Parece que alguns movimentos de apoio ao SIM no referendo ao aborto começaram a perceber onde tudo se joga. Tal como no voto partidário em que o chamado “centrão” decide o sentido do voto, também neste referendo é ao NIM que terão de ir buscar votos e uma decisão. O SIM está a perceber que um discurso demasiado voluntarista que se baseie numa concepção de liberdade que põe em causa a liberdade de existir do feto, ou em slogans do tipo: “aqui mando eu” ou em discursos inflamados sobre desigualdades sociais (que se irão manter) afastam votos. Cabe ao NÃO agora, aproveitando o maior argumento do respeito pela vida, abandonar de vez um discurso demasiado taxativo e de alguma arrogância moral, no qual muitas mulheres, e também homens, ou porque já abortaram sendo “contra” o aborto, ou porque têm consciência que um dia poderão ser confrontadas com uma situação de dilema sobre abortar ou não, não se revêem e rejeitam.
Será difícil: o discurso sobre a liberdade e o direito à decisão está tão enraizado na história recente das lutas e reivindicações feministas, e o aborto tão dependente de uma certa noção de direito da mulher que dificilmente certos sectores conseguirão olhar para esta questão de outra forma. O grande terreno comum parece ser o da rejeição do aborto e o da rejeição da condenação de uma mulher por ter feito um aborto. É neste, pelo menos aparente, desequilíbrio partilhado pelo NIM que se joga a decisão do referendo.