“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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5.9.07

Um Pouco mais de Alma

Há letras de músicas que me surpreendem porque me parecem nada ter a ver com a música, ou com a melodia, outras porque inesperadas, outras porque não dizem nada, outras que simplesmente me agradam, ou porque são bem feitas ou simplesmente porque sim, que é sempre um bom motivo. Divirto-me a adivinhar as rimas, tarefa algo fácil com a maioria das músicas portuguesas em que qualquer coisa terminada em “or” rima com amor (será que exagero?), ou que tudo o que termina em “ão” acaba sempre a rimar com coração ou paixão. Nestes últimos tempos ando às voltas com um pedaço de letra de uma canção que ouço repetidas vezes na rádio cantada por João Pedro Pais e Mafalda Veiga. Não sou especial apreciadora de nenhum destes cantores, nem gosto particularmente deste dueto em que as vozes parecem dissonantes, por isso nem sequer me esforcei por perceber a letra, mas o refrão que reza assim Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma / Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma, deixa-me siderada. Que tudo peça mais calma ainda vá que não vá, que nos dias que correm a tranquilidade é sempre bem vinda, agora que é isso de o corpo pedir um pouco mais de alma? Isso existe? Eu bem quero não pensar na frase, mas ela causa profundas dúvidas ontológicas a qualquer pessoa que perca mais de dois segundos a ouvi-la. Provavelmente não terá sido essa a intenção dos autores, se calhar tudo o que queriam era uma rima que não fosse muito má e que parecesse um bocadinho pensada, menos light, mas que se pode fazer quando se apregoa que o corpo pede um pouco mais de alma?

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