“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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20.4.09

Da Apatia

Já passaram alguns dias sobre a divulgação na TVI deste vídeo. Enquanto o PS, o Governo e o Primeiro-ministro José Sócrates em particular “assobiam para o lado” (movendo processos contra jornalistas escolhidos a dedo e evitando nomes conceituados, influentes e pesados da crítica e comentário político), o país parece adormecido e já nem reage a algo que me parece merecedor de atenção, de rigoroso escrutínio, e de questionamento. A chuva caiu, o sol brilhou, o Presidente da República fez um discurso que incomodou, trocaram-se recados dizendo que não se recebem recados, os “momentos Chavez” sucedem-se, esconjuram-se os “bota-abaixistas” e a nefasta influência que exercem sobre o optimismo reinante de que “é com medidas que se combate a crise”, inventam-se medidas para combater a crise, fazem-se leis contra o enriquecimento ilícito, discute-se, o timing do anúncio pelo PSD do seu candidato às Europeias, discute-se o candidato himself que não é tão abrangente como deveria, que não é uma figura tão histórica como deveria, Jorge Sampaio falando disse que não falaria, Vital Moreira esclareceu que afinal poderá falar sobre política nacional e que afinal poderá votar Durão Barroso, o FCP ganhou, os preservativos continuaram a dar pretexto para que se fale deles, o vídeo de Susan Boyle fez sucesso na internet.

Quem olhe de fora para o nosso país nada vê. Estamos todos resignados e adaptados à possibilidade de um certo nível de corrupção na classe dirigente. Isso já não nos indigna, não nos revolta. Mais, até desculpamos (vejam-se os casos Fátima Felgueiras e afins) se forem populares e tiverem “obra feita”. Depois de rever o vídeo e me intrigar com esta apatia com que os portugueses o viram nos sofás das suas casas, porque será que não me intriga que se deixe ao poder discricionário de uma administração fiscal, e dos sentimentos (normalmente pouco nobres, louváveis e recomendáveis) que na altura moverem quem de direito, o poder de entrar pelas nossas contas bancárias dentro e saber de que matérias é feita a nossa vida.

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