não professe nenhum, tem um sentido espiritual mais apurado do que noutras circunstâncias, mesmo quando nega a dimensão religiosa. No nosso, país com a nossa cultura, essa ânsia espiritual, tem normalmente como expressão visível uma aproximação aos sacramentos da religião Católica, mas essa é uma das possíveis expressões de religiosidade ou simplesmente de espiritualidade, mesmo que o doente nem se dê conta disso. Um capelão aberto ao outro, ou alguém com experiência nessa área de aconselhamento espiritual sabe detectar esses sinais.

Os doentes têm direito a essa assistência e têm direito a saber que ela existe, que está ali, que é só estender a mão que ela lhe é dada. Que não é preciso uma decisão racional, uma declaração de intenções, ou uma clara expressão de vontade em tê-la. Se se dependesse da vontade expressa do doente, muitos que tiveram o apoio ou a ajuda desse aconselhamento sem o terem solicitado, mas só porque lá apareceu alguém para eles e para lhes dar um momento de atenção, não o teriam tido. Dito isto, creio que a vontade expressa terá de ir no sentido oposto: no sentido de não querer essa presença ou esse apoio espiritual. O direito a tê-lo terá sempre de ser mais fácil, e mais natural - porque decorre da natureza humana e da natureza das circunstâncias e porque a sombra da morte não deixa indiferente - do que o direito a não o ter que é seguramente legitimo e deve ser respeitado. Este princípio é violado neste projecto-Lei. A laicidade de um estado não pode esconder a face religiosa da sua população.

(Continua)

30.9.07

Hospitais, Capelanias e Anti-Clericais 1

Apesar de não conhecer em detalhe o tipo de funcionamento das capelanias nos hospitais, as obrigações contratuais de ambas as partes, os custos e mesmo a pertinência da manutenção do modelo de serviço tal qual ele é prestado hoje, quase em exclusividade – senão em exclusividade total pela Igreja Católica, admito desde já a necessidade de que seja revisto e de que haja aspectos obsoletos e desajustados à realidade do Portugal de hoje que necessitem de reformulação. Sou também inequivocamente partidária de um estado laico e da rigorosa separação entre a religião (seja ela qual for) e o poder político e a sociedade. O que continuo a não entender é que para alguns sectores conservadores, sim que o anti-clericalismo e a bandeira da laicidade do Estado num país como o nosso e nos dias de hoje parece-me uma posição muito conservadora que terá tido a sua justificação noutros momentos da História, se confunda laicidade com uma recusa cega em aceitar a religiosidade de uma população e um sentimento religioso maioritário numa sociedade. Nesta semana que passou o debate sobre a proposta do governo de alterar o funcionamento das capelanias e assistência espiritual nos Hospitais trouxe tais sentimentos anti-clericais à tona na comunicação social e nalguns blogues nomeadamente aqui, aqui e aqui.

Um estado laico não pode ser nem surdo nem cego perante a realidade religiosa de um país. Esta realidade não é só feita da fé, por muito que os sectores mais conservadores da Igreja o pretendam, é feita muito e talvez sobretudo de uma realidade cultural. Se só se casasse pela Igreja quem tem fé, se só participasse nas diversas órbitas da Igreja quem tem realmente fé, teríamos ainda menos católicos praticantes e fieis aos sacramentos do que temos hoje. O aspecto religioso é bem mais complexo, amplo e vasto e está enraizado na nossa cultura e é impressão digital da nossa civilização (ver aqui). Ao minimizar ou negar este facto o anti-clericalismo está, ao contrário do que pensa, a ser faccioso e não isento, pois ignora a liberdade individual de ser religioso da forma que bem se entenda, nomeadamente de ser um mau religioso, um religioso assim assim, de não acreditar muito, mas sentir-se melhor com a imagem de N. Senhora de Fátima ao lado, de não concordar com a confissão, mas gostar de saber que se quiser tem uma igreja aqui e um padre ali, de nem se dar ao trabalho de ir à missa ou jejuar duas vezes por ano, mas dar sempre 50 Euros para as festas do santo da terrinha e queimar umas velas, de só se lembrar de Santa Bárbara quando troveja, mas de chamar um padre para benzer a casa, o barco, a nova fábrica, a nova escola. Outra característica do anti-clericalismo é uma obediência ao politicamente correcto actual tentando sempre uma espécie de humilhação ou subalternização da Igreja Católica ao pretender que em Portugal todas as religiões têm a mesma expressão, a mesma importância e relevância social, intelectual, afectiva e simplesmente numérica. Não têm como todos bem sabemos.

(Continua)

12.9.07

Neste blogue chamaram-me a atenção para esta fotografia que estava na capa do Público. Reparei em algo insólito: a mão direita de José Sócrates. Fico na dúvida: será que teve uma súbita enxaqueca? Uma tontura ou vertigem? Será que afasta uma madeixa de cabelo da testa (mas isso era mais António Guterres)? Tenta esconser a cara num acesso de timidez inspirado pela desaparecida Princesa do Povo? Percebeu que se esqueceu de algo importante? Ou benze-se? Impossível, devo estar a sonhar.

(Actualização)

Hoje nos telejornais um país cada vez mais igual a si próprio:

Mais entregas de computadores portáteis pela mão do Primeiro-ministro e de outros ministros. José Sócrates fê-lo numa escola de Oeiras que só começa as aulas na segunda-feira, ao lado de Isaltino de Morais. Interessante.

Um mínimo de 15 minutos com o caso “Madeleine”. Ainda se consegue dizer tanto sobre esse caso?


7.9.07

A Porta Estreita

A recente revelação de cartas de Madre Teresa de Calcutá em que ela dá conta das suas profundas dúvidas e crises de fé, tem sido alvo de comentários mais ou menos jocosos, sobretudo vindos de sectores mais agnósticos, ateus e anti-clericais. Eu sempre senti alguma divertida perplexidade pelo fascínio que os assuntos quer de fé, quer de doutrina, quer litúrgicos relacionados com a Igreja Católica exercem naqueles que estando fora nunca se cansam de os comentar e na persistência com que o fazem. Muitas vezes, se não quase sempre, os comentários são baseados em ignorância pura e dura, o que não é de admirar, e outras vezes chegam mesmo a ser tingidos de má-fé.

Não me vou alongar sobre a milenar tradição de dúvidas, crises pessoais e crises de fé, nomeadamente, porque mais “visíveis”, dos Santos Canonizados e mesmo de muitos Doutores da Igreja. Nem me demorarei sobre questões de fé que se prendem com o livre arbítrio. No entanto citarei as recentes palavras de Bento XVI no Angelus a 26 de Agosto, um texto curto e fácil. À pergunta "Senhor, são poucos os que se salvam?" a resposta de Jesus é: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita” (Lc 13, 23-24). Depois, mais adiante, o Papa destaca muito claramente e sem hesitações nem excepções, nem casos especiais, nem outras considerações supérfluas, os critérios ou o “passaporte” para entrar na vida eterna: a bondade do coração, com a humildade, com a mansidão e a misericórdia, o amor pela justiça e a verdade, o compromisso sincero e honesto pela paz e pela reconciliação. É só isto e é simples. Em momento nenhum se fala em certezas inabaláveis, em verdades incontestadas ou absolutas.

Para mim, este texto é particularmente interessante e bastante ousado porque centra o essencial do catolicismo em três ou quatro conceitos básicos, e sendo um texto limpo de ruído percebemos como tantas questões fracturantes que ao longo dos tempos alimentam e entretêm não só a própria Igreja e os seus fieis, mas também a humanidade, são excêntricas ao core da mensagem cristã de salvação. Assim acaba por ser secundário ou diria mesmo irrelevante, ter dúvidas ou não, hesitar ou não, questionar ou não. Exemplos não faltam e poderia alongá-los para áreas, nomeadamente da moral sexual ou da reprodução, tão do agrado e tão bandeira de combate de alguns agnósticos, ateus, republicanos e laicos e, em contrapartida, com posições por vezes tão extremadas e tão radicais do lado dos fieis ou mesmo da própria Igreja.

13.3.07

Sacramentum Caritatis

Na Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis (notícia aqui no Público, outra aqui na BBC, entre muitas), documento sobre o Sacramento da Eucaristia, é reafirmada a obrigatoriedade do celibato no clérigo, e reafirmada a exclusão da comunhão de católicos divorciados e casados de novo, católicos a viver em união de facto, nomeadamente casais homossexuais (valores não negociáveis, segundo Bento XVI). Este texto, embora não surpreenda nenhum católico, que finalmente (re)vê o já conhecido Cardeal Ratzinger, funcionará como um balde de água fria nos sectores católicos que esperam desde o fim do Concílio Vaticano II uma mudança gradual de algumas orientações de Roma no que diz respeito à moral privada dos católicos. Todo um sector que aguarda uma pequena abertura em relação ao celibato dos padres, uma flexibilidade em relação ao divórcio, contracepção, sabendo que assuntos como a ordenação das mulheres ou uniões de facto homossexuais ainda terão que esperar mais.

Este documento é muito importante no que tem de reafirmação e inflexibilidade no rumo da Igreja e deixará um amargo de boca em muitos sectores mais liberais que gostavam de sentir que, apesar de devagar, a Igreja se move. Bento XVI, inteligente teólogo, hábil político e defensor inequívoco da sua Igreja (no sentido lato) é, sem surpresas, reafirmo, intransigente nas polémicas questões da moral privada dos católicos que tanto os mantém afastados das Igrejas, e que tanta dissonância cria de cada vez que um Bispo ou um Padre ousa clara e abertamente afirmar a sua discordância em relação ao Papa. Não hão-de faltar polémicas em torno deste texto sobre a Eucaristia.

Ainda não li o texto todo disponível em Português aqui, mas, com tempo o farei.

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