“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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23.2.07



Baladas de Coimbra (1962) e Cantares do Andarilho (1968): um single e um LP que já conheci de capas gastas e que se ouviam sem cansar durante anos e anos: são a minha primeira e muito querida memória de música portuguesa. Para mim nem a Amália me faz sentir Portugal como José Afonso sempre fez. Mas falo de um José Afonso musical bem anterior ao 25 de Abril. E essas obras, primeiro uma coletânea de LPs e depois uma de CDs acompanharam-me sempre, fosse eu para onde fosse e se saudade batesse era ele que eu lembrava, trauteava e tinha vontade de ouvir.

No tempo destes discos era de José Afonso que se falava. Álias, antes deles ele era Dr. José Afonso quando cantava o fado de Coimbra e era esse o nome que constava na capa dos discos. O Zeca Afonso, enquanto nome artístico, é um produto do pós 25 de Abril de qualidade artística inferior e politicamente mais envolvido. Nunca simpatizei com as suas opções e acções políticas, mas isso nunca me impediu de o considerar um dos maiores nomes da música portuguesa. Lembro-me, de o ter visto algumas vezes, era eu criança e os meus pais fizeram-mo notar, no barco para a Ilha da Fuseta e no barco para Ayamonte, com um ar severo e pouco aberto, mas sempre com a viola, num verão de outros tempos. Nunca esqueci.

Anos mais tarde vi-o na televisão no seu último concerto, creio que no Coliseu: apesar de alguma irritação pelo aproveitamento político feito, fiquei pregada à cadeira, comovida, a ouvi-lo já a voz lhe falhava.

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