“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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15.5.09


Depois de uma semana arredada da actualidade – tanto quanto nos é permitido, claro, e do blogue li agora no Público online esta notícia, só com exame psicológico será possível tirar ou revalidar a carta de condução, que me tranquilizou pois me demonstrou que afinal é verdade, não é só uma suspeita minha: o país caminha impávida e serenamente para o absurdo. Repito: absurdo. Já não falo da crise económica que o governo combate com medidas contra “bota-abaixismo”, do desemprego que se resolve com formações e parcerias inventadas em mesas de reunião, da segurança que sai à rua em força no dia a seguir a distúrbios, das “alegadas pressões” aos magistrados do caso Freeport em que José Sócrates é, alegadamente, suspeito, da “delação” de quem se incomoda com pressões; já não falo da Europa que não se discute, das eleições e do financiamento dos partidos, do PSD que sobe nas sondagens, das hesitações de Alegre, dos “momentos Chavez” do Primeiro-ministro que se sucedem para as televisões a um ritmo diário iludindo-nos com “medidas”, da crescente presença mediática e com sucesso de Paulo Rangel (aquela escolha duvidosa e tão criticável – e criticada - de Manuela Ferreira Leite), do recente silêncio de Pedro Passos Coelho.

O país caminha para o absurdo porque ninguém pára para pensar, porque não se deixa que o tempo seja bom conselheiro, porque se perdeu o norte, porque não se distingue o essencial do acessório, o que é norma do que deve ser excepção, porque na ânsia de se querer ser politicamente correcto se legisla de qualquer maneira sem olhar as consequências, porque não se preza a liberdade individual e se permite que o estado nos vá, a pouco e pouco, estreitando numa camisa de forças. Um destes dias nem estrebuchar podemos. Psicólogo para tirar a carta? E para ser político e Primeiro-ministro? E para ser médico? E para ser gestor de um Banco? E para ser magistrado? E para ser professor? E para ter filhos? E para casar (homo ou hetero)? E para comprar casa?

Está tudo doido?
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