“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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19.12.08

Encontros e Desencontros

Aqui há umas semanas fui surpreendida, quando ouvia rádio no carro, pela voz mágica da Simone. Há tanto tempo não a ouvia que até, infelizmente, já nem me lembrava que existia, num daqueles desencontros de que é feita a vida. Reconheci logo a sua voz , mas fiquei espantada por a ouvir num dueto com o Luis Represas, um odiozinho de estimação meu que só tem igual ao que nutro por Mafalda Veiga. Problema meu, eu sei, e sem razão aparente por isso no seu esplendor irracional, mas não consigo ouvir as canções deles, não suporto a voz melodiosamente bonita e correcta, no caso Luis Represas, nem as letras “mundo metafórico dos afectos correctos” à maneira de Mafalda Veiga. Fiquei num impasse radiofónico, entre o mudar de estação ou continuar, entre a vontade e sedução da voz de Simone e a irritação causada por Represas. Simone venceu, e tenho conseguido ouvir o seu dueto “Desencontro” algumas vezes que tem um refrão a duas vozes muito bem conseguido (apesar de Represas ser tão Represas como era esperado que fosse). Este refrão fez-me imediatamente pensar numa outra música de um outro tempo cantada pelos grandes Chico Buarque e Maria Bethânia, “Sinal Fechado”, toda ela cantada num fôlego, intensamente dramática na sua grande simplicidade e realismo. Sempre considerei esta música um daqueles casos raríssimos em que, aparentemente sem se querer e sem se saber como, se constrói uma pequena obra-prima. Voltar a lembrá-la, e perceber que ainda a sabia de cor, foi um dos prazeres que o dueto Simone/Represas me trouxe.

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