Nunca um verão foi para mim tão mau de leituras como este. Ao contrário do habitual, muni-me de romances recentes, comprados de propósito para serem lidos logo, quase todos num impulso guiado por uma vontade de ler boas histórias (algumas na História) descomplicadas, que me prendessem e que não exigissem muita concentração. Capas luminosas e apelativas e que tivessem para cima de duzentas páginas. Ao contrário de alguma tendência que vejo nas livrarias, provavelmente ditadas por interesses comerciais, que normalizaram o romance de cento e poucas páginas, eu gosto de livros grandes ou de romances que se declinam em vários livros grandes (Guerra e Paz nunca me assustou, bem pelo contrário) e de pensar que me vão embalar por uns tempos. Talvez porque prefira continuar a ler do que começar a ler. As primeiras páginas de um romance são sempre as mais difíceis, e acabar um livro de que se gosta revela-se sempre uma perda, uma espécie de luto. Comprar livros para os ler logo de seguida não é um gesto habitual em mim, embora às vezes aconteça. Compro-os normalmente porque gosto, para os ter, um dia, lê-los ei. Gosto de os deixar passear pela casa, numa espécie de estágio a fazerem-se desejados (“apprivoiser”, parece ser uma boa palavra) antes de os colocar na estante. Este verão nada disso aconteceu, sem me dar conta alterei os rituais e o olhar sobre os livros na livraria, dos quatro que comprei só acabei um,
Escape From Amsterdam
outra coisa rara pois mesmo quando o romance não me agrada totalmente tento lê-lo até ao fim. O que acabei não me agradou especialmente, mas talvez fosse o único com uma escrita de alguma qualidade, algum humor e originalidade, mas nem por isso o recomendo. Para atenuar a frustração peguei nuns volumes antigos das aventuras de Hercule Poirot, pois Agatha Christie é sempre um valor seguro, e diverti-me a reler histórias que já nem lembrava.