Há uns anos tinha a mania que não gostava de Picasso, coisa de pouca duração porque em frente da Guernica rendi-me à evidência da sua genialidade, quase malgré moi, e apartir daí foram outros os olhos que olharam. Quando pensava que não gostava de Picasso dizia-me, no entanto, admiradora de Dali e de Miró. Tenho ao longo do tempo sido constante no meu gosto por Dali, admiro e “acho graça” à sua imaginação, ao delírio, à metáfora, à ousadia, o seu querer chocar-nos, e também o facto de saber desenhar bem (tal como Picasso).
Miró é um caso distinto. Como com tanta coisa na vida também com Miró o meu olhar mudou, e o que era já não é. Assim hoje, em frente dos seus quadros, de todos os formatos, de todos os tamanhos e de todas as cores, o espanto foi muito: aqueles fios (linhas, curvas?) compridos e pretos com bolas nas pontas e outras bolas maiores, com ou sem olhos (?) espalhadas pela tela, às vezes com côres primárias, outras mais acizentadas ou simplesmente a preto e branco, deixaram-me surpreendentemente indiferente. Nem gostei nem deixei de gostar. Aquela linguagem pareceu-me vazia e irrelevante. Um ou outro quadro talvez tivessem provocado um “que giro!” mental, algo que é verdadeiramente insuficiente e banal. O desconforto da desilusão, pois se eu percebo que se “aprenda a gostar” de uma qualquer manifestação de arte, já me é muito mais dificil perceber o contrário, talvez porque menos usual, e perceber que se desaprenda de gostar ao ponto da indiferença. Porque é que o feitiço se perde, porque é que a leitura, o sentir e a adesão se modificam assim afastando-nos?
Miró é um caso distinto. Como com tanta coisa na vida também com Miró o meu olhar mudou, e o que era já não é. Assim hoje, em frente dos seus quadros, de todos os formatos, de todos os tamanhos e de todas as cores, o espanto foi muito: aqueles fios (linhas, curvas?) compridos e pretos com bolas nas pontas e outras bolas maiores, com ou sem olhos (?) espalhadas pela tela, às vezes com côres primárias, outras mais acizentadas ou simplesmente a preto e branco, deixaram-me surpreendentemente indiferente. Nem gostei nem deixei de gostar. Aquela linguagem pareceu-me vazia e irrelevante. Um ou outro quadro talvez tivessem provocado um “que giro!” mental, algo que é verdadeiramente insuficiente e banal. O desconforto da desilusão, pois se eu percebo que se “aprenda a gostar” de uma qualquer manifestação de arte, já me é muito mais dificil perceber o contrário, talvez porque menos usual, e perceber que se desaprenda de gostar ao ponto da indiferença. Porque é que o feitiço se perde, porque é que a leitura, o sentir e a adesão se modificam assim afastando-nos?