“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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23.11.06

O Véu 3


Aumentam por essa Europa fora os sinais de descontentamento e desconforto em relação ao uso do “véu” por parte das mulheres muçulmanas. O termo véu é impreciso e tanto serve para o lenço como para o hijab, niqab ou mesmo burka, o que nos normaliza algo que não é facilmente normalizável. Cada uma destas peças de vestuário em favor da modéstia e pudor femininos tem uma história, uma tradição e uma carga simbólica diferente. O lenço que as magrebinas hoje usam em França e que esteve na origem da lei do véu, não tem origem no Magrebe, onde o traje mais tradicional das mulheres incluía um pequeno lenço fino branco que podia ser bordado e que se punha atando atrás e de forma a tapar a boca e o nariz, mas deixava por vezes entrever parte dos cabelos. Este acessório era considerado de grande sensualidade. O lenço mais escuro, mesmo preto, é algo que vem da outras tradições, nomeadamente da paquistanesa e que se foi instalando no Magrebe na era pós independência e no início de um processo de islamização da sociedade, como reacção anti-colonial. Hoje as gerações mais novas magrebinas, lá ou na Europa, já integraram esses mais recentes formas de vestir e aceitam-nas como um símbolo de identificação cultural, o que não deixa de ser algo irónico.

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