Manuela Ferreira Leite não entusiasma, não empolga, nem faz acreditar num Portugal melhor para amanhã. Às vezes paro e pergunto-me se tenho saudades do tempo em que ainda me atrevia, em momentos mais ousados, a ficar entusiasmada, empolgada e acreditar que Portugal um dia será como aquela sábia mistura da Irlanda e Finlândia temperada com sabedoria anglo-saxónica, fé como no American Way of Life tudo com muito estilo, design à maneira italiana. Não, não tenho saudades, e cada vez mais gosto de não ficar empolgada ou entusiasmada por um político ou mesmo por um projecto político. Olho para ambos com cepticismo e desprendimento e encontro-lhes sempre pelo menos três vícios por cada virtude. Não há Blair, Sarkozy, Bush, Zapatero, Obama que me entusiasme. Não há PS que me alicie, PSD que me comprometa ou PP que me mova.
MFL não é excepção. As suas passagens pelos diferentes Ministérios nunca me marcaram positivamente, nem deixaram grandes saudades, e o seu actual discurso insistente numa busca de identidade partidária, no desatino que é hoje o PSD, na social-democracia assusta-me um pouco. Não gosto de socialismos e sempre me pareceu que a social-democracia era coisa de sóbrios mas ricos nórdicos e protestantes. Portugal é um país de vícios e o maior deles todos é o Estado cuja omnipresença e omnipotência desafia a própria essência divina. Desde a luz que acendemos, ao que comemos, passando pelo que estudamos, pelos bancos onde fazemos empréstimos, ou pela pensão que gostaríamos ter no futuro, de uma forma mais ou menos evidente, directa ou indirecta, o Estado está lá, olhamos para a direita e vemos o Estado, viramos as costas e atrás está o Estado. A presença e o peso do Estado (já lhe chamaram Monstro) na sociedade não parece representar a forma como eu vejo uma sociedade livre, democrática e flexível. MFL não preconiza a diminuição do peso do estado que eu gostaria, por convicção ideológica ou por pragmatismo e sentido da realidade (os grandes vícios raramente se perdem), ou por uma mistura das duas coisas. No entanto, e dadas as circunstâncias actuais do PSD e do país e dados os candidatos à liderança do PSD, espero que seja ela a nova líder do PSD.
Espero que MFL, caso ganhe a liderança do PSD, traga sobriedade, acutilância, bom senso, seriedade e credibilidade a um terreno plástico, inconsistente e aleatório que hoje parece ser a política quer no governo quer na oposição. Eu quero acreditar nisso. Quero acreditar que MFL não vai fumar às escondidas atrás das cortinas, nem vai prometer em frente às câmaras de televisão que vai deixar de fumar, ou explicar que a sua má-disposição não tem a ver com o facto de ter decidido deixar de fumar. Quero acreditar que MFL não vai explicar se fumou charros ou não nem se gostou ou não do sabor. Não emitirá comunicados sobre se fez ou não uma sesta, não explicará se faltou a um compromisso de Estado por ter estado ou não num casamento de amigos, nem se deleitará com os concertos para violino de Chopin. Não tentará convencer-nos que fez quatro exames universitários num dia, que Domingo é um dia normal para tirar certidões, e que não percebe porque os registos da AR terão sido modificados. Nem nos obrigará a ver imagens suas a fazer joggings no Calçadão ou na Praça Vermelha. Esta certeza é muito reconfortante.
Sem querer desvalorizar a importância que é ter uma visão para o país que permita estabelecer as prioridades e elaborar um programa de acção realista e coerente quer para um partido do governo quer para uma oposição confesso que dadas as circunstâncias mais recentes, não consigo minimizar a importância da pessoa do líder e o lado mais sóbrio e algo austero de MFL não me deixam indiferente.