A pena de morte é algo que recuso de uma forma tão intuitiva e natural que nunca perderia muito tempo num debate de ideias sobre este assunto sentindo-me sempre num mundo oposto quando confrontada com pessoas que a defendem. Mas a morte por enforcamento trás consigo algo de medieval ou de barbárie que me custa ainda mais visualizar e reconhecer como actualidade, do que as formas assépticas de fazer morrer em tantos estados dos EUA. Depois pergunto-me se tudo isto é relevante; se, para alguém que, como eu, é contrária à pena de morte, a forma de morrer importa. Se há diferença entre decapitação, enforcamento, apedrejamento, degolação, tiro de revolver ou de pelotão de espingardas, cadeira eléctrica ou injecção letal, para falar de alguns dos métodos de execução que lemos nos jornais e vemos nas televisões nos dias de hoje. A tentação é dizer que não, que não há diferença, que em todas elas se morre, e que morrer nestas circunstâncias é igualmente condenável, mas eu creio que há diferenças, se não para quem morre, pelo menos para quem cá fica e sabe.
As diferenças que eu noto têm a ver com conceitos como dignidade, privacidade e humilhação. Tudo na preparação de um condenado à sua morte arrepia, quer seja feito num respeito integral das leis de países democráticos, com que dificilmente nos identificamos, quer no cumprimento de leis de países não democráticos, com justiças sumárias e sem isenção, quer quando feitas à margem da lei, quer quando levadas a cabo por bandos terroristas. Mas neste cenário lúgubre, pergunto-me qual o método em que melhor se respeita a dignidade da vida, mesmo que isso não signifique respeito pelo ser humano em causa, em que método se humilha menos o ser humano em questão e qual o método mais privado. Ao tentar fazer este pequeno exercício mental esbarrei com muitos absurdos, contra-sensos, e com o tão óbvio resultado, para mim, de que se todos estes parâmetros fossem respeitados não haveria pena de morte, que fiquei sem saber responder. Não posso, no entanto deixar pensar: a forca, não!