“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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13.2.08

E eu, e Tu

E eu, e tu,
Perdidos e sós,
Amantes distantes,
Que nunca caiam as pontes entre nós.

Ó Pedro Abrunhosa, você faz melhor de que isto! O refrão é todo mau, mas "Que nunca caiam as pontes entre nós" é do mais foleiro que há. Parece, na melhor das hipóteses, um discurso político sobre diálogo trabalhado por uma central de comunicações do governo ou então, sempre na melhor das hipóteses, uma nova publicidade para uma das novas travessias do Tejo encomendadas pelo Mário Lino. Desta vez passa, mas para a próxima, mas veja lá se consegue sair desse cliché banal de amantes distantes e de pontes entre eles que poderão cair. Coisa mais fraquinha.


22.10.07

Pisar Luares

A imbatível dupla de que falei aqui, João Pedro Pais e Mafalda Veiga, brindou-me hoje cedo de manhã e no meio do trânsito com outra pérola retórica a puxar para o transcendente. Assim cantava ele: Piso luares perdidos no chão. O quê? Perguntei-me com dificuldade em apreender e racionalizar tal mensagem. Aumentei o volume do rádio para confirmar e não só confirmei como ouvi (uma canção sem graça) imagens do género: em cada grito da alma eu sou igual a ti (muito gostam eles da alma), pinturas de guerra que não sei apagar, e outras insanidades mais (não, não faço link) que deixaram a minha cognição afectada e mais perdida do que os luares. Pisar luares perdidos no chão? A sério? Poderia dar pontuação pela imaginação delirante, mas francamente que é que isso quer dizer? Temo que nada, tal o som do vazio e do oco. Estas letras de música deveriam pagar imposto. Parece que se trata de um CD desta parceria, o que quer dizer que provavelmente tornarei a escrever sobre eles.

5.9.07

Um Pouco mais de Alma

Há letras de músicas que me surpreendem porque me parecem nada ter a ver com a música, ou com a melodia, outras porque inesperadas, outras porque não dizem nada, outras que simplesmente me agradam, ou porque são bem feitas ou simplesmente porque sim, que é sempre um bom motivo. Divirto-me a adivinhar as rimas, tarefa algo fácil com a maioria das músicas portuguesas em que qualquer coisa terminada em “or” rima com amor (será que exagero?), ou que tudo o que termina em “ão” acaba sempre a rimar com coração ou paixão. Nestes últimos tempos ando às voltas com um pedaço de letra de uma canção que ouço repetidas vezes na rádio cantada por João Pedro Pais e Mafalda Veiga. Não sou especial apreciadora de nenhum destes cantores, nem gosto particularmente deste dueto em que as vozes parecem dissonantes, por isso nem sequer me esforcei por perceber a letra, mas o refrão que reza assim Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma / Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma, deixa-me siderada. Que tudo peça mais calma ainda vá que não vá, que nos dias que correm a tranquilidade é sempre bem vinda, agora que é isso de o corpo pedir um pouco mais de alma? Isso existe? Eu bem quero não pensar na frase, mas ela causa profundas dúvidas ontológicas a qualquer pessoa que perca mais de dois segundos a ouvi-la. Provavelmente não terá sido essa a intenção dos autores, se calhar tudo o que queriam era uma rima que não fosse muito má e que parecesse um bocadinho pensada, menos light, mas que se pode fazer quando se apregoa que o corpo pede um pouco mais de alma?

23.2.07



Baladas de Coimbra (1962) e Cantares do Andarilho (1968): um single e um LP que já conheci de capas gastas e que se ouviam sem cansar durante anos e anos: são a minha primeira e muito querida memória de música portuguesa. Para mim nem a Amália me faz sentir Portugal como José Afonso sempre fez. Mas falo de um José Afonso musical bem anterior ao 25 de Abril. E essas obras, primeiro uma coletânea de LPs e depois uma de CDs acompanharam-me sempre, fosse eu para onde fosse e se saudade batesse era ele que eu lembrava, trauteava e tinha vontade de ouvir.

No tempo destes discos era de José Afonso que se falava. Álias, antes deles ele era Dr. José Afonso quando cantava o fado de Coimbra e era esse o nome que constava na capa dos discos. O Zeca Afonso, enquanto nome artístico, é um produto do pós 25 de Abril de qualidade artística inferior e politicamente mais envolvido. Nunca simpatizei com as suas opções e acções políticas, mas isso nunca me impediu de o considerar um dos maiores nomes da música portuguesa. Lembro-me, de o ter visto algumas vezes, era eu criança e os meus pais fizeram-mo notar, no barco para a Ilha da Fuseta e no barco para Ayamonte, com um ar severo e pouco aberto, mas sempre com a viola, num verão de outros tempos. Nunca esqueci.

Anos mais tarde vi-o na televisão no seu último concerto, creio que no Coliseu: apesar de alguma irritação pelo aproveitamento político feito, fiquei pregada à cadeira, comovida, a ouvi-lo já a voz lhe falhava.

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