“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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22.9.07

Ratos, baratas e lagartos 3

E minhocas também; vi-as ontem na sua jaula numerada.

Corro o risco de ser radical ou de exagerar, mas não consigo impedir-me de pensar que nestes casos, de pessoas que voluntariamente e em troca de uns minutos de fama, de um frigorífico, uma viagem, ou de um outro prémio, se degradam publicamente, estamos perante uma forma de prostituição. O verbo prostituir tem a ver com conceitos como expor-se, levar à degradação, desonrar (uma consulta a dois dicionários confirmou-o) e estes conceitos são amplos. Habituámo-nos a pensá-los em termos sexuais, de tal forma que hoje socialmente um(a) prostituto(a) é aquele que se degrada, desonra e se expõe vendendo favores sexuais, e sobretudo habituámo-nos a condenar socialmente (e hipocritamente) tal prática, mas degradar-se, expor-se, abdicar da dignidade e da honra, é mais do que uma questão de venda de favor sexual. Prostituir-se tem a ver com a pessoa humana na sua integridade e nas suas múltiplas facetas, nomeadamente a intelectual. Parece que a integridade intelectual não só não é identificada como nem sequer é valorizada, pois televisões, concursos e demais programação dos canais genéricos, livros, jornais, revistas, músicas, e todo o universo subreptício de marketing ao serviço dos mais variados interesses, nomeadamente dos políticos, vivem tantas vezes da exploração da estupidez humana, da tontice e dos instintos mais básicos que impedem o momento de reflexão e os dois breves momentos que podem despoletar o espírito crítico bem como a noção do ridículo. Também parece que para o divertimento convém esquecer as faculdades mentais. Por isso todos os dias vejo os ratos, baratas, lagartos e minhocas, ajuizados nas suas jaulas à espera que uma mão os visite e tire o envelope que tão zelosamente guardam. Isn’t it fun?

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