Neste Domingo que passou fiquei admirada por estar tanto tempo sentada em frente da televisão a ver um programa “cultural”. Não me acontece com frequência tal coisa. Os programas culturais normalmente têm o condão de, mais cedo ou mais tarde me aborrecerem ou irritarem, por isso já nem me preocupo em vê-los ou em saber quem quem é o convidado, qual é o tema de que programa. Neste Domingo enquanto zapava já naquele impulso de “ah, não há nada, desliga-se” apanhei o Câmara Clara com António M. Feijó e Vasco Graça e Moura a falar de Shakespeare e fiquei a ouvir. O programa estava a começar e não era sobre Shakespeare, mas sim sobre Grandes Romances de Amor em que se pedia a cada um dos convidados para levar alguns romances e falar sobre eles. Nunca resisto a nada que tenha a ver com romance quando sinto o séc. XIX por perto, (coisa que considero inevitável quando se fala em romance), e por isso encostei-me para trás e deixei-me levar por aqueles dois amantes de literatura no percurso que cada um talhou com as escolhas que fez.
AMF e VGM falavam com uma voz tranquila e baixa, opinavam, teciam relações, encontravam referências, ajustavam ideias e nada era complicado, obscuro ou rebuscado, só transparecia a simplicidade de quem se deixa levar pelo verdadeiro prazer da leitura de cada uma das obras, a vontade de mostrar os caminhos que elas abrem, de pousar o olhar de uma ou de outra forma. Foi bom relembrar umas, querer ler outras e sobretudo foi bom tentar perceber porque se perde tanto tempo a ler tralha e mais tralha com tanta boa literatura que passou o teste do tempo e das modas a merecer ser (re)descoberta e desvendada. O paraíso poderia (também) ser algo parecido com aquilo. As poucas interrupções e gargalhadas de Paula Moura Pinheiro destoavam um pouco, não tanto pelo conteúdo, mas pela forma pois quebrava o ritmo e o tom que os convidados impuseram ao programa. Mas pior do que isso foram as ruidosas interrupções, sem aviso e no meio da conversa, de pura propaganda “cultural” a filmes, temporadas musicais ou concertos. Porque é que era preciso aquilo? Não é mais importante para a “cultura” saber passar o prazer de a usufruir do que cansar-nos com a lista exaustiva daquilo que vai acontecer, e que já todos tivemos oportunidade de ver e ler nos jornais e nos cartazes espalhados pelas cidades?
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AMF e VGM falavam com uma voz tranquila e baixa, opinavam, teciam relações, encontravam referências, ajustavam ideias e nada era complicado, obscuro ou rebuscado, só transparecia a simplicidade de quem se deixa levar pelo verdadeiro prazer da leitura de cada uma das obras, a vontade de mostrar os caminhos que elas abrem, de pousar o olhar de uma ou de outra forma. Foi bom relembrar umas, querer ler outras e sobretudo foi bom tentar perceber porque se perde tanto tempo a ler tralha e mais tralha com tanta boa literatura que passou o teste do tempo e das modas a merecer ser (re)descoberta e desvendada. O paraíso poderia (também) ser algo parecido com aquilo. As poucas interrupções e gargalhadas de Paula Moura Pinheiro destoavam um pouco, não tanto pelo conteúdo, mas pela forma pois quebrava o ritmo e o tom que os convidados impuseram ao programa. Mas pior do que isso foram as ruidosas interrupções, sem aviso e no meio da conversa, de pura propaganda “cultural” a filmes, temporadas musicais ou concertos. Porque é que era preciso aquilo? Não é mais importante para a “cultura” saber passar o prazer de a usufruir do que cansar-nos com a lista exaustiva daquilo que vai acontecer, e que já todos tivemos oportunidade de ver e ler nos jornais e nos cartazes espalhados pelas cidades?
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