“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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20.9.09

Alegado

Alegado(a)(os)(as) é uma palavra sem a qual seria impensável viver no nosso país. Há meses que “alegado” entrou de rompante no nosso vocabulário. O “alegado” é um ersatz da verdade, que em democracia é normalmente apurada pela investigação e pela justiça, verdade essa que , ninguém realmente procura ou quer, pois tem sido sistematicamente substituída por “alegados” qualquer coisa, que inundam os meios de comunicação social, e o pathos colectivo. São “alegados” os faxes, os e-mails, as pressões, as conversas, as acusações, as intenções, os negócios, etc.

Parece que vivemos de “alegado” em “alegado” e que a comunicação social a um ritmo constante alimenta os seus leitores e ouvintes de novos casos onde abundam os “alegados” que fazem os casos dos quais eles, e nós, vivemos. Este período de campanha eleitoral tem sido especialmente fértil em casos concentrando-se pouco no debate sobre o essencial: José Sócrates governou bem nos últimos quatro anos ou governou mal? Porque é que não governou bem, o que fez mal, o que não fez. Se governou bem o que é que fez. O país está melhor? Os portugueses estão melhores? Queremos ou não queremos que ele seja o próximo Primeiro-ministro? Estas matérias estão sistematicamente ausentes das primeiras páginas dos jornais, e do debate público, nomeadamente televisivo porque os casos e os respectivos “alegados” enchem a campanha. Já foi assim após os debates televisivos entre os líderes partidários em que os comentadores se concentravam sobretudo em aspectos formais ou no caso e nos “alegados” do dia. Mas como o país está anestesiado e habituado a seguir um caso e respectivos “alegados” após o outro, já nem estranha a ausência de um verdadeiro debate político, nem o reivindica
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